segunda-feira, 2 de agosto de 2010

SIMÃO BARJONAS

Se quisermos ser correctos, como, em sã consciência, poderemos explicar a primazia desta confissão religiosa, sobre uma outra qualquer sua congénere? Porquê a de Roma e não a de Antioquia, Constantinopla ou outra? A explicação que circula não é espiritual ou escriturística, mas só porque esta cidade era a capital do império – Roma!
Antes de abordarmos a nossa visão dos factos, passaremos a tecer breves comentários sobre o capítulo que tem por título - O Papa, o Anticristo do Apocalipse – que, na ocorrência, é o último do livro do autor. Aqui, para demonstrar o seu ponto de vista, na qualidade de sacerdote, o autor comenta o que um Pastor de outra confissão religiosa refuta da Primazia de Pedro. Vejamos:
1- Magistério: Direito ou Usurpação?
O autor declara que os Novos Movimentos religiosos “classificam o Papa como o Anticristo do Apocalipse”. Depois, diz que esta classificação é, nem mais nem menos, resultante da maneira “como é que se lê a Bíblia e se lê a própria história”. Tanto quanto nós saibamos, só existe uma única maneira de ler a Bíblia e a História! Sabe qual é, prezado leitor? É muito simples! O método é infalível! Isto é, ler realmente o que lá está – o documento - sem submeter o relatado às nossas convicções pessoais e ideias pré concebidas!
É assim que se faz em História: ler o documento, analisar o que lá se encontra e confirmar se o que sempre ensinámos, até ali, está conforme ao documento encontrado e lido! Só porque o conteúdo deste contradiz o nosso ensino, vamos rejeitá-lo ou adaptá-lo à nossa maneira de viver e de ensinar?! Isto é o que, infelizmente, se faz com demasiada vulgaridade! Só que esta atitude, nenhum ser vivente tem autoridade para praticá-la! Eis o método! E, por estranho que possa parecer, este método não é o que segue a confissão religiosa que ousa chamar a si o direito de catalogar tudo e todos! Claro, não à luz do que está escrito no tal livro, que, na ocorrência, é a Bíblia – a Norma. E porquê? Porque esta confissão religiosa, como temos vindo a ver até aqui, diremos que, para não sermos radicais, a quase globalidade das suas doutrinas, não tem base escriturística!
Portanto esta confissão religiosa está na mesma situação, ou pior, que as que cataloga e condena! Quem diria!
O autor denuncia um, entre outros tipos de interpretação – o Concordista. Mas, não é, por exemplo, este o método por excelência para o conhecimento e compreensão das Escrituras? Para que saibamos se a nossa interpretação está correcta, teremos, forçosamente, que a comparar com outros textos para que saibamos se determinada interpretação não contradiz o ensino dos demais profetas? Esta forma de proceder, repetimos, é praticamente desconhecida na confissão religiosa em causa! No entanto, prezado leitor, o conselho das Sagradas Escrituras é este mesmo! Ora veja: “Caríssimos, não deis fé a qualquer espírito, mas examinai se os espíritos são de Deus, porque muitos falsos profetas se levantaram no mundo” – I S. João 4:1.
O conselho é sempre o mesmo! Aconselha, manda EXAMINAR. Mas onde? Será a Tradição? O Magistério da Igreja? Unicamente as Escrituras! Como avaliar pseudo profetas a não ser pelas Escrituras? Que outro método haverá? Só nesta confissão religiosa é diferente! E porquê? Porque, tal como o dissemos, ela pensa que é, ela própria, o Método!
Mais adiante e sempre a condenar os pressupostos utilizados pelo referido Pastor e não concordando com a forma, segundo ele “historicista”, “concordista” de ver a Palavra de Deus, diz que o seu interlocutor “é pródigo em misturar alhos com bugalhos. A última vez que um Papa falou ex cathedra foi Pio XII sobre a doutrina da Assumpção de Nossa Senhora”.
