quarta-feira, 14 de julho de 2010

ROMA OU BABILÓNIA

No final da primeira carta de Simão Petros, encontramos a seguinte saudação “A Igreja que está em Babilónia, eleita como vós, saúda-vos (…)” – I Pedro 5:13. Segundo esta informação, alguns comentadores dizem que Simão Petros residiu em Roma porque “na apocalíptica judaica do século I a Babilónia é uma figura de Roma, e Babilónia tem provavelmente este significado. Assim, o local de redacção da epístola é, presumivelmente, Roma, já que a ideia de que Pedro residiu em Roma durante algum tempo é confirmada a partir do século I”. Ou ainda, “Babilónia era o nome que os Judeus daquela época e os primeiros cristãos utilizavam quando queriam referir-se veladamente a Roma (…). Pedro, na sua primeira carta, faz uso deste pseudónimo”.
Esta saudação revela-nos, dizem, que o apóstolo habitou na cidade de Babilónia e que aí exerceu a sua actividade, mais que não fosse, de uma forma temporária. Mas, é preciso nos entendermos! Vejamos: no tempo de Simão Petros, a antiga Babilónia, no Eufrates, não tinha o mesmo brilho de outrora, mas existia. No entanto, para a Igreja de Roma, assim como para o nosso autor esta Babilónia significa: Roma. Babilónia é o nome místico de Roma, segundo as Escrituras - nada temos contra!
Mas atenção! Esta afirmação é perigosa! Vejamos: se se identificar Babilónia, neste caso, com Roma pontifical para ali justificar a presença de Simão Petros, então, tudo o que as Escrituras revelam acerca de Babilónia mística, se deverá aplicar, por uma questão de método e coerência, a esta mesma Roma pontifical, visto que o tal pontífice a habita! Assim, cremos estar a agir com elementar justeza! Eis como o Apocalipse se expressa: “A mulher, na sua fronte, tinha escrito um nome misterioso: Babilónia, a grande, a mãe das prostitutas e das abominações da Terra (…). As sete cabeças são sete colinas, sobre as quais a mulher está sentada” – Apocalipse 17:4,5,9.
Anteriormente já abordámos esta problemática quando falámos nas - duas mulheres do Apocalipse – as quais personificam duas Igrejas e, consequentemente, dois tipos de crentes. Continuemos: “Vi que a mulher estava embriagada com o sangue dos mártires de Jesus; e esta visão encheu-me de espanto” – Apocalipse 17:6. Este quadro sobre Babilónia, acrescentemos a seguinte exclamação apocalíptica: “Ai! Ai! Ó grande cidade, Babilónia, cidade poderosa! Uma só hora bastou para a tua condenação! (…). Então um anjo vigoroso levantou uma pedra, semelhante a uma grande mó, e lançou-a ao mar, dizendo: “«Assim, de uma só vez, será precipitada Babilónia a grande cidade, e não mais voltará a ser vista” – Apocalipse 18:10,21.
Ora, perante o exposto teremos que fazer a nossa opção: 1- Ou a Babilónia da epístola é a Babilónia que desapareceu, na Mesopotâmia, o que não faz qualquer sentido! 2- Ou esta Babilónia é Roma, com um retrato pouco animador e com uma promessa ainda não realizada! Logo, nada tendo a ver com Roma Imperial! Com qual ficar?
Claro que, se o nosso autor, porventura, chegar a ler estas linhas que acabámos de escrever, irá proclamar com todas as forças do seu ser que nós estamos a ressuscitar o cadáver do Concordismo!
Aqui, prezado leitor, Babilónia, ou é ela mesma ou é Roma! Se é esta última, então Simão Petros escreveu a sua carta de Roma, como facilmente se compreenderá! Mas se assim é, então que fazer quanto à Babilónia descrita nos textos do Apocalipse acima mencionados? Já não será a mesma Roma? Ou só é quando convém? Poderemos, teremos o direito de aplicar esta dualidade de critérios de interpretação? Se não é, como corolário do que vimos até aqui - Roma imperial - pois pertence ao passado longínquo, então será, obviamente - a Roma pós Império - a papal!
E se o é, então estamos em muito maus lençóis! Se o não é, então como se lerá ou interpretará a Bíblia? Quantos artifícios o ser humano, ou uma confissão religiosa, seja ela qual for, tem que engendrar para contornar, caso o consiga, o que é, francamente, incómodo!? Uma vez mais, nós preferimos ficar ao lado do texto, da coerência das Escrituras, isto é, no contexto do Apocalipse 17, ou seja, aqui, neste texto, Babilónia representa o que ela sempre foi o símbolo, biblicamente falando – confusão!

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