sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

A BÍBLIA E O SÁBADO

Cada confissão religiosa tem uma ou várias particularidades que a diferenciam das demais; a – Igreja Católica Apostólica Romana – não seria, de modo algum, excepção.
Mas, atenção! Uma coisa é inventar uma doutrina estranha e a ensinar ao mais comum dos mortais; outra é encontrar essa dita “doutrina” no Livro dos livros – as Escrituras!
Sob este título o autor, antes de refutar seu interlocutor, diz que: “os Adventistas do Sétimo Dia dão um valor especial ao Sábado (sétimo dia), uma vez que a Bíblia impõe o Sábado como dia sagrado instituído pelo próprio Deus. Para Ernesto Ferreira, seguindo sempre o seu historicismo fundamentalista (…)”. Por aqui se poderá adivinhar que qualquer diálogo de cariz ecuménico está, à partida, excluído!
O respeitoso prelado irá, de seguida, transcrever alguns textos apontados pelo interlocutor - Génesis 2:2,3 e outros – de onde este último conclui que:

1- “(…) O Sábado foi instituído cerca de dois mil anos antes de Abraão (…)”.

2- “Vemos, pois, que vinte séculos antes de haver Judeus já fora instituído o Sábado – para todos os homens”.

3- “E se o Sábado deve levar os pensamentos para o Criador, e se o Criador foi o próprio Cristo, concluímos que o Sábado é um dia eminentemente cristão”.

4- Portanto “a mudança do Sábado para o Domingo não foi operada por autoridade das Escrituras mas por iniciativa da Igreja de Roma”.

De seguida, para responder às conclusões do seu interlocutor, o nosso autor diz: “Interessa-nos fundamentar a mudança do Sábado para o Domingo à luz da Bíblia e também à luz da tradição mais primitiva, já expressa na própria Bíblia (…). E como Jesus Cristo não escreveu nada, não mandou escrever nada, mas apenas pregar, ensinar, baptizar, é a sua vida e o seu ensino que determina o futuro da Igreja e o seu processo histórico”.
Vejamos os textos que o autor cita para, tal como o afirma, para “fundamentar a mudança do Sábado para o Domingo à luz da Bíblia e também à luz da tradição mais primitiva, já expressa na própria Bíblia” assim como quanto a Jesus: “a sua vida e o seu ensino que determina o futuro da Igreja e o seu processo histórico”. Sigamos, portanto, o seu esclarecido raciocínio nestas duas vertentes:
a) Isaías 1:13
No propósito de desacreditar a sacralidade do Sábado, o autor chega ao extremo de apontar este texto de Isaías, para dizer que “já Isaías dava mais valor ao homem do que ao Sábado e às festas litúrgicas do templo” . Vejamos, em mais profundidade, a referência bíblica proposta que diz: “Não me ofereçais mais sacrifícios sem valor; o incenso é-me abominável; os Sábados, as reuniões de culto, as festas e solenidades são-me insuportáveis (…) estou cansado deles.” - Isaías 1:13 (sublinhado nosso).
Quanto a nós, e sempre dentro do ponto de vista do autor, tomaremos a liberdade de lhe dar uma ajuda para que se torne ainda mais hostil o clima contra a (aparente) observância do “Sábado”! Assim, já que o autor, para defender o seu ponto de vista cita o texto do profeta Isaías, nós tomaremos a liberdade de citar, dentro deste preciso contexto ritual, outros autores bíblicos. Como iremos ver, o formalismo tinha adquirido tal proeminência, que nada mais restava, ao professo povo de Deus, a não ser um culto formal e ritual, sem qualquer vida e significado, que prestavam ao Senhor! Vejamos:


• “O Senhor aboliu em Sião, festas e Sábados (…). “ - Lamentações 2:6
• “Aos seus divertimentos porei fim; às suas festas, às suas luas novas, aos seus Sábados e a todas as suas solenidades.” - Oseias 2:11,13 (sublinhado nosso)