Portanto, o nosso autor ataca um pretenso erro de interpretação com um outro ainda maior – com a doutrina da Assunção de Maria ao céu – já por nós analisada! Este é um dos casos em que se aplica o adágio popular: “Na casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”!
Logo a seguir e voltando a agitar o fantasma do Concordismo – o qual, como acima já o referimos, o nosso autor não gosta, (pois só os que usa é que são os correctos), condena-o uma vez mais! De seguida, refutando e tentando anular o comentário e respectiva interpretação que aquele Pastor faz do texto - S. Mateus 16:18 - acrescenta este pensamento impregnado de erudição interpretativa, semelhante à que temos vindo a destacar ao longo deste trabalho, a saber: “Não foi o Jesus histórico que pronunciou aquelas palavras sobre Simão, filho de Jonas, mas a Igreja de Mateus que as colocou na boca de Jesus (…)” (sublinhado nosso).
Só por este rasgo clarividente de interpretação das Sagradas Escrituras, facilmente deixa adivinhar que nunca se chegará a lado algum, em termos ecuménicos! Seremos só nós que não concordamos com tais afirmações gratuitas? Veja-se, a este propósito, o que outros afirmam, não nós, pobres historiadores! Somos informados que: “a palavra de Mateus 16:17 e seguinte é autêntica, ela foi pronunciada por Jesus (…)”. Ou este autor também é duvidoso? Nunca se sabe!
Que nos seja permitido abrir aqui um pequeno parêntesis: A este propósito realçaremos a maneira como o nosso autor interpreta as Escrituras. A este propósito e para mostrarmos, uma vez mais, a teimosia do autor em querer torcer as Escrituras, num dos seus escritos, para provar que o evangelho de S. Mateus foi escrito tardiamente, pega num relato deste evangelho que diz: “(…) a fim de que sobre vós caia todo o sangue do justo Abel, ao sangue de Zacarias, filho de Baraquias, que matastes entre o santuário e o altar.” – S. Mateus 23:35 (sublinhado nosso).
O texto de S. Mateus unicamente transcreve um outro do Antigo Testamento, que é: “O Senhor enviou-lhes profetas para que eles se convertessem (…). Então o espírito de Deus desceu sobre Zacarias, filho do sacerdote Jojada (…). Mas eles revoltaram-se contra ele e apedrejaram-no por ordem do rei no átrio do templo do Senhor (…)” – II Crónicas 24:19-21. (sublinhado nosso).
Ora, os dois textos apresentam um nome diferente para o pai de Zacarias! Assim, o nosso autor chega à brilhante (!) conclusão, aliás, semelhante às que já nos habituou, dizendo: “O mais natural é que se refira ao martírio de Zacarias perpetrado pelos Zelotas no ano 68 (…) o redactor-autor do evangelho refere com toda a certeza o mártir Zacarias do ano 68. Desta feita, as maldições de Jesus contra os fariseus de Mateus 23 não foram pronunciadas por Jesus, mas postas na boca de Jesus pela comunidade cristã de Mateus (…)”. (sublinhado nosso). É caso para perguntar: Como será possível chegar-se a tais afirmações? Já reparou na força, na convicção do nosso autor?! Apesar das meias certezas, sempre vai tirando as suas conclusões!
Façamos um quadro comparativo para vermos com mais realce as diferenças:
Fizemos algumas consultas para tentar saber a que Zacarias é que Jesus se refere, tendo em conta, como já o referimos que, segundo os textos, o pai deste aparece com nomes diferentes!
Como resultado das nossas consultas, apercebemo-nos que a questão nada tem de nova! Aliás, porventura haverá alguma coisa nova debaixo dos céus? Outros comentadores já pensaram na solução milagrosa apresentada pelo nosso autor, portanto, - em nada inédito! Mas, curiosamente, esta foi abandonada por várias razões:

1- O nome do pai, no texto de Flávio Josefo, não é o mesmo daquele que aqui é tratado.
2- O texto de S. Mateus, não contém a menor alusão a acontecimentos futuros, mas no passado, como por exemplo: “(…) que matastes”.
3- Jesus, ao citar o acontecimento, unicamente, apontava para todos os crimes perpetrados e mencionados desde o primeiro livro do Cânone do Seu tempo - (Génesis), até aos mencionados no último livro deste mesmo Cânone - (II Crónicas). Nota: (Noção de amplitude e conteúdo do Cânone já, por nós, abordada anteriormente).

Várias soluções são propostas para uma plausível explicação. Vejamos uma entre outras: “(…) algum copista a tenha inserido, por confusão, ou substituído o nome de Jojada por aquele que se lê logo no começo do livro do profeta Zacarias, crendo assim dar-lhe mais autoridade moral ou literária: “(…) Zacarias, filho de Baraquias (…)” – Zacarias 1:1
Portanto, quem poderá ter razão? Será, como já vem sendo hábito, que serão as conclusões apressadas e sem o mínimo de fundamento do autor! Este conclui, curiosamente, sem hesitação: “O mais natural é que se refira ao martírio de Zacarias perpetrado pelos Zelotas no ano 68 (…) o redactor-autor do evangelho refere com toda a certeza o mártir Zacarias do ano 68. Desta feita, as maldições de Jesus contra os fariseus de Mateus 23 não foram pronunciadas por Jesus, mas postas na boca de Jesus pela comunidade cristã de Mateus (…)”. Que o prezado leitor, em plena liberdade e sã consciência, possa também ter uma opinião sobre tais conclusões. Ora recordemos os postulados do nosso autor:

1- “O mais natural é que se refira “;
2- “refere com toda a certeza”;
3- “as maldições de Jesus (…) não foram pronunciadas por Jesus, mas postas na boca de Jesus pela comunidade cristã de Mateus”

