segunda-feira, 7 de junho de 2010

A LUTA DE DANIEL PARA MANTER A ADORAÇÃO AO DEUS DO CÉU

Daniel 6
Estamos perante o último capítulo narrativo do livro do profeta Daniel, o qual também apresenta o fim de uma progressão de acontecimentos que visavam a qualificação do profeta para o que Deus lhe reservava.
Na realidade, este capítulo marca o fim das tentativas levadas a cabo por Satanás para que o profeta não estivesse qualificado para o quanto Deus tinha para anunciar à humanidade nos capítulos que se seguem e que compõem a secção profética. Assim, recapitulemos os precedentes capítulos: no 1º, encontramos a prova da comida consagrada aos ídolos, a qual foi rejeitada. No 2º, Daniel é, por arrastamento com todos os magos, os encantadores e os adivinhos da corte babilónica, condenado à morte. No 3º, os amigos de Daniel são postos à prova, em relação à adoração daquela grande estátua que representava o rei, permanecendo firmes na sua fé. No 4º, a soberania de Deus é vindicada. No 5º, o anúncio final de Babilónia literal; No estudo de hoje, veremos a derradeira prova passada pelo profeta para manter intacta a sua adoração unicamente a Deus, ainda que para tal arrisque a sua vida. Na realidade, o tema de hoje é, diremos nós, a matriz do quanto, posteriormente, nos admoestam as Escrituras: - “Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como um leão, buscando a quem possa tragar” – I Pedro 5.8.

I- O rei
O relato bíblico dá-nos que, Dário, o Medo, o novo ocupante do trono de Babilónia, tem 62 anos – Daniel 5.31. Muito se tem debatido acerca da sua verdadeira identidade, no entanto, segundo o historiador Judeu Flávio Josefo, revela que a este rei “os Gregos dão outro nome” , nome que, segundo alguns, poderá ser Gubaru, o governador de Gutium e também de Babilónia. O detalhe da menção da sua idade, segundo o texto bíblico, dá-nos a conhecer um homem maduro e com bastante sentido de liderança. Este, para uma melhor administração do reino irá nomear 120 sátrapas.

II- Os administrativos
O rei, segundo o texto bíblico, irá nomear para a chefia destes sátrapas, três outros príncipes, dos quais Daniel fazia parte. Em relação a estes últimos, o rei pensou em Daniel para “constituí-lo sobre todo o reino” – Daniel 6.2,3.
Na realidade, onde existir o ser humano, o germe da discórdia poderá acontecer por diversas razões. O texto em lide revela-nos que os colegas de Daniel começaram a nutrir sentimentos menos próprios a seu respeito. Um deles – a inveja. Daniel tinha sido recompensado pela sua fidelidade e a sua posição hierárquica era superior à dos outros. A segunda - a hostilidade. Esta é igual à que os injustos sentem contra os justos. Anteriormente, nas Escrituras, podemos ver um exemplo desta mesma situação – os irmãos de José o detestavam porque ele não era como eles – cf. Génesis 37.2-4
No entanto, o texto em causa mostra-nos perfeitamente a causa do desagrado dos irmãos de José a seu respeito, assim como o de Daniel, em relação as seus correligionários. Ora vejamos:

a) Daniel - a nomeação destes diferentes governadores e respectivos príncipes acima destes, dos quais Daniel era o mais importante, visava unicamente o bem-estar do rei – “para que o rei não sofresse dano” – Daniel 6.2b. Naquela elevada posição, a tentação de se apropriar de poderes e afins, para os quais não tinham sido autorizados, estava sempre presente. E, acima deles estava o incorrupto Daniel!

b) José - No texto inerente à pessoa de José, podemos encontrar, de igual modo, o mesmo ambiente, muito embora em circunstâncias diferentes. Nestes versículos citados, encontramos uma das razões dó ódio que os seus irmãos nutriam por ele. Porquê? Porque contava ao seu pai o que se passava com os seus irmãos – tal como nos é dito: - “José trazia uma má fama deles a seu pai” – Gén. 37.2b. Portanto, quem gosta que acerca de si se digam verdades, quando estas falam contra nós? Ninguém!

