quarta-feira, 23 de junho de 2010

A RAINHA PRUDENTE

Então o rei engrandeceu a Daniel, e lhe deu muitas e grandes dádivas, e o pôs por governador sobre toda a província de Babilônia, como também o fez chefe principal de todos os sábios de Babilónia. Daniel 2:48

Voltemos ao texto: - Na realidade, o rei deveria ter começado pela solução do problema, convocar aquele que melhor do que ninguém estaria à altura da resolução do mesmo, pois este tinha sido nomeado “principal governador de todos os sábios de Babilónia” – Daniel 2.48b – mas, devido à sua arrogância e orgulho próprio, não o fez! Assim, convocará os profissionais da magia e como estes não puderam ler a célebre escritura na parede, eis que intervém alguém que conhecia, perfeitamente bem, onde estava a solução do problema que tanto perturbava toda aquela gente.
Esta começa por recordar ao rei a experiência passado com o seu marido, ao dizer: - “há no teu reino um homem que tem o espírito dos deuses santos; e, nos dias de teu pai, o rei, o constituiu chefe dos magos, dos astrólogos, dos caldeus e dos adivinhos (…) ao qual o rei pôs o nome de Beltessazar” – v. 11,12b. (sublinhado nosso). Numa palavra – a rainha lembra ao monarca o quanto ele deliberadamente esqueceu - o profeta Daniel.

Mas, abramos aqui um breve parêntesis para abordarmos outra crítica ao livro do profeta Daniel. Esta refere que “as referências a diversos reis estão cheias de históricos. O rei Belsazar é filho de Nabónides e não de Nabucodonozor, como diz o texto”. 

Quem terá razão – a crítica ou o profeta Daniel? Na verdade, em termos biológicos, a rainha enganou-se, pois não era filho de Nabucodonozor mas de Nabonido, como vimos mais acima. Mas, teria sido um lapso de memória da rainha? Infelizmente não tem em conta o que a própria Bíblia, em particular, no Antigo Testamento, refere a este propósito!
Assim, reiteradas vezes, no Antigo Testamento, encontramos o hábito dos sucessores de um monarca importante, ao se referirem a ele, (aquele que está na origem desta monarquia), reiteram a sua filiação, sucessória e não biológica, ao apelidarem-no, carinhosamente, de “pai” - de todos os que lhe sucederam. Eis alguns casos bíblicos:

- Abiam é chamado filho de David (I Reis 15.3) – quando na realidade (geneticamente) é filho de Roboão (I Reis 14.31), consequentemente, neto de Salomão (I Reis 14.21), logo, bisneto de David!

- Asa é chamado filho de David (I Reis 15.11) - quando na realidade (geneticamente) é filho de Abiam (I Reis 15.8), consequentemente, neto de Roboão (I Reis 14.31), logo, bisneto de Salomão e trineto de David!

- Jeosafá é chamado filho de David (II Crónicas 17.3) - quando na realidade (geneticamente) é filho de Asa (I Reis 22.41), consequentemente, neto de Abiam (I Reis 15.8), logo, trineto de Salomão.

- Atila é chamada filha de Omri (II Reis 8.26) – quando na realidade (geneticamente) é filha de Acab (II Reis 8.18), consequentemente, neta de Omri (I Reis 16.28)!

Poderá o texto bíblico ser mais claro? Assim, o profeta Daniel não inventa ou erra quando fala sob o espírito de Deus.
Fechando o parêntesis: - Como poderia o rei esquecer, a não ser, deliberadamente, alguém que, não somente tinha um nome igual ao seu, (Daniel/Bel(t)essazar – Daniel 1,7; 4.8; 5.12 ; o rei /Belsazar [unicamente um (t) os separava], como também pelas altas funções que exercia no reino, pois não esqueçamos o título que tinha – “e o pôs por governador de toda a província de babilónia. (…) E Daniel estava às portas do rei” – Daniel 2.48,49.
Daniel, em face do conselho da rainha é obrigado a “recordar” o seu homónimo e chama-o à sua presença do rei. Mas, não deixa de ser interessante a maneira como o rei se dirige a Daniel: - “És tu aquele Daniel dos cativos de Judá?” – v. 13. Este tipo de “esquecimento” não é único nas Escrituras. O mesmo podemos ver, no passado, com o rei Saul em relação ao seu rival David! Saul, atacado pela doença, queria estar rodeado de alguém que fosse músico e este era o caso de David. Assim, a Bíblia refere que “Saul enviou mensageiros a Jessé dizendo: - envia-me David, teu filho” – I Samuel 16.19. E após uma boa experiência, o rei “mandou dizer a Jessé: - deixa estar David perante mim, pois achou graça aos meus olhos” – v. 22. Mas, depois do jovem David ter conseguido aquele êxito militar – matar o gigante Golias, o filisteu (I Samuel 17.1-10, 42-45,50) – e alcançar grande popularidade ao ponto de ofuscar a do rei, este último ao mandar chamá-lo à sua presença diz: - “De quem és filho, mancebo? E disse David: Filho de teu servo Jessé, belemita” – I Samuel 17.58. Compare-se esta pergunta com a do monarca de Babilónia – “És tu aquele Daniel dos cativos de Judá?” – Daniel 5.13; aqui, a exemplo do passado, o opositor é, conscientemente, esquecido por razões óbvias, não é verdade?!
Depois das apresentações feitas, de uma forma cínica diz: - “tenho ouvido dizer de ti que podes dar interpretações e solver dúvidas” – v. 16ª – continua, mas em tom de dúvida, a dizer: - “se puderes ler e fazer-me saber a sua interpretação, serás vestido de púrpura, terás um colar de ouro ao pescoço e no reino serás o terceiro dominador”- v. 16b (sublinhado nosso).
Este pequeno pormenor “terceiro dominador”, só reforça o quanto a este respeito já dissemos, ou seja, que Belsazar ocupava a posição de regente, em lugar do pai. Em conformidade com a posição que ocupava, não poderia, em abono da verdade, oferecer outra posição no reino a não ser a máxima, dentro das disponíveis, a que estava disponível – a 3ª posição! Ora vejamos: 1º- O monarca; 2º- O co-regente (Belsazar); 3º- Daniel.

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