Estas conclusões, repetimos, academicamente falando, são muito estranhas de perceber, de tão deficientes que são!
Sabe, prezado leitor, estas palavras do nosso autor avivam-nos a memória para uma pequena história que se conta acerca de uma personagem da historiografia portuguesa da segunda metade do Século XIX – Oliveira Martins.
Este homem muito dinâmico e versátil, conviveu com nomes bem sonantes da nossa praça das letras, integrando um famoso grupo conhecido por – Os Vencidos da Vida – nome, aliás, por ele dado! Este integrava nomes como: Ramalho Ortigão, Eça de Queirós, Guerra Junqueiro, entre outros!
Conta-se que Oliveira Martins quando escrevia a sua - História de Portugal – ia submetendo os diferentes manuscritos para apreciação, à pessoa de Éça de Queirós. Certa vez, ao escrever acerca do Fontismo, e em particular sobre aquele que deu origem a este slogan – Fontes Pereira de Melo (1818-1887), aconteceu algo de interessante!
A dada altura, o escritor, começa a descrever uma cena, hipoteticamente passada no gabinete do visado - Fontes Pereira de Melo. E, para lhe dar mais realismo, acrescentou: “Fontes Pereira de Melo, sentado na sua cadeira de cabedal, recostado para trás e, tirando um charuto, cortando a ponta do mesmo, acendeu um fósforo e começou a fumar; saboreava o charuto, lançando o fumo para o ar, calmamente (…)!
Conta-se, repetimos, que Eça, ao ler o referido manuscrito e, em particular o teor que acabámos de transcrever, parece que lhe escreveu, dizendo: “Mas, tu, Oliveira Martins, estavas lá a ver o que descreves? Estavas?!” Ouvimos, numa aula de literatura, repetimos, este episódio. Corresponde à verdade dos factos? Para aqui é o que menos importa! O que interessa é que, quanto a nós ilustra perfeitamente a citação referida pelo nosso autor!
Tal como Eça de Queirós perguntou a Oliveira Martins, de igual modo também o perguntamos ao nosso autor: Como é que sabe que “não foi Jesus que pronunciou aquelas palavras sobre Simão, mas sim a Igreja de Mateus, que as colocou na boca de Jesus”? O nosso autor esteve lá? A mesma pergunta se estenderá às fontes das quais o autor, eventualmente, se tenha recorrido para suporte de tais afirmações! Diríamos, com mais acerto, conclusões!
Para o nosso autor, repetimos, nada conta, em termos de métodos interpretativos, tais como: Historicismo, Literalismo, Concordismo; o que ele diz, isso sim, corresponde, infalivelmente, aos acontecimentos relatados na Palavra de Deus, como se tivesse sido, quiçá, testemunha ocular! O nosso autor é, pois, a última palavra! Compreendemos, contudo, e em certa medida o nosso autor, este não faz mais do que ser o reflexo do sistema religioso em que está inserido!
Não é assim que esta confissão religiosa faz? Como qualificar o método – ex cathedra? Assim somos informados: “Desta infalibilidade goza o pontífice romano(…) quando proclama, por um acto definitivo, um ponto de doutrina respeitante à fé ou aos costumes (...) deve-se aderir na obediência na fé a tais definições". Portanto este procedimento é aplicável unicamente ao pontífice romano, não ao nosso autor, por enquanto! Assim, as suas afirmações, tal como esta doutrina da infalibilidade, não é para levar a sério, pela simples razão que partem de postulados meramente humanos!
Portanto, se fosse verdade o que o autor refere acerca dos textos das Escrituras, perguntamos: Quem saberá quem disse o quê? Tudo se põe, dispõe e compõe a nosso belo prazer! Assim, como é que se chamará esta forma de interpretar as Escrituras? Certamente que isto não é INTREPRETAÇÃO mas sim MUTILAÇÃO do texto! Mas, quem somos nós para julgar!
Um outro exemplo é o que o autor refere acerca do famoso texto de S. Mateus: “Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a Minha Igreja (…).” S. Mateus 16:18 Mas, uma vez mais, sendo o autor a última palavra, esclarece: “Não foi o Jesus histórico que pronunciou aquelas palavras sobre Simão filho de Jonas, mas a Igreja de Mateus que as colocou na boca de Jesus”. Afinal, o que ele (Jesus) disse, não foi Ele que disse! Segundo este, tal como acabámos de ler, foi a Igreja quem as proferiu e as pôs na boca d’Ele! Em matéria interpretativa, estamos mais do que esclarecidos! Realmente, quem faria melhor!
Graças a Deus que o autor declara que: “A riqueza da Bíblia está nesta maneira multifacetada de abordarmos o mistério de Deus”. Isto porque diz, e muito bem, a nosso ver, que cada autor dos evangelhos vê, à sua maneira, os acontecimentos que envolveram Jesus. Assim, como resultado destas diferentes perspectivas, temos várias vertentes da vida do nosso Salvador. Um evangelho realça mais um aspecto; outro, o vê diferentemente, acrescentando este ou aquele pormenor, etc, etc. Para exemplificarmos o que queremos dizer, vejamos, o evangelho de S. Lucas. Este, por exemplo, é o único a relatar que, quando Jesus ao ser baptizado sai da água, ora e o céu se abre; ouve-se, logo de seguida, uma voz de aprovação do acto – cf. S. Lucas 3:21; é também o único a inserir a genealogia de Jesus (3:23) entre o Seu baptismo (3:21) e a tentação (4:1), enfatizando assim uma teologia tipicamente Paulina!
Dizemos isto para mostrar que, na diversidade, é que reside a complementaridade e também, em consequência, haverá muito mais luz sobre este ou aquele pormenor que um outro evangelista só relata muito ao de leve, sem detalhe! Vejamos outro exemplo bastante elucidativo. O evangelho de S. Mateus refere que Jesus, um pouco antes da Sua prisão, que o levaria ao Calvário, foi para o Getsêmani orar; enquanto que o de S. Lucas contém detalhes suplementares. Iremos mostrá-los através de um quadro comparativo e assim realçar as diferenças entre estes dois evangelhos:

Se virmos bem, acerca do que se passou, entre o tempo que Jesus os deixou um pouco à parte, e quando voltou, o evangelho de S. Mateus é omisso! Enquanto que o de S. Lucas sobre a mesma cena, já nos revela o que é que aconteceu naquele pequeno espaço de tempo entre as duas situações:

1- Precisa a distância a que Jesus se afastou;
2- O aparecimento de um anjo;
3- A agonia com que orava e o suor como sangue.