Que extraordinário! Que a generalidade das confissões religiosas tente subverter os textos para dizer que o Sábado acabou, ainda o admitimos, pois não passam de pequenos desvios em defesa dos seus pontos de vista! Não num teólogo deste gabarito! Convenhamos que é muito forte! E porquê? Pela simples razão de que esperávamos, sinceramente, muito mais! Aguardávamos um raciocínio mais clarividente e totalmente incontestado, biblicamente falando…mas não, para desencanto nosso!
Repetimos: que por razões que nos ultrapassam se ponha em causa o Sábado no Novo Testamento, tal procedimento não nos parecerá lá muito estranho, visto que a maioria da cristandade diz que veio a este mundo, na pessoa de Jesus, um Deus diferente! Ou seja, veio proclamar um estilo de vida, ensinos e preceitos diferentes! Mas, para a ambiência do Antigo Testamento, convenhamos que é um bocado forte, a todos os níveis, até por que, mais que não fosse, o povo vivia sob uma teocracia, apesar dos seus constantes desvios, quer pela parte dos sucessivos monarcas, quer por algumas largas franjas do povo! Mas, mesmo assim, para lembrar estes constantes desvios, Deus irá falar através dos profetas para corrigir estes e outros devaneios religiosos.
Curiosamente, segundo o autor, ao citar o texto do profeta Isaías e outros, Deus coloca ponto final, não nos “desvios” à pureza religiosa, mas, na liturgia sabática! Será verdade? Será só aparência? O que é que, finalmente, se está a passar? Antes de avançarmos para a profundidade dos textos propostos, convinha não esquecer, desde já, que o profeta fala em - rituais e festividades judaicas! O culto prestado desta forma, não passava de uma mera formalidade exterior, em que o coração do devoto não estava lá! E este contexto era uma realidade, tal como o nosso autor o sabe! Por isso deveria tê-lo tido em conta, antes de avançar para conclusões precipitadas! Estamos a ser incorrectos e, até, exagerados? Pensamos que não!
Vejamos, pelo menos, um texto do mesmo profeta que reflecte este mesmo clima mental e perante o qual o profeta se insurge: “ O Senhor disse: Já que este povo se aproximou de mim só com palavras e me honra só com os lábios, enquanto o seu coração está longe de mim e o culto que me presta é apenas humano e rotineiro” – Isaías 29:13 (sublinhado nosso). Deus não quer uma adoração ”faz de conta”, como se costuma dizer! Mas esta era, infelizmente, a única que o povo estava continuamente a oferecer a Deus! Será que os textos por nós acrescentados, assim como os do autor, concorrem para a destituição da sacralidade do 7º dia da semana – o Sábado - como quer fazer crer? Cremos que não!
Estas palavras amargas do próprio Deus nada têm que ver com a dessacralização do Sábado – 7º dia da semana – mas, unicamente porque, tal como já o dissemos, em termos de adoração cultual, já nada tinha sentido - era uma religiosidade aparente, exterior - nada mais!
Saiba, prezado leitor, que não estamos sós neste raciocínio! Certos autores, ao comentarem esta vontade de Deus, através do profeta – expressa por palavras duras contra a forma cultual do povo – acrescentam o seguinte: “Estes textos não podem significar que os profetas tenham condenado os sacrifícios que se ofereciam (…). Os profetas se opõem ao formalismo dum culto exterior, ao qual não correspondem as disposições do coração.”
Assim sendo, de que tratam os textos acima referidos? De que Sábados? Do Sábado (7º dia da semana) ou de dias rituais de descanso (feriados), “que calhavam em qualquer dia de semana.”? Para já, não esqueçamos que a palavra – Sábado – tem, na língua hebraica, o sentido de “descanso, feriado”; repetimos, neste preciso contexto, nada tem que ver com o Sábado – 7º dia da semana – mas unicamente com os tais dias festivos que, eventualmente, poderiam calhar num 7º dia da semana – o Sábado! Esta pequena particularidade, se não for tida em conta, poderá levar a conclusões erradas acerca do quanto o profeta, emissário da vontade de Deus, quis transmitir! Neste caso presente, se insere a conclusão do autor em causa, quando cita o texto de Isaías para consolidar a sua crítica!
Se observarmos os textos até aqui analisados, de uma forma atenta, vemos que, quer no texto bíblico de Lamentações ou no de Oseias, “a palavra – mô’ed (festa) – encontra-se ao lado do Sábado ou da lua nova (Lamentações 2:6 e Oseias 2:11,13), como se, para distinguir, estivessem reservadas às festas anuais – cf. Levítico 23:37,38.” Assim, vejamos uma particularidade no livro do Levítico que, a nosso ver, confirma e reforça o que dissemos até aqui a este respeito, isto é, a diferenciação entre Sábados rituais e o Sábado – 7º dia da semana! Vejamos os textos:
1- “são estas as solenidades do Senhor que vós celebrareis como convocações santas, oferecendo sacrifícios ao Senhor, holocaustos e oblações, vítimas e libações, segundo o rito de cada dia.” – Levítico 23:37.
2- “Independentemente dos Sábados do Senhor, dos vossos dons e de todas as vossas ofertas votivas ou voluntárias com as quais prestareis homenagem ao Senhor.” – v. 38.
Se repararmos bem, as festividades são assinaladas independentemente do dia em que tenham lugar. Mas recordemos o interessante pormenor do v. 38. “Independentemente dos Sábados do Senhor (…)”. Porquê esta referência e precisão? Não será para que não haja qualquer confusão entre uma festa ritual e a sacralidade inerente ao Sábado – 7º dia da semana? Pensamos que sim.
Deus assim o definiu para marcar a diferença existente entre estas duas formas de cultuar a Deus, porque “(…) sublinham o carácter religioso do Sábado que é «para Jeová» - Levítico 23:3; o «Sábado de Jeová» - Levítico 23:38; o dia «consagrado a Jeová» - Êxodo 31:15; que Jeová, ele mesmo «consagrou» - Êxodo 20:11. Porque o Sábado é sagrado e que ele é um sinal da Aliança, a sua observância é um compromisso de salvação – Isaías 58:13,14”
Perguntamos: qual o fundamento da crítica avançada pelo autor, ao dizer, à luz do texto de Isaías, anteriormente citado, que “o profeta já dava mais valor ao homem do que ao Sábado”? Só temos uma resposta: Nenhum! Tal como pudemos ver, o texto apresentado unicamente está relacionado com a mentalidade e formas de actuar descritas, tal como o revela o seu contexto! Não tem, de modo algum, o sentido que, o autor em causa, quer que tenha! O que o autor pretendeu fazer, tirando o texto do seu contexto, não foi interpretar, mas sim mutilar o texto!
Sempre dentro deste mesmo clima mental, lutando contra a banalização da forma de adorar o Senhor, o profeta Joel faz coro com o quanto vimos do profeta Isaías, vejamos: - “Mas agora ainda, - diz o Senhor, convertei-vos a Mim de todo o vosso coração, com jejuns, com lágrimas e com gemidos. Rasgai os vossos corações e não as vossas vestes. Convertei-vos ao Senhor, vosso Deus, porque Ele é bom e compassivo, clemente e misericordioso, Inclinado a arrepender-Se do castigo que inflige.” Joel 2:12,13
De tal maneira retratava o Seu povo que, mais tarde, o próprio Jesus irá citar o texto do profeta Isaías, para condenar a hipocrisia dos fariseus, aplicando-o ao Israel do Seu tempo, ao dizer: “Hipócritas! Muito bem profetizou Isaías a vosso respeito, ao dizer: (…)” – S. Mateus 15:7. Assim como no passado, Jesus denunciava a presente forma de cultuar a Deus, classificando-a de “culto farisaico, de lábios e teatral, mas não de coração”.
E nos nossos dias? Será que as coisas mudaram substancialmente? Ou será que se passará a mesma coisa? Seremos cristãos só por que os nossos antepassados abraçaram, aderiram esta ou aquela confissão religiosa cristã? E, já que deveremos aderir a uma, então, de preferência, que esta seja maioritária, para não parecer mal, nem termos problemas, a diversos níveis, por exemplo, socialmente falando! Por que não? Não é, ainda nos nossos dias, bastante cómodo, a todos os níveis, que declaremos pertencer à confissão religiosa da maioria?
Para não adorarmos somente de uma forma exterior, tal como o profeta o denuncia, então deveremos examinar a Palavra de Deus e não somente ouvir os homens, por muito doutos que sejam e por muito respeito que nos mereçam!
Seguir Jesus, prezado leitor… é isto mesmo! É colocar a Sua vontade em primeiro lugar na nossa vida. É “correr o risco de uma vida que é tão dolorosa como o caminho de um condenado à morte (…); seguir Jesus, é, para todos, estar pronto a seguir o caminho solitário e a sofrer o ódio da comunidade”. É Isto, prezado leitor, o que significa ser verdadeiramente cristão e não seguir esta ou aquela confissão religiosa sem qualquer sentido!
b) S. Mateus 12:1-3
O autor transcreve na totalidade este trecho bíblico para nos dar a conhecer, na qualidade de leitores, a forma como Jesus irá responder aos fariseus que acusavam os Seus discípulos de colherem e comerem algumas espigas, em dia de Sábado, por terem fome!
O autor cita, para reforçar a sua conclusão - S. João 5:1-18 e 9:14 - dizendo: “Assim sendo, Jesus destrói por completo a sacralidade do Templo e a do Sábado. E por que é que Jesus usava o Sábado para fazer os seus milagres, de tal modo que recebia as críticas mais acervas dos Judeus? Precisamente pelo mesmo motivo. (…) É por tudo isto e não por iniciativa da Igreja de Roma, que se passa do Sábado para o Domingo.”
Eis mais uma brilhante conclusão, entre as muitas do nosso autor! Se esta fosse feita por um qualquer colega nosso, historiador de mentalidades, ainda seria possível admiti-la, partindo do princípio de que esta não é a sua área específica do saber! Mas sendo a de um teólogo desta envergadura, um profissional de religião, confessamos que temos muita dificuldade em a aceitar! Por várias razões: em primeiro lugar, porque é muito ligeira e superficial; em segundo lugar, porque em nada corresponde à realidade dos factos!
Passaremos a explicar-nos. Eis o teor dos textos acima citados:

1- “Em certa ocasião, Jesus passava, num dia de Sábado,
através das searas. Os seus discípulos, que tinham
fome, começaram a arrancar as espigas e a comê-las.
Ao verem isto, os fariseus disseram-Lhe: Aí estão os teus
Discípulos a fazer o que não é permitido aos Sábados.
(…) E, se compreendêsseis o que significa: Prefiro
misericórdia ao sacrifício, não teríeis condenado os
que não têm culpa. O Filho do Homem até do Sábado
é Senhor.” – S. Mateus 12:1-8 (sublinhado nosso)

2- “Jesus disse-lhe: Levanta-te, toma o teu catre e anda.
No mesmo instante, o homem ficou são, tomou o
seu catre e começou a andar. Ora aquele dia era Sábado.
Por isso, os Judeus disseram ao que tinha sido curado:
Hoje é Sábado, não te é permitido levar o catre. (…)
Por isso, os Judeus perseguiram Jesus por Ele ter
feito tais coisas ao Sábado” – S. João 5:8-16 (sublinhado nosso)

3- “E era Sábado, quando Jesus fez o lodo e lhe abriu
os olhos. (…) Então, alguns dos fariseus diziam:
Este homem não é de Deus, pois não guarda o Sábado.” – S. João 9:14-16
Ora, o que é que estes textos revelam, prezado leitor? Pelo menos duas realidades, a saber: 1- Execução de várias tarefas; 2- Sempre no mesmo dia - no Sábado. E, curiosamente, em todas as tarefas e respectivos dias de ocorrência, Jesus é severamente criticado! É assim que os textos falam e nesta qualidade os aceitamos - nada mais!
Iremos ver, mais abaixo, o porquê das referidas acusações, para que compreendamos se está em causa o Sábado – 7º dia da semana – ou se tudo não passa, uma vez mais, de uma maneira de fazer jus a um puro formalismo ritual – tão somente isto!

