segunda-feira, 27 de setembro de 2010

MARIA E AS ESCRITURAS

Iremos, de seguida, examinar as Escrituras para nos apercebermos do ênfase que estas dão à mãe do Senhor Jesus. Vejamos:

a) S. Mateus 1 e 2 - O relato bíblico mostra-nos:

1- O sonho de José, quando este cogitava no seu coração em abandonar Maria, visto que estava grávida, mas não dele! - 1:18-25;
2- O relato da adoração dos Magos e entrega de presentes – 2:1-12;
3- O relato da fuga de José e Maria para o Egipto por causa da matança dos inocentes, por Herodes – 2:13-18;
4- Finalmente, regresso definitivo a Nazaré – 2:19-23.

b) S. Lucas 1:26-38,46-56 - Aqui encontramos:

1- Anúncio do anjo a Maria – 1:26-38;
2- A visita de Maria a Isabel – v. 39-45;
3- O cântico de Maria – v. 46-56.

c) S. Lucas 2:1- 52 - Aqui encontramos:

1- O nascimento de Jesus – v. 1-7;
2- Os pastores de Belém – v. 8-15;
3- A circuncisão de Jesus no 8º dia do Seu nascimento – v. 21
4- Apresentação do bebé no templo – v. 22-24;
5- Jesus no templo com os doutores da lei – v. 39-51.

No relato de S. Lucas existe um grande silêncio sobre a família de Jesus. Agora, com cerca de 12 anos, e segundo o costume, Jesus e os Seus pais adoptivos vem ao Templo. Interessante é o relato bíblico que descreve quando Maria encontra Jesus, no Templo; este, por lapso, ficou “perdido” em Jerusalém!
Maria e José, aflitos, procuram-no e vão encontrá-Lo no seio dos doutores. A reacção de Maria para com Jesus foi a de uma mãe, como outra qualquer, dizendo: “Filho, porque nos fizeste isto? Olha que Teu pai e eu andávamos à Tua procura” – S. Lucas 2:48. Jesus respondeu-lhes: “Porque me procuráveis? Não sabíeis que devia estar na casa de Meu Pai?” – v. 49. Note-se a dinâmica do texto: “Mas eles não compreenderam as palavras que lhes disse” – v. 50. (sublinhado nosso)
Perguntamos: será abusivo da nossa parte pensar que Maria se esquecera de que não fora mais do que um simples vaso escolhido para que a humanidade de Jesus fosse, em tudo, igual ao mais comum dos mortais? Este era, em suma, o único vínculo entre Jesus e Maria! Eis a necessidade, portanto, de Jesus repor a situação e demarcar, com muito amor e ternura, a fronteira que, naturalmente, os separava!

d) S. João 2:1-5,12 - Aqui encontramos:
Convidados para um casamento - Maria, Jesus e discípulos – nas bodas de Caná. Agora, Jesus tem cerca de 30 anos (cf. S. Lucas 3:23). A certa altura o vinho falta! Uma lacuna imperdoável!
Maria vai ter com Jesus e avisa-o da ocorrência. Maria pensava, se é que não estamos a exagerar, ter um certo ascendente sobre o seu filho Jesus. Este, por Sua vez, lhe diz: “Que temos nós com isso, mulher? A Minha hora ainda não chegou” – v.4. De novo, Jesus repõe as distâncias, realçando a condição humana de Maria. Esta , em função das palavras de Jesus, limita-se a dizer aos servos: “Fazei tudo o que Ele vos disser” – v. 5.

e) S. João 19:25-27 - Maria aos pés da cruz.
Lá do alto da cruz, Jesus exclama e ordena: “Mulher, eis aí o teu filho” – v. 26. Jesus não fez mais do que recordar e salvaguardar a precária situação social de uma viúva, entre as demais em Israel; entrega-a aos cuidados de João, visto que o filho, Jesus, já não a poderia ter a seu cargo.
O que encontrámos até aqui, como referências à mãe de Jesus, como pudemos ver, são tremendamente escassas! A partir daqui, o silêncio é total! Será este silêncio revelador de qualquer coisa, isto é, de nos mostrar qual o lugar e papel ocupado por esta piedosa mulher! Portanto, biblicamente falando, nada mais há de interesse a acrescentar acerca dela.
Quanto ao mais que dissermos, seguramente que estaremos a inventar ou a especular! Sem uma base documental sólida, que valor terão tais afirmações, ainda que extremamente piedosas?