Ora, quem não é por nós é contra nós; nesta qualidade, nada há a fazer a não ser eliminar o obstáculo – o bem. Estes, na corte de Babilónia, irão tentar colocar em prática um plano visando a desgraça de Daniel. Mas como fazê-lo? Estes olhavam para ele mas “não podiam achar ocasião ou culpa alguma; porque ele era fiel e não se achava nele nenhum vício nem culpa” – v. 4. Que perfil! Mas quem era Daniel? Um deus ou um ser humano que, um dia, como veremos mais adiante, simplesmente, nascera de novo? Na realidade não passava de um homem, um simples mortal, como os demais. A este propósito, certa vez, uma multidão quis divinizar Paulo, chamando-o pelo nome do deus pagão Mercúrio, e a Barnabé o de Júpiter – Actos 14.12. Sem qualquer hesitação, estes disseram, corrigindo tal intenção: - “Varões, por que fazeis estas coisas? Nós também somos homens como vós, sujeitos às mesmas paixões (…)” – v. 15; Tiago 5.17.
Portanto, a exemplo dos demais, tanto Daniel no passado, como Paulo e Barnabé, não passavam de simples seres humanos, tal como qualquer um de nós, nada mais.

III- A subtil mentira
Como não podia acusá-lo fosse do que fosse e como o seu pérfido propósito era anular Daniel, pensaram em algo que corresponderia ao que tanto desejavam – que o profeta caísse em desgraça perante o rei.
Em termos humanos nada existia que maculasse este homem, a não ser que lhe toquemos em algo que este nunca abdicará – a sua fidelidade para com o seu Deus. Na realidade, foi assim que pensaram ao reconhecerem que “nunca acharemos ocasião alguma contra este Daniel, se não a procurarmos contra ele na lei do seu Deus” – v. 5. Que testemunho da verdade! É desta forma que Deus justifica os Seus servos e obriga o mundo, contra a sua vontade, a dar-lhes testemunho.
Se bem pensaram, melhor irão fazê-lo. Sabiam que todos os homens têm um preço – ou da sua fé, ou da sua bajulação. E, cientes destes dois parâmetros vão aliciar o rei usando o segundo estratagema – a bajulação humana! Estes irão agir hipocritamente lisonjeando a pessoa do rei; e, sob o pretexto de reforçar a sua autoridade e, sem que o rei se apercebesse do que estava em causa, consegue arrancar do monarca um decreto que tem como substrato o tema da – adoração – ligada à sua religião!
O teor do decreto era “qualquer que, por um espaço de trinta dias fizer uma petição a qualquer deus, ou a qualquer homem e não a ti, ó rei, seja lançado na cova dos leões” – v. 7. O decreto fora assinado pelo rei. E o que iria acontecer agora com Daniel? As Sagradas Escrituras revelam-nos que o profeta “quando soube que a escritura estava assinada, entrou em sua casa e, como antes costumava fazer, de joelhos, orava e dava graças, diante do seu Deus, três vezes no dia” – v. 10. Iria fraquejar? Tanto no passado, como no presente, o conselho, a admoestação é a mesma que fora dada a este homem de Deus, ou seja “a perseverança na oração é uma necessidade; que nada se interponha entre vós e este dever”. Na realidade nada tinha mudado na vida deste homem fiel em relação ao seu Deus.
O profeta não se escondeu para continuar a orar ao seu Deus, pois “havia no seu quarto janelas abertas” – v. 10. Daniel sabia o que era a oração: 1- para o profeta, “orar, é abrir a Deus o seu coração como se faria a um amigo mais íntimo”; 2- por outro lado ao reconhecer que nada era sem o auxílio de Deus e buscava-o através deste meio por que “a oração é, na mão da fé, a chave que abre os tesouros do céu onde estão os recursos infinitos do Todo-Poderoso”. A constância deste servo de Deus será denunciada ao rei, visto que tal postura era contrária ao que estava lavrado no decreto, sob estas palavras: - “Daniel, que é um dos transportados de Judá, não tem feito caso de ti, ó rei, nem do édito que assinaste, antes três vezes por dia faz a sua oração” – v. 13. Já, no passado recente, desta vez com os amigos de Daniel – no episódio da fornalha ardente – os que os denunciaram têm, curiosamente, a mesma fraseologia: - “Há uns homens judeus que tu constituíste sobre os negócios da província de Babilónia (…); estes homens, ó rei, não fizeram caso de ti; a teus deuses não servem, nem à estátua de ouro que levantaste, adoram” – Daniel 3.12. Como a história se repetiu no passado, de igual modo se repetirá no futuro, “e foi-lhe concedido que desse espírito à imagem da besta para que também a imagem da besta falasse, e fizesse que fossem mortos todos os que não adorassem a imagem da besta” - Apocalipse 13.15. Repetimos, aqui, tal como no passado, o contexto é o mesmo – a adoração unicamente ao verdadeiro Deus!