c) Marcos 2:27
O autor começa por criticar o seu interlocutor E. Ferreira, quando o aconselha a citar integralmente o texto bíblico e não parte dele! Assim sendo, devido ao seu zelo escriturístico, este repõe o texto que o biblista adventista omitiu, que é: “O Sábado foi feito por causa do homem e não o homem por causa do Sábado. O Filho do Homem até do Sábado é Senhor.” Marcos 2:27,28
Depois acrescenta, como ponto alto da sua crítica, o seguinte: “É conhecido de todos que os novos movimentos cristãos fundamentalistas usam e abusam da Bíblia, buscando os textos e as partes dos textos que lhes convém; não utilizam toda a verdade do texto, mas apenas meias verdades do próprio texto.” (sublinhado nosso). Portanto, para já, como libelo acusatório, já temos quanto baste!
A ser verdade, cremos ser grave que alguém, apesar de ser embuído dos mais nobres ideais, use e abuse, a seu prazer das Escrituras, distorcendo-as! Mas, até ao presente momento, onde está o raciocínio ou os textos em que o autor se apoia para fazer tal afirmação? Não era este o seu propósito, previamente anunciado – desde o início?!
Mas, continuemos a seguir a sua exposição. Ao transcrever, na íntegra, o texto bíblico, conclui de uma forma magistral que, afinal “é o Sábado que está ao serviço do homem e não o contrário; logo, o que mais importa é o homem e não o Sábado. O Sábado fica sujeito ao homem, ele é que é sagrado e não o Sábado”! Mas, perguntamos: como é que o autor faz tal conclusão acerca do Sábado, se este não acredita no livro do Génesis, onde a referência a este dia se encontra pela primeira vez – no contexto da Criação?! Convenhamos, para já, que a sua conclusão é bastante estranha!
Abramos aqui um parêntesis: À luz do que ali está escrito, somos ensinados a partir do relato bíblico que, após ter sido criado o homem e a mulher, o sexto dia ficou concluído: “(…) assim surgiu a tarde e, em seguida a manhã: foi o sexto dia” – Génesis 1:31
Continuando a seguir o relato bíblico, encontramos algo que, no mínimo, nos deixa pasmados, no bom sentido! A Bíblia refere que: “Concluída no sétimo dia, toda a obra que havia feito, Deus repousou no sétimo dia, do trabalho por Ele realizado. Abençoou o sétimo dia e santificou-o, visto ter sido nesse dia que Deus repousou de toda a obra da criação” – Génesis 2:2,3. A que se referirá o autor do livro de Génesis? Por que é que Deus irá criar um dia vazio? Então, perguntamos: este dia para que servirá, se é vazio de criação? Mas, se olharmos bem para o texto, ele revela que: “Concluída, no sétimo dia, toda a obra que havia feito, Deus repousou no sétimo dia, do trabalho por Ele realizado”. Afinal, temos aqui a explicação nitidamente apontada: Deus criou um dia (Yom) vazio de 24 horas (tarde e manhã), um tempo para um determinado fim - para nele repousar!
Portanto, para já, mais que não fosse, já tínhamos uma razão de peso para aceitarmos o que o Senhor Jesus disse: “O Sábado foi feito por causa do homem (…)” – Marcos 2:27. (sublinhado nosso). O homem, afinal, após uma semana de trabalho, precisa de descansar! Mas a Bíblia não fica por aqui no seu esclarecimento a todo o leitor sincero. Assim, para nossa surpresa, no livro do profeta Isaías, resta saber qual deles se trata, visto que segundo certas escolas de interpretação, sendo o nosso autor um dos seus arautos, referem que este livro se divide em três partes: 1º, 2º e 3º Isaías , isto é:
a) Primeiro Isaías – Cap. 1 ao 39
b) Segundo Isaías – Cap. 40 ao 55
c) Trito-Isaías – Cap. 56 ao 66.

Não iremos, pois tal não é o nosso propósito, debruçar-nos sobre os critérios destas divisões e retalhos artificiais, meramente humanos, acerca do livro deste profeta! Num gesto unicamente de galantaria para com o autor, iremos fazer coro com as demais opiniões. Assim, na secção, dizem, inerente ao Deutro-Isaías - a que nos ocupa - encontramos uma afirmação, como já o dissemos, surpreendente a todos os níveis! Vejamo-la: “Não sabes? Não aprendeste que o Senhor é o Deus eterno, que criou os confins da terra sem nunca se fatigar ou aborrecer e cuja sabedoria é impenetrável?” – Isaías 40:28. (sublinhado nosso). Aparentemente, parece, existe uma contradição entre as duas afirmações bíblicas acima referenciadas. Mas vejamo-las mais de perto:
1- “(…) Abençoou o sétimo dia e santificou-o,
visto ter sido nesse dia que Deus repousou de
toda a obra da criação” – Génesis 2:3.
2- “(…) o Deus eterno, que criou os confins da terra
sem nunca se fatigar ou aborrecer e cuja
sabedoria é impenetrável?” – Isaías 40:28.
Então, prezado leitor, perguntamos nós: afinal, Deus cansa-se ou não? Deus repousou ou não? Em que ficamos? Se o prezado leitor reparar, o primeiro texto elucida-nos que Deus: “Abençoou o sétimo dia e santificou-o (…)”. Porquê a inclusão deste pequeno / grande pormenor? Será que esta informação anula a aparente contradição? Cremos, sinceramente, que sim, porque neste dia não existe trabalho ou descanso mas, unicamente o objectivo, a razão de ser da sua criação – para que nele e só nele, visto que este dia foi criado só para este efeito, a criatura louve o Criador!
Repare, prezado leitor, que não somos só nós a pensar assim! Eis as palavras, de um autor insuspeito, a propósito do texto de S. Marcos 2:27 “Se a criação do homem aconteceu no 6º dia e a instituição do dia de repouso o 7º dia, é porque a vontade do Deus Criador era que o dia do repouso sirva ao homem e seja para ele uma bênção”. Ou ainda “Deus «abençoou» este repouso e o «santificou» - e «santificar» significa que uma coisa foi colocada de lado para o serviço de Deus”.
Mas, dizíamos, temos ainda um outro elemento que ajudará e reforçará esta primeira conclusão. O relato bíblico afirma que o ser humano foi criado no sexto dia: “Façamos o homem à Nossa imagem, à Nossa semelhança (…) assim surgiu a tarde e, em seguida a manhã: foi o sexto dia” – Génesis 1:27,31. Ora se Deus “repousou no sétimo dia”, será forçada e abusiva a nossa afirmação de, a exemplo do Criador, o homem também tenha descansado nesse mesmo dia – o 7º (Sábado)? Cremos que não! Esta conclusão, implícita no texto da Criação, obriga-nos a formular a seguinte pergunta: - Que trabalho teria feito o ser humano para que precisasse de descansar, visto ter sido acabado de ser criado? A resposta é simples: NENHUM! Pois: “o primeiro dia da vida do homem sob os traços de um grande Sábado”. O Sábado é o primeiro dia completo do homem! Que extraordinário! A sua vida começa com louvor, não com trabalho!
Ora, se como acima acabámos de referir: “(…) Deus abençoou o sétimo dia e santificou-o (..).”, então quer dizer que este sétimo dia da semana – o Sábado – e não o 1º dia da semana – o Domingo - contém uma dimensão de Descanso físico, de Reflexão Espiritual e de Adoração ao Criador! Se virmos assim os textos, então, todos eles são coerentes entre si e, facilmente se compreenderão as palavras de Jesus, quando disse que: “O Sábado foi feito por causa do homem (…)”. Disse-o, quanto a nós, por duas razões:
1- Para que o homem descanse do seu trabalho efectuado desde o 1º dia da semana – Domingo – até ao 6º dia da semana – Sexta-feira – dia da preparação para o Sábado – cf. S. Lucas 23:54.
2- Porque este sétimo dia da semana – o Sábado – contém uma dimensão espiritual que a criatura – o homem - deverá estabelecer com o Deus criador.