Decretos Papais versus Escrituras
Agora, passaremos a tecer breves considerações, como resultantes da comparação entre o que realmente as Escrituras dizem e o que os decretos papais nos querem fazer crer e… aceitar como norma de fé!
Sabe-se, que o último livro da Bíblia – o Apocalipse – foi escrito quase no final do século I. Cremos, se é que não estamos a especular, que Maria já teria morrido e, por isso, caso fosse importante, se a sua Assunção tivesse ocorrido, certamente que a cristandade deveria ter sido contemplada com, pelo menos, um verso bíblico, a contar o facto, ainda que ao de leve se tratasse! Mas, não! O silêncio é total!
Dizemos isto porque, nas Escrituras, encontramos o relato de várias ressurreições e, se estas mereceram ser relatadas, será que a Assunção da mãe do Salvador deveria ser passada em silêncio? Esta terá menos mérito? Nunca!
Há, no entanto, alguns pormenores que gostaríamos de realçar quando comparamos as duas bulas papais, nas quais se estabeleceram os dois dogmas já referidos: 1- O da Imaculada Conceição de Maria, proclamado em 1854; 2- O da Assunção de Maria, em 1950. Perante tal, perguntamos:

1- Se não sabiam que Maria, a mãe do Salvador, era Imaculada; então os fiéis, até 1854, oraram a que santa? A Maria? Não certamente! Porque desconhecia-se, por completo, que sempre fora Imaculada!

2- Quase um século depois do 1º dogma, isto é, em 1950, é que esta confissão religiosa foi informada que Maria tinha sido, após “ter terminado o curso de vida terreno” elevada ao céu? Quem é que a elucidou? O Espírito Santo? Se for verdade, porquê só dezanove séculos depois da sua morte? Sem querermos ser do contra, convenhamos que é muito estranha a postura deste Espírito Inspirador!

3- Se só a partir de 1950 é que o 2º dogma foi oficialmente proclamado, então Maria intercedeu por quem, visto que, até então, era desconhecido o seu papel e função de mediadora, intercessora dos fiéis?!
Se os crentes só souberam, em 1950, de uma realidade anterior - a Assunção de Maria - então como conciliar este conhecimento tardio da - sua presença no céu - com o teor, por exemplo, das rezas que lhe foram, anteriormente, dirigidas, como por exemplo: o Terço e a Salvé Rainha? A quem estas foram dirigidas? Quem intercedia a favor de quem?

Graças damos ao Pai das Luzes, o Todo-Poderoso, o Deus Eterno, pela luz que podemos receber, caso aceitemos o quanto se encontra escrito nas Escrituras. Maria, os demais apóstolos e toda uma incontável multidão, repousam no pó da terra até que o Senhor Jesus venha, finalmente, em Honra e Glória, buscar todos os Santos (cf. I Tessalonicenses 4:15,16) e, com estes, Maria. A mãe do Salvador, repetimos, é digna de todo o nosso carinho e respeito; mas não podemos dizer ou ensinar, sobre o que, por muito piedoso que possa ser, as Escrituras fazem o maior silêncio! Por que se o fizermos, no mínimo estaremos a MENTIR – “ (…) para que em nós (Paulo e Apolo) aprendais a não ir além do que está escrito (…)” – I Coríntios 4:6.
Como se tudo isto não bastasse, veja-se o que diz o Catecismo acerca de Maria:

1- “Pela graça de Deus, Maria manteve-se pura de todo o pecado pessoal ao longo de toda a sua vida”;

2- “(…) Levou a Igreja a confessar a virgindade real e perpétua de Maria, mesmo no parto do Filho de Deus feito homem”. (sublinhado nosso).