IV- O rei
Em função desta denúncia é que o monarca se apercebe do quanto estava, não somente na mente dos seus pérfidos cortesãos como também na base daquele édito real – não a sua real e elevada pessoa, mas o aniquilamento do indesejável e incorrupto transportado de Judá - Daniel!
Este tentará tudo por tudo para revogar a sua própria lei, mas sem sucesso – v. 14! Na realidade, os seus decretos eram infalíveis e irrevogáveis, tal como se encontra noutro texto do Antigo Testamento – “a escritura que se escreve em nome do rei e se sela com o anel do rei, não é para revogar” – Ester 8.8.
Assim é, todas as vezes que o homem se diviniza. A pretensão humana à infalibilidade é, ainda hoje, um dos maiores obstáculos à liberdade cristã e ao desenvolvimento espiritual. A este propósito, que nos seja permitido abrir um pequeno parêntesis acerca da pretensão de um poder – Roma papal - que, nos capítulos a seguir, como veremos, o profeta denunciará:
- A 20 de Junho de 1868, pela bula Aeterni Patris é convocado um Concílio – o Vaticano I – que funcionou de 08 de Dezembro de 1869 a 20 de Outubro de 1870. Este Concílio, o da supremacia da autoridade papal sobre os bispos, irá culminar na afirmação de que, ao papa pertence a última interpretação da Tradição e das Escrituras! Este pode, desta forma, proclamar com toda a legitimidade um dogma na qualidade de – Vicarius Christi (Vigário de Cristo) – nesta Terra! O papa, ciente do seu poder, irá aprovar o polémico decreto que consagra a famosa – infalibilidade – do Sumo Pontífice Romano, ou seja, a sua!
Finalmente, mas sem unanimidade, este último dogma é aprovado como sendo oriundo de Deus! Eis o seu articulado: - “Apresentamos e definimos como dogma divinamente revelado: que quando o Pontífice Romano falar – ex cathedra – isto é, quando, excedendo o seu cargo de Pastor e de Doutor de todos os cristãos, ele defina, em virtude da sua suprema autoridade apostólica, se uma doutrina sobre a fé ou sobre os costumes deve ser seguida pela Igreja Universal, está dotado pela assistência divina prometida na pessoa do bem-aventurado Pedro, desta infalibilidade de que o divino Redentor quis que a Sua Igreja fosse provida, definindo uma doutrina sobre a fé ou sobre os costumes; e, por consequência, que tais definições do Pontífice Romano são irreformáveis por si próprias e não em virtude do consentimento da Igreja”.
O rei nada mais pode fazer a não ser inclinar-se perante a lei que ele próprio promulgara e, com tristeza ordena o cumprimento da lei. Dário mostra respeito e interesse pelo Deus de quem Daniel era servo, ao qual chama de “Deus vivo” – v. 20. Ele sabe por que razão o profeta desobedece à sua ordem, visto que, ao mandar executar a sentença declarou: - “O teu Deus, a quem tu continuamente serves, ele te livrará” – v. 16. De novo Deus é colocado no Seu único lugar – o 1º na nossa vida. O mesmo, mais tarde, ao ser ameaçado pelas autoridades religiosas do Sinédrio, para não evangelizar no nome de Jesus, Pedro responderá: - “(…). Mais importa obedecer a Deus do que aos homens” – Actos 5.28,29.

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