Pelo menos é assim, segundo o nosso entendimento, que se expressa o autor do livro do Apocalipse, quando diz: “temei a Deus e dai-lhe glória, porque chegou a hora do seu julgamento. Adorai Aquele que fez o Céu e a Terra, o mar e as fontes das águas.” Apocalipse 14:7 (sublinhado nosso). Note-se que o acto de “adorar” implica reconhecer, à luz do texto, o Deus Criador. Ora, em cada Sábado, quando se entra nele, a exemplo de Deus, o crente deverá, não somente repousar, como santificar este dia ao entrar em comunhão com Ele, adorando-O, glorificando-O e exaltando-O na qualidade de – Criador – de tudo o que existe.
Quanto ao 1º dia da semana – o Domingo – que dimensão, no acto da Criação, comporta? Tanto quanto saibamos e que a Bíblia nos esclareça: NENHUMA! A única referência a este dia, de alguma nota, é que nas primeiras horas deste, Jesus ressuscitou! Dia que, até ao final do século I, nunca teve qualquer importância ou referência especial, a não ser como sempre fora conhecido até ali – o 1º dia da semana!
Por outro lado, o 1º dia da semana – o Domingo – de igual modo não é um dia para comemorar a ressurreição de Jesus, segundo as Escrituras! No entanto, contrariamente ao ensino bíblico, segundo alguns, este acto inaugura uma nova fase do cristianismo! Talvez, a este propósito, não fosse demais lembrar o que as Escrituras nos revelam acerca do que foi instituído para recordar e comemorar a Morte e Ressurreição de Jesus! Não foi, de modo algum, o 1º dia da semana - o Domingo - mas sim, o Baptismo (Romanos 8:3-5) e, de certo modo, a Eucaristia, isto é, a Ceia do Senhor (I Coríntios 11:24-26)!
Que ainda nos seja permitido chamar à atenção para o modo como esta confissão religiosa, que o autor representa, celebra a Eucaristia; já que falamos de desvios humanos colados aos claros ensinos das Escrituras, este é mais um, entre outros! Já reparou, prezado leitor, que o crente, você, só participa em metade da comunhão – só no pão! Muitos, talvez, dirão que, tudo isto é motivado por uma questão de comodidade! Que o sacerdote representa a parte pelo todo! Mas, se assim é, por que não o faz para ambos os símbolos – o fruto da videira e o pão?
Convém não esquecer que a ordem expressa por Jesus foi a seguinte: “Tomando a taça, deu graças e disse:«Tomai e reparti entre vós (…). Tomou então o pão e, depois de dar graças, partiu-o e deu-lho».” – S. Lucas 22:17,19. A plenitude da bênção é a participação nos dois emblemas da Eucaristia, não num só! Até nisto, esta confissão religiosa tem suplantado e modificado as directivas do próprio Jesus!
Não será muito mais seguro permanecer ao lado da Verdade, do ensino infalível da Palavra de Deus do que ao lado de uma confissão religiosa, cujo ensino e práticas unicamente estão alicerçados nas – Tradições e saberes humanos - por conseguinte, falhos! A este propósito, nunca será demais recordar um excelente excerto de um autor Judeu, Abraão Joshua Heschel, a propósito do Sábado como monumento do acto criador realizado por Deus: “ Um dos termos mais nobres da Bíblia é o qadosh (santo); um termo que mais do que qualquer outro representa o mistério e a majestade divinas. Perguntamo-nos qual foi o primeiro objecto santo na História do mundo: uma montanha? Um altar?
Na verdade, foi numa ocasião única que o termo qadosh foi empregue pela primeira vez: no livro do Génesis, no final da História da Criação. Como é significativo que ele tenha sido aplicado, de facto, ao tempo: Deus abençoou o sétimo Dia e tornou-o santo” – Génesis 2:3. Não há nenhuma referência no relato da Criação a qualquer objecto do espaço que seja revestido desta qualidade de santo.
O sentido do Sábado é celebrar o tempo, mais do que o espaço. Durante seis dias da semana vivemos sob a tirania das coisas do espaço; no Sábado tentamos pôr-nos em sintonia com uma santidade no tempo. É um dia em que somos convidados a participar naquilo que é eterno no tempo, a voltar-nos dos resultados da Criação para o seu mistério, do mundo da Criação para a criação do mundo.”
Quão verdadeiras são estas palavras; quão maravilhosamente é descrito este tempo que Deus criou para o homem; sim, para cada um de nós, para que neste preciso tempo de santidade possamos partilhar e louvar a Sua santidade – eis a razão de ser da criação vazia do 7º dia – nele só existe - o tempo - para o louvor, nada mais!
Espantosamente, no último livro das Escrituras encontramos um solene convite a todo o ser humano, que diz: “Temei a Deus e dai-lhe glória, porque chegou a hora do seu julgamento. Adorai Aquele que fez o Céu e a Terra, o mar e as fontes das águas” Apocalipse 14:7.
Eis o convite à adoração extensivo a toda a criatura. Só um Ser se reserva o direito de ser adorado pelas Suas criaturas – Deus! Sim o único que é capaz de dar vida, de dizer e de criar, tal como o reconheceu S. Agostinho ao exclamar: “Para Vós não há diferença nenhuma entre o dizer e o criar”. E, nesta qualidade, onde O podemos e devemos adorar? Em nenhum outro tempo, a não ser naquele tempo que constitui o – 7º dia – o único criado exclusivamente para este fim – o Sábado – cf. Génesis 2:2! Numa palavra, em síntese diríamos: em cada dia, do 1º ao 6º Deus criou diferentes coisas; no 7º dia, Ele criou – um dia pleno – para ser exclusivamente dedicado ao Louvor, à Adoração! Fechamos aqui o parêntesis.
Voltando ao texto de Marcos 2:27,28. Recordamos que este diz: “O Sábado foi feito por causa do homem e não o homem por causa do Sábado. O Filho do Homem até do Sábado é Senhor.” Assim pensamos, de igual modo! Assim tudo se encaixa perfeitamente, por várias razões inscritas no próprio texto:
1- “O Sábado foi feito por causa do homem”, claro - para que este homem possa nele Descansar, Adorar e
Louvar o seu Criador;
2- “Não o homem por causa do Sábado”, exactamente - porque este dia lhe é de posterior criação;
3- “O Filho do Homem até do Sábado é Senhor”. Nem poderia ser de outra maneira! E porquê? Porque - a Criação tem por base, tanto Ele (Jesus), como o Pai – cf. S. João 1:1; Colossenses 1:16,17.

Portanto, se virmos, para já, assim as coisas, tudo se clarifica e nada tem de estranho! Estranha, essa sim, é a explicação que o teólogo, o nosso autor, dá quando tenta corrigir a outra confissão religiosa, a que chama ostensivamente de: Seita! Esta, que cataloga tudo e todos, como poderá ser qualificada?
Como dizíamos, esta pensa ser detentora de todo o saber e poder, ainda acrescenta, como tendo a última palavra: “O sétimo dia tem a ver com a criação judaica das sinagogas, a partir do exílio da Babilónia, como necessidade imperiosa da catequese judaica, em dia de Sábado, para salvaguardar a fé judaica dos contactos com os pagãos”. Se é assim tão linear, perguntamos: e antes do exílio, não havendo sinagogas, não existiu o Sábado? Se existiu, desde quando é que este impediu a influência de costumes pagãos no seio do povo de Israel, tal como, por exemplo, o seu desrespeito? Continuamos a pensar que não! Vejamos:
1- Desrespeito do Sábado - Neemias 13:17-19; Jeremias 17:21-27;
2- Sacrifícios de humanos em honra de Baal – Jeremias 19:4,5,13;
3- Queima de incenso e libações à deusa Isthar (Astarte – Rainha dos céus) – Jeremias 44:16-19;
4- Profanação do próprio Templo, ali adoravam o Sol – Ezequiel 8:16.

