domingo, 3 de outubro de 2010

INFALIBILIDADE PAPAL

Como é que a palavra do homem pode suplantar a de Deus? É espantoso que um simples ser humano, pobre criatura mortal ouse dizer que é infalível! Mas, infalível em quê? Saberá dizer-nos, prezado leitor, em quê? Quanto a nós, com toda a humildade, reconhecemos, nesta matéria, a nossa total incapacidade!

1- O Dogma
Vejamos como o Catecismo interpreta a infalibilidade papal: “Para manter a Igreja na pureza da fé transmitida pelos apóstolos, Cristo quis conferir à Sua Igreja uma participação na Sua própria infalibilidade”. (sublinhado nosso). Ou “(…). A infalibilidade prometida à Igreja reside também no Colégio episcopal quando exerce o seu Magistério (…)”. (sublinhado nosso)
Que ainda nos seja permitido abrir um parêntesis, para perguntarmos: 1- Onde é que, nas Escrituras, nos é revelado, tal como o declara o Catecismo, que: “(…) Cristo quis conferir à Sua Igreja uma participação na Sua própria infalibilidade (…)”?; 2- Se, quanto a nós, as Escrituras são omissas na resposta à primeira pergunta, questionamos: quem tem o direito e a autoridade para afirmar o que o mesmo Catecismo refere tão categoricamente, a saber: “(…) A infalibilidade prometida à Igreja reside também no Colégio episcopal (…)” ?
Ora, se não são as Escrituras, então, por exclusão de partes, então são os homens! A ser verdade - visto assim o dizerem - que falam investidos de “autoridade”, a qual vai ao ponto de contradizer o que Deus anteriormente afirmou, por exemplo:1- “(…) para que em nós aprendais a não ir além do que está escrito” – I Coríntios 4:6; 2- Ou ainda: “De facto, não somos como tantos outros que mercadejam com a palavra de Deus” – II Coríntios 2:17; 3- Ou “(…) não procedemos com astúcia, nem adulteramos a palavra de Deus” – II Coríntios 4:2 – perguntamos: O que terá, prezado amigo, acontecido ao apóstolo S. Paulo? Será que:
1- S. Paulo estava enganado?
2- Será, por isso, um relato não inspirado?
3- Será que Deus se enganou, visto o ter inspirado?
4- Será que Deus está contra Ele mesmo, dando, posteriormente, a esta confissão religiosa, Sua dita continuidade, doutrinas contraditórias?

Só a Escritura Sagrada é a infalível Palavra
de Deus
O prezado leitor saberá responder, biblicamente falando? Uma vez mais, reconhecemos a nossa total incapacidade! De uma coisa temos a firme certeza: é de que Deus não está enganado, mas sim o homem! Pois este último quer anular a Palavra da Verdade, pela palavra dos Concílios e afins, apesar de dizer, para justificar tais actos, que tudo é feito sob a assistência do Espírito! Pergunta o leitor se temos provas de que Deus não se engana, mas sim o homem? Como simples humanos, não teríamos qualquer problema em o afirmar peremptoriamente! Mas que não sejamos nós a fazê-lo, mas as Escrituras! Vejamo-lo:
1- Quanto a Deus - Como a Palavra de Deus se explica a ela mesma, encontramos, noutro livro canónico, um reforço a esta mesma grande verdade, a saber: “na esperança da vida eterna prometida desde os mais antigos tempos pelo Deus que não pode mentir” – Tito1:2.
2- Quanto ao homem - Abramos as Escrituras e leiamos o esclarecimento que aqui se encontra: “Que importa se alguns deles não creram? Acaso a sua incredulidade destruirá a fidelidade de Deus? De modo algum. Deus é verdadeiro e todo o homem é mentiroso (…)” – Romanos 3:3,4.
3- Quanto à Palavra inspirada por Deus - Esta assim se expressa com toda a clareza: “Na verdade não há outro Evangelho (…). Mas ainda que alguém – nós mesmos ou um anjo do céu – vos anuncie outro evangelho, além do que vos tenho anunciado, esse seja anátema (excomungado)” – Gálatas 1:7-9.

Já reparou, prezado leitor, nas palavras veementes do apóstolo quando condena a frouxidão destes crentes? S. Paulo esclarece que, mesmo que fosse alguém de outra dimensão cósmica - um anjo – mesmo este, se tiver um outro evangelho que vá contra aquele que ele prega, então - o tal anjo - que seja excomungado, isto é, que não receba qualquer crédito no seio da Igreja! Perguntamos: Se no passado as coisas do espírito eram aferidas desta maneira, será que as normas, de lá para cá, já baixaram? E quanto à vontade de Deus? Será que esta está mais frouxa ou até, contraditória? Continuamos firmemente a pensar e a afirmar que não!
O Magistério da Igreja não se engana, claro que não, mas só quando explica e explicita a Palavra de Deus pela própria Palavra, porque se for através da palavra de homens falhos e “(…) pervertidos na sua fé” – II Timóteo 3:8, então nada condirá com nada e, infelizmente, é o que podemos constatar nas diferentes confissões religiosas quando comparamos os seus ensinos com o das Escrituras!
Perante tudo isto, cremos ser legítimo perguntar: Em matéria de fé, com quem ficar? Com a Tradição, com o Magistério, com a Infalibilidade papal ou com as Escrituras? Quanto a nós, tal como o temos afirmado, desde sempre, sem qualquer dúvida, permaneceremos ao lado da imutável Palavra de Deus, essa sim, infalível!
Vejamos, ainda dentro deste dito “poder” da infalibilidade papal, mais um dogma desta confissão religiosa! Desta vez, sobre a pessoa de Maria, que muito respeitamos – a mãe do nosso Salvador Jesus.