Que dizer destas declarações, de pobres seres humanos, quando as comparamos com a infalível Palavra de Deus? Vejamos como a Bíblia responde a estas afirmações fantasiosas:

* Como acima dissemos, encontrámos Maria e José no Templo para cumprirem uma lei ritual mosaica, para oferecerem “(…) um par de rolas ou duas pombinhas” – S. Lucas 2:22-24. Ora para que servia esta exigência ritual? Vejamos o teor da lei em causa: “Se não tiver meios para oferecer um cordeiro, tomará duas rolas ou duas pombas ainda novas; uma para o holocausto; outra para o sacrifício expiatório (…)” – Levítico 12:6-8.
Sendo assim perguntamos: O sacrifício expiatório era para ficar limpa do seu fluxo de sangue (pós parto). E o holocausto, para que servia? Um ser imaculado, será que não estaria isento destes dois sacrifícios. Se Maria assim procede é porque desconhecia a sua condição de IMACULADA!
Cremos ser muito triste, como no caso de Maria, a ser verdade, que, sejamos uma coisa e que, ao longo de toda a nossa existência, nunca o tenhamos sabido! E quanto à postura de divina? Repetimos, a ser verdade tais postulados, que Deus, afinal é este?

* A Igreja declara que Maria se manteve pura! Leiamos o testemunho da própria quando declarou: “A minha alma glorifica ao Senhor e o meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador” – S. Lucas 1:47. (sublinhado nosso). Se reconhece a necessidade de um – Salvador – é porque é pecadora! (Ao fazermos esta afirmação, queremos dizer aquilo que Maria, ela mesma reconhece – isto é, que não é pura).
E ao reconhecê-lo, assim está em harmonia com a Palavra de Deus! Nesta encontramos a seguinte informação: “Todos pecaram e estão privados da glória de Deus” – Romanos 3:23 (sublinhado nosso); I Reis 8.46; Prov. 20.9; Ecl. 7.20; I João 1.8-10.

* A Igreja diz que a sua virgindade é “real e perpétua”! No entanto a Bíblia declara exactamente o contrário! Vejamos o texto bíblico que refere: “Mas não a conheceu (até) ao dia em que ela deu à luz (…)” – S. Mateus 1:25. (sublinhado nosso)

Que dizer deste último texto? Como é que se entenderá o que está escrito nas Sagradas Escrituras? Com todo o respeito que nos merece o texto, este refere que José, até ao dia do parto, respeitou-a. Mas, depois do parto, segundo o texto, manteve uma relação matrimonial como qualquer casal normal!
Como conciliar a norma divina com as declarações e doutrinas de homens? Quem terá razão? Uma vez mais, quanto a nós, reafirmamos, preferimos manter-nos ao lado das Escrituras – a Palavra de Deus.

Bibliografia:
É, pensamos, de toda a conveniência definir e precisar os termos. Assim, Ascensão – acto de subir pelos seus próprios meios; Assunção – elevação ao céu , mas não pelos seus próprios meios. Portanto, transportada pelos anjos.
Catecismo, p. 120, nº 493
Idem, p. 122, nº 499
Aqui o verbo conhecer é usado no sentido sexual. Cf. Fritz Rieneker e Cleon Rogers, Chave Linguística do Novo Testamento Grego, S. Paulo, Ed. Vida Nova, 1985, p. 2
Aqui a tradução dos Capuchinhos, por nós seguida, afasta-se, do original, ao traduzir: “E, sem que a tivesse conhecido, […] ela deu à luz um filho, ao qual pôs o nome de Jesus”. Portanto, foi omitida da tradução a partícula – eôs (até). Compreendemos a intenção: não contrariar o ensino oficial desta confissão religiosa! Teremos o direito de alterar o texto só porque este não diz o que gostaríamos que dissesse?

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