Se o relato bíblico da Criação não passa, segundo este teólogo, de um “mito” ou de “uma ficção e que, devido ao seu género literário, nada tem que ver com dias literais ou dias cronológicos, mas com uma semana simbólica e litúrgica (…)”, então tudo é possível e cada um poderá ler as Escrituras como quiser, não é verdade? Será a aplicação do adágio popular: «Cada cabeça cada sentença»! Isto faz-nos recordar o que o livro de Juizes nos diz que se passava no seio do povo de Deus, a saber: “Naquele tempo não havia rei em Israel, e cada um fazia o que lhe apetecia” – Juizes 21:25. Não havendo Norma, cada um diz da sua lavra e tudo está certo, não é verdade?! Quem o poderá contradizer? Com que meios e com que autoridade?
O que é um mito, prezado leitor? Fernando Pessoa, no seu texto épico – Mensagem – na 1ª parte, no tema dos Castelos, quando descreve o tema de Ulisses, define-o assim: “O mito é o nada que é tudo.” . Então, se tudo é mitologia e afins, que dizer do texto histórico? Que pensar do Jesus de Nazaré, aquele que os relatos do Novo Testamento nos dão a conhecer? Como ousou este, por exemplo, responder à hipocrisia dos fariseus acerca do repúdio da esposa pelo marido, quando disse: “Por causa da dureza do vosso coração, Moisés permitiu que repudiásseis as vossas mulheres; mas ao princípio não foi assim.” – S. Mateus 19:8 (sublinhado nosso). Que queria Jesus dizer com as palavras - ao princípio? Que princípio seria este? Segundo o nosso autor, certamente que não terá que ver com o relato do Génesis - a Criação – pois tudo é mitologia! Então Jesus referia-se a quê? Quem souber que responda!
Quanto a nós, caríssimo leitor, preferimos ficar com as palavras de Jesus, visto que este não iria, para fundar e consolidar os Seus ensinos, basear-se em mitos e lendas, como facilmente se compreenderá, não é verdade?!

d) A Mishná

Até aqui, limitámo-nos a transcrever os textos, nos quais, Jesus e os seu discípulos foram criticados. Uma primeira pergunta vem, de imediato, à nossa mente: Qual era a fonte, a Norma, a Lei, à luz da qual, se sentiam no direito e dever de apontar o dedo ao Senhor? Estariam eles escudados em normas e preceitos bíblicos, portanto, de origem divina e, como tal, inalteráveis? Ou, pelo contrário, em directivas e preceitos meramente humanos?
Esta codificação – a Mishná - é, depois da Bíblia, o texto sagrado por excelência dos Judeus. Infelizmente, nem sempre esta para o Judeu ortodoxo, ocupou o seu lugar, isto é, - o 2º lugar! Eis a base, a dita norma, onde os judeus alicerçavam a sua pretensa autoridade!
Esta contém, para o tema que nos ocupa, as principais categorias de trabalhos proibidos, (segundo os homens), no dia de Sábado. Estes são em número de quarenta menos um, portanto, trinta e nove. Examinemos à luz da Mishná, o teor dos textos avançados pelo autor, para que conheçamos, verdadeiramente, até que ponto os fariseus tinham autoridade para apontar, tanto Jesus como os Seus discípulos, como prevaricadores, transgressores!

1– S. Mateus 12:1-8: Segundo o seu ponto de vista e interpretação dos textos, a acção: arrancar e debulhar as espigas, já estava sob a alçada da “dita” lei que denunciava as actividades proibidas ao Sábado! Para eles, arrancar ou ceifar eram sinónimos e, por isso, não fizeram mais do que passar à aplicação do quanto a norma humana preconizava! E quanto à Norma divina? Nada encontramos, o silêncio é total!
O nosso autor, omitiu todo o contexto! Afinal, mais acima, acusa o seu interlocutor de o não fazer, e incorre na mesma falta! Quando um texto é difícil, como o compreender sem o seu contexto? Assim sendo, recordemo-lo para que nos apercebamos da lição que Jesus dá, através dele, aos Seus opositores e assim enfatizar e clarificar a inocência dos Seus discípulos. Por outro lado, para que possamos compreender qual a razão, através da qual, o Mestre pôde dizer: “E, se compreendêsseis o que significa: Prefiro misericórdia ao sacrifício não teríeis condenado os que não têm culpa.” – S. Mateus 12:7.
O Mestre está a citar um profeta do Antigo Testamento – Oseias. Este disse: “Porque Eu quero a misericórdia e não os sacrifícios; o conhecimento de Deus mais que os holocaustos” – Oseias 6:6. Por outras palavras, o Salvador, ao citar o referido texto, está a dizer: - Porque é que olhais somente ao exterior, ao que não tem interesse?! A misericórdia e o conhecimento do vosso Deus, estes valores onde estão? Se os tivésseis compreendido, não teríeis condenado os que não têm culpa, neste momento, nesta situação! Estaremos a adulterar o texto, fazendo este dizer o que não diz? Continuamos a pensar que não!
Façamos uma análise mais atenta a S. Mateus 12:1-13, isto é, ao contexto que falta:
 Jesus relembra aos fariseus o ocorrido com David, dizendo: “Não lestes o que fez David quando sentiu fome, ele e os que estavam com ele? Como entrou na casa de Deus e comeu os Pães da Preposição, que não lhe era permitido comer, nem aos que estavam com ele, mas unicamente os sacerdotes?” – S. Mateus 12:3,4. (sublinhado nosso). Este episódio que Jesus recorda, aos fariseus encontra-se relatado em – I Samuel 21: 1-7.
 Que verdade queria Cristo realçar? O exemplo é claro: se David pôde saciar a fome com os pães reservados unicamente para os sacerdotes – uso santo –, então os Seus discípulos também podiam arrancar as espigas durante o – santo tempo de Sábado. Uma verdade para o homem está aqui exposta: pão e tempo sagrados! E, em ambos os casos, estes servem para ir ao encontro, aliviar as necessidades humanas!
 O contraste entre David e Cristo reforça a argumentação! Os que seguiam David eram homens de guerra, enquanto que os que seguiam Jesus não passavam de simples pescadores, homens de paz! Assim:
1- Para mitigar a sua fome, David come os pães sagrados para uso exclusivo dos sacerdotes, violando uma ordem divina (“Colocar-se-ão estes pães diante do Senhor continuamente, cada dia de Sábado, da parte dos filhos de Israel. Pertencerá este pão a Aarão e a seus filhos, que o comerão em lugar santo; porque é uma coisa santíssima que, das ofertas feitas ao Senhor, lhes é destinada (…)” – Levítico 24:8,9 ). Como tal, uma falta gravíssima! No entanto, fica isento de culpa!

2- Os discípulos “violam”, um preceito puramente humano (colher espigas), não divino, portanto, não comporta qualquer transgressão! Todavia, por estes, são repreendidos! o que não tem qualquer comparação com a pseudo falta provocada pela inocente acção de “colher espigas”!

 Jesus faz apelo a este acontecimento anormal – o caso de David! Este viola uma lei, um preceito de Deus, excepção aprovada por tantas gerações que lhe antecederam! Perante tal, Cristo conclui que, com muito maior força de razão, os Seus discípulos estão inocentes porque a acusação é baseada unicamente num mero, preceito puramente humano!
Assim – a exemplo de David – obedeceram à lei de uma necessidade superior – saciar a fome, viver! Jesus, na Sua infinita sabedoria apela, portanto, à mesma compreensão anteriormente exercida. Esta pseudo transgressão, em nada era comparável à falta cometida por David! Para uma falta gravíssima exerceram misericórdia; para uma outra, que o era, aparentemente, estes eram duros e inflexíveis!

Tendo em mente este contexto, Jesus chama a atenção dos Seus oponentes ao recordar-lhes o que fora ensinado pelo profeta: “porque Eu quero a misericórdia e não os sacrifícios (…)”. Se assim tivessem procedido, então “não teríeis condenado os que não têm culpa”, absolutamente!
Como corolário deste simples esquema de pensamento, podemos ver onde o Mestre alicerça a inocência dos Seus discípulos, assim como as Suas palavras de repreensão para com a pseudo religiosidade dos fariseus, ao acrescentar: “É vão o culto que Me prestam, ensinando doutrinas que são preceitos humanos” – S. Mateus 15:9.

2- S. João 5:8-16: Este relata-nos que o doente transporta a sua cama no dia de Sábado. O acto de “transportar seja o que for de um lugar para o outro” era proibido, em particular, ao Sábado. Esta era a letra e o espírito da lei humana! E quanto à norma divina? De novo, o silêncio é total!

3- S. João 9:14-16: Este fala-nos de um cego que Jesus curou. Só que o método usado pelo Mestre para tal cura, convenhamos, não foi o mais ortodoxo! O texto esclarece que Jesus: “(…) cuspiu na terra, fez lodo com a saliva e untou os olhos do cego.” – S. João 9:6
O que é que o texto nos diz? Um acto simples, embora não muito comum, como terapia para uma enfermidade! Nada mais do que isto! No entanto, segundo as directivas e preceitos humanos, seguidos a rigor pelos fariseus, Jesus, na dinâmica da Sua acção, irá cometer três delitos condenados, uma vez mais pela letra e espírito da lei rabínica:
1- Acto de cuspir;
2- Untar os olhos;
3- Colocar saliva de jejum nos olhos .