2- Maria e os Decretos Papais
Na Igreja de Roma, a figura de Maria ocupa um lugar de destaque, dando lugar ao culto mariano. Este culto irá passar por várias etapas, até ser alvo da ratificação papal.
Para que não houvesse qualquer dúvida, não só inerentemente à autoridade papal, como também à legitimidade do culto mariano, o Papa Pio IX (1846-1878), através da bula dogmática - Ineffabilis Deus - proclamou, em 1854, o dogma da Imaculada Conceição, do qual se transcreve um excerto: “A bem-aventurada Virgem Maria foi, no primeiro instante da sua conceição, por uma graça e favor singular de Deus omnipotente, em previsão dos méritos de Jesus Cristo, salvador do género humano, preservada intacta de toda a mancha do pecado original”.
Este Papa não fez mais do que continuar a política seguida até ali. Para que o leitor possa ter uma ideia da forte personalidade e consequente autoridade pessoal deste pontífice, em 1866, assim se expressou: “só eu sou o sucessor dos apóstolos, o Vicário de Jesus Cristo; só eu tenho a missão de conduzir e de dirigir a barca de S. Pedro; eu sou o caminho, a verdade e a vida. Aqueles que estão comigo, estão com a Igreja, aqueles que não estão comigo estão fora da Igreja, estão fora do caminho, da verdade e da vida”. (sublinhado nosso). Tanto quanto saibamos, só Jesus disse estas palavras acerca de si mesmo, nunca inerentes ao próprio homem, como facilmente se compreenderá: “Disse-lhe Jesus: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida»” – S. João 14:6. Que ilações tirar desta pretensão pontifícia, como qualificá-la?
Recorde-se que, no Concílio de Trento (1545-1563) as - sine scripto tradiciones (tradições sem base escriturística) - foram elevadas ao mesmo nível das Escrituras! Este Concílio foi produzido para calar as vozes discordantes da Reforma, visto que os livros Apócrifos faziam com que estas se levantassem contra Roma. Assim e uma vez por todas, ficaria decretado, finalmente, que todos os escritos - Inspirados e Apócrifos - constituiriam uma só Escritura! Pasme-se o céu!
A 20 de Junho de 1868, pela bula Aeterni Patris é convocado um outro Concílio – o Vaticano I – que funcionou de 8 de Dezembro de 1869 a 20 de Outubro de 1870).
Este Concílio, o da supremacia da autoridade papal sobre os bispos, irá culminar na afirmação de que, ao Papa pertence a última interpretação da Tradição e das Escrituras! Este pode, portanto, proclamar com toda a legitimidade um dogma na qualidade de – Vicarius Christi (Vigário de Cristo) – nesta terra! O papa, ciente do seu poder, irá aprovar o polémico decreto que consagra a famosa – Infalibilidade – do Sumo Pontífice Romano, a sua própria!
Finalmente, mas sem unanimidade, este último dogma é aprovado como sendo oriundo de Deus! Eis o seu articulado: “Apresentamos e definimos como dogma divinamente revelado: Que quando o Pontífice Romano falar - ex cathedra - isto é, quando, exercendo o seu cargo de Pastor e de Doutor de todos os cristãos, ele defina, em virtude da sua suprema autoridade apostólica, se uma doutrina sobre a fé ou sobre os costumes deve ser seguida pela Igreja Universal, está dotado, pela assistência divina prometida na pessoa do bem-aventurado Pedro, desta infalibilidade de que o divino Redentor quis que a Sua Igreja fosse provida, definindo uma doutrina sobre a fé ou sobre os costumes; e, por consequência, que tais definições do Pontífice Romano são irreformáveis por si próprias e não em virtude do consentimento da Igreja” (sublinhado nosso). Pobre Simão Barjonas se soubesse o que se tem passado e feito em seu nome!
Dentro deste contexto, em relação a Maria, só faltava dar um segundo passo. Agora, faltava a outra fase, isto é, para que as orações feitas à mãe do Salvador pudessem ter sentido e efeito! Pois, como e para quê fazer preces intercessórias a alguém, se ainda não subiu ao céu? Convenhamos que é de elementar raciocínio!
Assim, em 1950, quase um século depois, (mais vale tarde do que nunca), pela bula - Munificentíssimus Deus - o Papa Pio XII (1939-1958) proclama o dogma da Assunção da Bem-aventurada Virgem Maria. A ideia-força da bula está expressa nestas palavras: “Finalmente, (…) terminado o curso da vida terrena, foi elevada ao céu em corpo e alma e exaltada por Deus como rainha (…)”. (sublinhado nosso). Perguntamos: por que é que só um século depois é que esta confissão religiosa soube, pela pessoa do sei líder, que a mãe do Salvador tinha ido para o céu? E quem o revelou?! O leitor não sabe? Nós, desde já, de igual modo, confessamos a nossa total ignorância sobre tal fonte de tão estranha revelação!

Bibliografia:
Catecismo, p. 206, nº 889
Idem, p. 207, nº 891
Jose M. Bover, S.I., Teologia de San Pablo, 4ª ed. Madrid, Ed. Biblioteca de Autores Cristianos, 1967, p. 419
Catecismo, p. 120, nº 491
Alfredo Kuen, Je Bâtirai Mon Eglise, Vevey, Ed. Emmaus, 1967, p. 37, nota 33
Jean Louis Schonberg, op. cit., pp. 243-255
Idem, p. 261, nota 134
Charles Brutsch, La Clarté de l’Apocalypse, 10ª ed., Genève. Ed. Labor et Fides, 1966, p. 202
Catecismo, p. 219, nº 966

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