Portanto, repetimos, são estes pormenores que demonstram a riqueza dos evangelhos, que, neste caso, diz respeito a um aspecto do ministério de Jesus. Mas o mesmo se poderá dizer e fazer para qualquer ponto doutrinário, até porque é altamente temerário e perigoso elaborar um ponto de doutrina, unicamente, alicerçado num único texto das Escrituras! Portanto, quer queiramos, quer não, sempre, contrariamente ao que refere o nosso autor, nós temos o direito e o dever de proceder à comparação dos textos para que possamos realçar o seu todo harmónico!
Voltando ao nosso autor: Este termina o seu comentário ao dito Pastor acerca dos textos que, segundo os quais, demonstra que S. Pedro nada tem que ver com Roma e, muito menos, com o absurdo da titulatura de Papa – S. Mateus 16:16; 18:18; S. João 21:15-17. Pobre, dizemos nós, Simão Barjonas! Mal imaginaria ele que, um dia, iria estar na base de um reino temporal, algo que o seu Mestre nunca tolerou aos Seus contemporâneos ao tentarem entronizá-Lo como rei dos Judeus (político e espiritual) - S. João 6:15!
Finalmente, conclui que: “foi a partir deste texto de João 21:15-17 e Mateus 16:19 que o Concílio Vaticano I (1870) concluiu que Jesus deu autoridade própria a Pedro em relação aos outros Apóstolos com a respectiva sucessão deste primado no decurso da história”. (sublinhado nosso). Não queremos ser tidos como detractores ou demolidores do nosso autor; certos autores, mais inteligentes do que nós, a este respeito, nos dizem que: “nem a Escritura, nem a história da Igreja antiga não permitem fazer do primado romano um direito divino (…) nem justificam um tal princípio de sucessão”. Assim, para o nosso autor, o Concílio decidiu – está decidido – nem mais!
Ainda como nota final, acerca dos textos em questão, afirma: “que são redaccionais, isto é, não foram proclamados directamente pelo Jesus histórico, mas pelo Jesus apostólico que se confunde com a própria Igreja”. (sublinhado nosso). Poderíamos perguntar: 1- Em que é que o autor se apoia para fazer esta dicotomia em Cristo Jesus? 2- “Confunde-se com a própria Igreja”; mas qual Igreja? A confissão religiosa que o representa e conhece, ou a anónima, dita – Igreja primitiva – cândida e pura até, grosso modo, ao IV século d.C.?
Enfim, este conjunto de homens e mulheres “(…) que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus” – Apocalipse 12:17. Uma vez mais, prezado leitor, a abordagem é desigual, isto é, o que o Pastor disse ao interpretar sob este ou aquele método as Escrituras, seja qual for o resultado obtido, estará sempre incorrecto aos olhos do nosso autor, pois este é todo poderoso! Coitado de quem ouse refutar ou ter uma interpretação diferente, mesmo que apoiada nas Escrituras!
Queremos dizer com isto que continuamos a não saber por que é que os textos são puramente “redaccionais”; assim como não conseguimos adivinhar por que é que o autor, à luz de que pressupostos, diz ou escreve, com toda a convicção de que estes ditos não “foram proclamados directamente pelo Jesus histórico, mas pelo Jesus apostólico (…)”! (sublinhado nosso). Reiteramos o que acima dissemos: o autor estava lá para saber? Viu ou perguntou a alguém coevo?
Uma vez mais reiteramos a nossa total ignorância acerca deste malabarismo de palavras, deste manusear a gosto pessoal! Perguntamos: a que disciplina pertencerá? Histórica? Não certamente, porque o autor lhe tem horror! Concordista? Muito menos, porque vai ao sabor daquele que o usa! Liberalista? Também não, porque não se pode ser escravo do texto e, dever-se-á evitar a todo o custo, ser chamado de “literalista psicologizante”. Fundamentalista? Nem pensar, porque isso cheira ao mais baixo e redutor Protestantismo!
Então, qual é o método do autor? Diríamos que é o mesmo de sempre – o do sistema romano! Esta confissão religiosa, apesar de ser tida como qualquer outra, chama a si, inexplicavelmente, a primazia em matéria espiritual, de fé! Aliás como vem consagrado no Catecismo desta confissão, acerca da definição de Magistério: “O encargo de interpretar autenticamente a Palavra de Deus (…) foi confiado só ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade é exercida em nome de Jesus Cristo, isto é, aos bispos em comunhão com o sucessor de Pedro, o bispo de Roma”. (sublinhado nosso). Quer, o prezado leitor, algo mais estreito, chamar-lhe-emos de: teologia de funil! Pois é tacanha e redutora tal afirmação!
O nosso autor, à luz do teor do Catecismo e na qualidade de sacerdote desta confissão religiosa, está totalmente autorizado a interpretar as Escrituras como quiser e bem entender, visto estar “em comunhão com o sucessor de Pedro, o bispo de Roma”! Aliás, não foi sempre assim que fez, ao longo da sua triste história, a confissão religiosa que representa? Enquanto que este Pastor, quem é?! Segundo o Catecismo, este não está em consonância com o pretenso “sucessor de Pedro”, logo, sem qualquer autoridade para interpretar seja o que for e, muito menos, as Escrituras!
Como, prezado leitor, o dito poder de julgar os outros é tão efémero e subjectivo! Queira Deus que o nosso autor nunca tenha de exercer o seu ministério num país muçulmano; ali, em minoria, curiosamente, deixa de ser a – Norma - e, como tal, perde o direito de catalogar quem é seita e quem não é!
Já reparou, prezado amigo que, num país deste género, esta confissão religiosa, a ser tolerada não passa, agora neste preciso contexto, de uma seita como outra qualquer! Compreende agora melhor o que dissemos acerca das duas mulheres (Igrejas)? Deus fala, repetimos, de um remanescente, isto é, todo e qualquer que O aceitar como seu Salvador.