Jesus é condenado pelas leis rabínicas. E quanto à norma divina? De novo, o silêncio, nada mais!
O que é que pudemos analisar até aqui? Tanto Jesus como os Seus discípulos foram acusados de transgressores, não de qualquer norma ou lei divina, mas de uma série de preceitos – totalmente forjados pela mão humana – que envolviam o 4º mandamento da Lei de Deus: a guarda, a observância do 7º dia da semana – o Sábado.
Recordaremos, a exemplo do quanto vimos até aqui, uma outra lei que nada tem que ver: 1- Com qualquer ordem de Deus; 2- Com o 4º Mandamento - o Sábado! Enfim, é mais uma prescrição, tipicamente HUMANA!
Jesus encontrava-se no Monte das Oliveiras; ali se despediu dos Seus discípulos, visto que a Sua ascensão aos céus aproximava-se. Esta aconteceu e, agora, só restava, aos discípulos, empreender o caminho de volta para casa, para Jerusalém. Eis como o evangelista S. Lucas conta o ocorrido: ”Desceram então do monte chamado das Oliveiras, situado perto de Jerusalém, à distância de uma caminhada de Sábado, e foram para Jerusalém.” – Actos dos Apóstolos 1:12 (sublinhado nosso).
Neste texto encontramos uma particularidade: “(…) uma caminhada de Sábado (…). Perguntamos: 1- Que significado terá esta distância estipulada? 2- Onde é que Deus disse, ou se encontre escrito, sob Sua ordem que, num Sábado, só se podia andar uma determinada distância?
Assim, contrariamente à conclusão do nosso autor, Jesus não agia ao Sábado para anular a sacralidade do Sábado, mas, antes pelo contrário, para corrigir desvios humanos, recordando-lhes que as suas proibições não passavam de meros caprichos rabínicos, e que nada tinham que ver com o verdadeiro espírito e letra do 4º Mandamento – o Sábado do Senhor!
Esta foi a conclusão do Salvador e é a também a nossa. Acha que estamos a ser exagerados ou até “fundamentalistas”, tendo em conta os textos e os seus contextos, tal como acabámos de examinar? Onde cabe a conclusão, sem qualquer sentido, do autor, quando se observa o texto com a atenção que merece? Esperamos que o prezado leitor também possa formar a sua opinião! Não nas afirmações de quem o possa rodear mas, acima de tudo, no que possa ler nas Sagradas Escrituras!

e) Pormenores

O autor, continua a desenvolver o seu raciocínio contra o Sábado. Como estivesse em desespero de causa, vai dando mais alguns argumentos em defesa da sua tese que, sinceramente, já não sabemos se são ataques descabidos ao seu oponente ou se à simplicidade dos textos bíblicos sobre o assunto! Cita o seguinte texto das Escrituras, para apoiar o seu ponto de vista:
 “(…) frequentavam diariamente o Templo. Partiam o pão em suas casas e tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração.” – Actos dos Apóstolos 2:46.
 De seguida, como primeira conclusão acrescenta: ”era natural que fossem às sinagogas ao Sábado. Não admira que S. Paulo e os outros missionários cristãos frequentassem as sinagogas, mas não tanto por causa da observância do Sábado, mas para pregarem aos Judeus ali reunidos o novo caminho da fé em Jesus Cristo.”
Este texto e respectiva conclusão merece um breve comentário:
1- É de ficar pasmado que um teólogo de primeira água, como o nosso autor, faça semelhante declaração conclusiva! Então, se o crente tem uma nova fé que nada tem a ver com o Templo (Sábado / Domingo), continuará a frequentar este mesmo Templo e, ainda por cima, diariamente? Perguntamos: se o distinto autor se converter a uma qualquer confissão religiosa diferente da que professa, será que, a partir da dita conversão à nova fé continuará a frequentar – diariamente – a igreja à qual pertenceu, visto a ter abandonado por achar que não estava correcta? Convenhamos prezado leitor, qual o sentido de tal afirmação?
2- Depois, refere que S. Paulo e os outros missionários frequentavam as sinagogas; não por sentirem por elas ou pelo Sábado qualquer sentimento especial, (até por que, dizem, a observância deste dia tinha sido abolida por Cristo na cruz!), mas iam até lá com um único propósito – “pregarem o novo caminho da fé em Jesus Cristo”!
Aparentemente é somente um pensamento piedoso e que merece, por isso, todo o nosso respeito. Mas, raciocinemos um pouco: como fazer para evangelizar aqueles que não conhecem o que eu conheço agora, isto é, esta tal – nova fé? Não deverei eu ir ter com eles? Claro que sim! Mas, perguntamos: será que a realidade, os motivos eram, no caso de S. Paulo, os que o ilustre teólogo refere, para defesa da sua tese? O leitor terá ainda a caridade de nos acompanhar na leitura de dois textos que nos esclarecerão qual o propósito de S. Paulo? Vejamos:
• “(…) a um Sábado entraram na sinagoga e sentaram-se. Depois da leitura da Lei e dos Profetas, os chefes da sinagoga mandaram-lhes dizer: «Irmãos, se tiverdes alguma exortação a dirigir ao povo, falai». Então Paulo levantou-se e disse: (…)” – Actos 13: 14-16.

• “No dia de Sábado saímos às portas, em direcção à margem do rio onde parecia haver oração. Depois de nos sentarmos, começámos a falar às mulheres que lá se encontravam.” – Actos 16:13 (sublinhado nosso)

3- O que é que se verifica no 1º texto? Este indica-nos que a entrada dos apóstolos na sinagoga não foi feita apenas com o pretexto de aproveitar esta reunião para falar aos crentes ali reunidos! Porquê? Por que os apóstolos se sentaram e só fizeram uso da palavra após terem sido convidados pelos “chefes da sinagoga”!
Sem este convite, os apóstolos não teriam falado ao povo ali reunido! Assim, o que os levou à sinagoga não foi um motivo missionário, tal como pretende o nosso ilustre autor, mas sim assistir aos serviços religiosos do dia de Sábado!

4- A atitude de S. Paulo, tal qual é relatada no segundo texto, explica claramente a dinâmica deste. O contexto dá-nos a conhecer que S. Paulo teve uma visão e, à luz da qual, deveria passar em Macedónia – Actos dos Apóstolos 16:9. O apóstolo irá viajar até à cidade de Filipos – v. 12.
Acontece que, chegando o primeiro Sábado e não existindo ali - qualquer sinagoga – o texto elucida-nos que, apesar desta lacuna, S. Paulo e os seus companheiros dirigem-se até às portas da cidade para prestarem culto ao Senhor. E, ao mesmo tempo fizeram, como verdadeiros crentes, um pouco de missionação, isto é, partilharam a sua fé com os demais que ali se encontravam. O resultado foi a conversão de uma mulher chamada Lídia e de toda a sua casa – v. 15 – não Judia!
Aqui, prezado leitor, tal como dissemos, não existia qualquer sinagoga! Se assim era, então porque é que ele ainda respeitava o Sábado e não o Domingo? O prezado leitor sabe responder? Francamente, nós não sabemos!
Ele não fez mais do que seguir, parece-nos, o exemplo do seu Mestre Jesus! Vejamos um texto que nos elucida sobre a atitude de Jesus sobre a sinagoga. Eis o seu teor: “Veio a Nazaré onde Se tinha criado. Segundo o Seu costume, entrou em dia de Sábado na sinagoga e levantou-se para ler.” – S. Lucas 4:16.
Neste texto, prezado leitor, será que Jesus também foi lá por mero “acaso”, como quer fazer crer o nosso interlocutor? Será que ali se encontrava para dizer-lhes o quanto estavam errados, quanto ao dia de santificação? Ou ainda era cedo demais para tal anúncio?
Que mais clareza queremos encontrar nos textos? Convenhamos que, só com muita má vontade, é que não queremos ver, pelo menos, o que os textos transmitem com tanta clareza – a Verdade – tal qual!

f) Uma reunião e colecta

Em continuação ao seu pensamento, o autor apresenta mais dois textos para que não permaneçam quaisquer dúvidas de que a comunidade primitiva cultuava ao Domingo e não ao Sábado, como algumas confissões religiosas - chamadas carinhosamente por este de: Seitas - querem fazer crer!

1- Eis o primeiro texto: “No primeiro dia da semana, estando nós reunidos para partir o pão, Paulo, que devia partir no dia seguinte, começou a falar com eles e prolongou o seu discurso até à meia-noite” – Actos 20:7. Eis algumas considerações a propósito:
Esta “refeição comum” ou “partir o pão” era um acto que os cristãos primitivos praticavam, “diariamente” (cf. Actos 2:46), e não apenas no 1º dia da semana, como se pretende insinuar! Isto quer dizer, de igual modo, que os cristãos da Igreja primitiva cultuava todos os dias? Claro que não!
Convém recordar que a duração dos dias era contada do pôr-do-sol do dia anterior até ao pôr-do-sol do dia seguinte. Assim, em consonância com o texto, a reunião em causa deu-se num Sábado ao anoitecer (após o pôr-do-sol) – visto ser já “o 1º dia da semana”. Qual o comentário a fazer? Aqui nada tem de importante que mereça a nossa atenção ou que faça do Domingo um dia especial! A pregação de S. Paulo prolongou-se até madrugada, isto é, pela noite do dia de Sábado para Domingo. Neste dia bem cedo, S. Paulo viajou! Repetimos, continuamos a nada ver de especial que tenha acontecido!

2- Eis o segundo texto: “No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte, em sua casa, o que tiver podido poupar, a fim de que não esperem a minha chegada para fazer a colecta.” I Coríntios 16:2
Perante tal texto o autor conclui magistralmente que: “sem dúvida que esta prescrição do apóstolo não se entende sem a tal reunião «dominical» dos cristãos”! Que raciocínio, que clarividência! Apesar de não possuirmos tais pergaminhos mentais, mesmo assim, teceremos algumas considerações para que possamos ver se o autor tem razão na conclusão que tira. Vejamos:
a) S. Paulo recomenda aos cristãos de Corinto um plano para que contribuíssem na recolha de fundos em favor dos pobres de Jerusalém. O apóstolo não faz mais do que colocar em prática o que “tinha prometido pensar, nas suas missões entre os gentios, nos irmãos de Jerusalém. (…). Ele queria que todos os Domingos, que cada um colocasse de lado a sua oferta, afim de que tudo estivesse pronto quando chegasse”. Nada mais do que isto!

b) Nada no texto indica que se trata de uma reunião pública, ao Domingo. “O autor propõe (a colecta) porque era um dia de recolhimento? Nada sabemos. Se houvesse nesse dia ajuntamentos importantes, compreender-se-ia que certas pessoas designadas para o efeito, teriam recolhido os fundos obtidos; mas nada disto é dito”. Assim, cada um deveria colocar o seu dinheiro, oferta, de lado, em casa, não na Igreja! De novo, nada mais do que isto!

c) Se a comunidade cristã cultuasse ao Domingo, a recomendação de S. Paulo visando o pôr de lado o dinheiro, em casa, parece, no mínimo, paradoxal! Por que é que os cristãos deixariam ficar o dinheiro em casa no Domingo, se nesse dia eles se reuniriam para o culto? Se assim fosse, o dinheiro não deveria ser trazido a este mesmo culto? Pensamos que sim! Alguns, no entanto, para reforçar a interpretação inerente a uma “reunião dominical” recorrem a um comentário, a este texto, de S. João Crisóstomo (354-407), onde declara a mesma ideia.
Na realidade ele é o primeiro a unir o binómio - “casa / igreja” - nada mais! Note-se que o testemunho é do século IV! Não é significativo, perguntamos nós, que até então ninguém o tenha usado para que, através dele, pretendesse consolidar a observância, do primeiro dia da semana – o Domingo?!
Vejamos, para conhecermos o que este escreveu, o conteúdo do referido comentário: “S. Paulo não afirmou que trouxessem as suas ofertas à igreja, para que não se envergonhassem da pequenez da quantia; mas aumentando-a aos poucos em casa, que a tragam quando eu chegar; por ora, vão juntando em casa e façam de suas casas uma igreja e do mealheiro um cofre.”
Este texto não significa mais do que um conselho aos cristãos, para que não se envergonhassem! Na igreja dariam pouco; mas juntando, ao longo do tempo, nas suas casas, quando S. Paulo chegasse, então teriam uma soma razoável para oferecer aos seus irmãos em necessidade em Jerusalém! Que mais indica o texto? Nada mais do que isto!
Portanto, se S. Paulo recomenda uma colecta privada, não pública, no Domingo, é porque neste dia não havia qualquer liturgia pública, habitual, no seio da cristandade, como sempre aconteceu desde a morte do Senhor!

d) Se S. Paulo considerasse o primeiro dia da semana – o Domingo – como um dia de culto cristão, certamente que o teria designado com uma nomenclatura especial apropriada, como veremos a seguir, tal qual encontramos no livro do Apocalipse 1:10 “Kuriakê Hemera” - (dia do Senhor)! Remodelando e parafraseando o texto do apóstolo, teríamos: “No primeiro dia da semana, no - Kuriakê Hemera (dia do Senhor), cada um de vós ponha de parte, em sua casa, o que tiver podido poupar, a fim de que não esperem a minha chegada para fazer a colecta.” I Coríntios 16:2! Mas, curiosamente, não o fez, contrariamente ao que nos quer fazer crer o nosso autor!

Portanto, eis o que nos oferece dizer sobre esta famosa “colecta no primeiro dia da semana”! O prezado leitor sentiu, fosse onde fosse que o apóstolo incentiva o culto dominical? Não será que, contrariamente ao autor, o texto em questão atesta unicamente a existência de uma colecta privada, para um determinado propósito, nada mais do que isso? Sente-se, o prezado leitor, manipulado por nós ao ter acompanhado o nosso raciocínio até ao presente momento, a ponto de poder chegar a uma conclusão diferente do autor, apesar da sua craveira e envergadura teológica? Pensamos que não!

g) No Dia do Senhor

O autor cita, para justificar a observância religiosa neste dia, o texto do Apocalipse, acima referido, cujo teor é: “E fui arrebatado em espírito, no dia do Senhor” – Apocalipse 1:10. Para um maior reforço da sua tese, refere um texto da patrística a – Didaké 14:1 – o qual indica que: “o – dia do Senhor - era já o Domingo consagrado ao Kurios (Senhor) ressuscitado”.
Iremos, como temos feito até aqui, tecer alguns comentários que nos permitam tirar algumas conclusões, um pouco diferentes. Várias vezes, o dia de Domingo é chamado – dia do Senhor - ao longo do século II:

• Dia do Senhor (implicitamente):

 “Reunidos no dia do Senhor”
 “(…) vivendo na observância do dia do Senhor”

• Dia do Sol:

 “Celebramos essa reunião geral no dia do sol (…)”

• Dia do Senhor (explicitamente):

 “Na noite na qual nasceu o dia do Senhor, (…) apareceu uma voz forte no céu.”
 “Bem cedo, no dia do Senhor, Maria Madalena, uma discípula do Senhor (…).