Bibliografia:
Joaquim Carreira das Neves, OFM, op. cit., p. 267 (Doutorado em Teologia, sacerdote e professor da Igreja Católica em Portugal)
Ibidem
Idem, p. 269
Idem, p. 273
Idem, p. 274
Oscar Cullmann, Saint Pierre, Disciple-Apôtre-Martyr, Neuchatel, Ed. Delachaux & Niestlé, 1952, p. 191
Joaquim Carreira das Neves, OFM, Jesus Cristo História e Fé, Braga, Editorial Franciscana, 1989, pp. 46,47
Flávius Josèphe, op. cit., 2ª parte, Livro IV, XIX, p. 813
Para pormenores da questão – cf. Manuel de Tuya O. P., op. cit., pp. 376,377
António Pinto Ravana, “OLIVEIRA MARTINS, Joaquim Pedro de” in Dicionário Enciclopédico da História de Portugal, Lisboa, Publicações Alfa, 1990, Vol. II, p. 56
Cf. Jorge Miguel Pedreira, “FONTES PEREIRA DE MELO, António Maria de”, in Dicionário Enciclopédico da História de Portugal, Vol. I, pp. 263-265
Catecismo, pp. 206,207, nº 891
Joaquim Carreira das Neves, OFM, op. cit., p. 274
Idem, p. 276
A expressão “tiro de pedra” equivale mais ou menos a uns 30 metros. Cf. Manuel de Tuya, O.P., op. cit., p. 425
Joaquim Carreira das Neves, OFM, op. cit., p. 285
Oscar Cullmann, Saint Pierre, Disciple-Apôtre-Martyr, p. 213
Joaquim Carreira das Neves, OFM, op. cit., p. 285
Cf. Idem, pp. 275,276
Catecismo, p. 36, nº 85

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