Será importante não esquecer que esta última citação encontramo-la no Evangelho de Pedro! Este é um Apócrifo escrito na segunda metade do século II! É, incontestavelmente, a partir de finais do século II que esta expressão estará ligada ao Domingo!
Para o leitor moderno que lê os textos acima mencionados, é normal que este “dia do Senhor” o leve a pensar, de imediato no Domingo! Mas convém lembrar que o autor do livro do Apocalipse não é um ocidental como qualquer um de nós, pois “é um Judeu que fala, alimentado pelas Escrituras hebraicas e totalmente enraizado na religião dos seus pais”. Assim, e por viver antes deste século II, certamente que nos dá a realidade do imediato, isto é, se este dia correspondesse ao que ainda hoje se pensa corresponder, certamente que este S. João não nos teria deixado na incerteza acerca de tão grande e radical mudança no cristianismo, não é verdade? Até porque não se trata de um acontecimento qualquer, mas a razão de ser da Igreja do pós Cristo!
Perguntamos: No tempo de S. João, como era conhecido o Domingo? No seu tempo, alguma vez, este dia vulgar da semana, teria sido chamado: “dia do Senhor”, em finais do século I, quando o livro do Apocalipse foi escrito? Ou esta designação é mais tardia?! Vejamos alguns detalhes que nos ajudarão a reflectir numa eventual solução ou clareza de ideias:
1- Nas oito referências do Novo Testamento, onde é mencionado o 1º dia da semana – o Domingo – encontramos, a saber: seis nos Evangelhos (S. Mateus 28:1; S. Marcos 16:2, 9; S. Lucas 24:1; S. João 20:1, 9); uma nos Actos dos Apóstolos (Actos 20:7); uma numa epístola de S. Paulo (I Coríntios 16:2). Em todas elas, “o Domingo nunca é chamado “dia do Senhor”, mas sempre, sem qualquer excepção – o 1º dia da semana.”!
2- Se em todo o Novo Testamento o Domingo é sempre chamado - 1º dia da semana - não será, no mínimo, estranho que S. João empregue uma expressão com um significado diferente daquele que sempre foi usado até então para definir o mesmo dia? Certamente que, caso tivesse havido mudança, já no seu tempo, como o deseja o nosso autor, e não só, este deveria ter sido mais explícito, por que iria causar confusão, na medida em que, até ali o – dia do Senhor – sempre foi o 7º (o Sábado) e não o 1º dia da semana (o Domingo)!

3- Segundo tudo perece indicar, o Evangelho de João foi escrito entre o ano 90-99 da nossa era, enquanto que o Apocalipse foi escrito entre 81-96. A ser verdade esta informação, e não temos qualquer razão para duvidar, então, como compreender que no seu evangelho, escrito posteriormente, ao referir-se à ressurreição e aparição do Senhor neste mesmo dia, ele o tenha definido segundo a nomenclatura tradicional – 1º dia da semana – e não – dia do Senhor? Teria sido por lapso? Se sim, como compreender a Inspiração? Convenhamos que tudo isto se complica quando começamos a pensar!

O que é significativo é que as referências a esta identificação – Domingo / dia do Senhor – tal como vimos, na sua globalidade e sem excepção, são posteriores ao século I! Será este pormenor revelador do quanto muitos recusam admitir? S. João escrevendo no século I, desconhece, por completo, esta associação entre o Domingo e o dia do Senhor! Mas que absurdo!
Por outro lado, cada vez que nas Escrituras encontramos a expressão – dia do Senhor – refere-se sempre, como já o dissemos, ao 7º dia da semana – o Sábado – e não ao 1º dia da semana – o Domingo! Leia-se ainda: “(…) Se te abstiveres de profanar o Sábado (…) no dia que me é consagrado, se fizeres do Sábado as tuas delícias e o consagrares à glória do Senhor (…)” – Isaías 58:13 (sublinhado nosso). A versão Bíblia de Jerusalém verte assim o texto em causa: “Se te abstiveres de violar o Sábado (…) chamando ao Sábado «deleitoso» e «venerável» ao dia santo de Yahweh (…).
Talvez dirá que é um texto do Antigo Testamento e, por esta razão, é compreensível este tratamento! Mas já pensou, prezado leitor, que no tempo de S. João não existiam outras “Escrituras” a não ser o que chamamos hoje de “Antigo Testamento”? Pelo que vimos até aqui, não tem qualquer fundamento, historicamente falando, que – o dia do Senhor – fosse para o autor do Apocalipse, igual ao 1º dia da semana – o Domingo!

4- Gostaríamos ainda, para terminar, de transcrever uma conclusão, do nosso interlocutor, cujo teor é: “Não foi, pois a Igreja de Roma que impôs o Domingo contra a Bíblia, mas a ressurreição do Senhor em dia de domingo (…)”! Assim, perguntamos: 1- Ou somos nós que não compreendemos as Escrituras (o que poderá acontecer); 2- Ou então esta conclusão não tem qualquer fundamento! (O que é altamente provável)! Vejamos mais dois textos bíblicos:
 “E era o dia da Preparação (Sexta-feira, quase ao pôr-do-sol) e já amanhecia o Sábado (…). E, no Sábado, observaram o descanso, conforme o preceito” – S. Lucas 23:54-56. (sublinhado nosso)
 “Passado o Sábado ao alvorecer do primeiro dia da semana, Maria de Magdala e a outra Maria foram visitar o sepulcro (…). Mas o anjo tomou a palavra e disse às mulheres: (…) Sei que buscais a Jesus crucificado. Não está aqui (…)” – S. Mateus 28:1-6

Antes de mais, convém recordar que estes textos foram escritos cerca do ano 80 da nossa era! Portanto, desde os acontecimentos até à fase escrita decorreram sensivelmente 50 anos; os Evangelhos contam-nos a tradição destes mesmos acontecimentos, nada mais. Assim sendo, sem entrarmos, minimamente, em detalhes teológicos, vejamos:
a) Perante os factos relatados, como compreender o procedimento das mulheres? Das duas uma: 1- Ou as mulheres estavam muito distraídas em relação às ordens, regras e novos mandamentos a introduzir logo após a morte de Jesus, tal como o Mestre eventualmente teria ordenado! 2- Ou o Senhor nunca o pensou, nem nunca o disse a ninguém! Ou seja: Que, após a Sua morte e ressurreição, o 4º mandamento da Lei de Deus que estipula a observância do 7º dia da semana – o Sábado – o verdadeiro dia do Senhor, seria transferido para o 1º dia da semana – o Domingo – em honra da Sua ressurreição!
Porque se o fez, como pretendem fazer-nos crer, então:
 Como é que, em função do que acabámos de dizer, as mulheres teimosamente, “no Sábado, observaram o descanso, conforme o preceito” – S. Lucas 23:56!?
 Como é que os evangelhos, cerca de 50 anos depois, continuam, repetimos, teimosamente, a insistir que o primeiro dia da semana, não teve nem tem à data do Evangelho, outra designação a não ser a do costume - 1º dia da semana - quando, afinal tudo tinha mudado! Quando se estava numa outra era – a da graça!

Convenhamos que os autores inspirados estão cheios de lapsos! No mínimo é estranho, não acha o prezado leitor? Seremos nós que estamos a manipular os textos? Continuamos a pensar pela negativa.

b) O 2º texto dá-nos a conhecer que “Passado o Sábado ao alvorecer do primeiro dia da semana (…)” – S. Mateus 28:1. Portanto, no Sábado (após o pôr-do-sol), à noite, deu-se a – Ressurreição do Senhor! Mas, o leitor já pensou porquê? Não seremos nós curiosos a este ponto? Como inteligente que é, certamente que também já tinha colocado a si mesmo esta mesma questão! Porquê?
Jesus morreu no final da tarde de Sexta-feira, tal como o texto bíblico o refere: “E era o dia da Preparação (Sexta-feira) e já amanhecia o Sábado (…)” – S. Lucas 23:54. Foi, à luz dos textos, sepultado ainda antes de começar o Sábado judaico, recordamos, antes do pôr-do-sol (cf. S. João 19:31), portanto ainda dentro das horas do – dia da Preparação! Depois, como já vimos, as mulheres voltaram para casa para prepararem os materiais para procederem ao respectivo embalsamento, que seria no primeiro dia da semana, logo de manhãzinha. Enquanto isso, observaram o repouso prescrito pelo mandamento!
Ora, se bem compreendemos os textos, desde a Sua morte – antes do final da tarde de Sexta-feira – até à Sua ressurreição, algures, após o pôr-do-sol (noite) de Sábado – Jesus ressuscita, não é verdade? Assim, desde a Sua morte até à ressurreição, passa um período de tempo de, mais ou menos, umas escassas 30 a 40 horas, no máximo! Porquê? Haveria, alguma razão metabólica, a qual desconhecemos como leigos na matéria, que a divindade devesse respeitar? Pensamos que não!
Então se não foi essa a razão, porquê um interregno – desde o final de Sexta-feira, antes do pôr-do-sol, até às primeiras horas de Domingo, ou seja, em termos judaicos, o final do dia de Sábado (pôr-do-sol)? Quanto a nós, este interregno só é, só poderá ser racionalmente compreensível, assim como coerente e lógico, porque TUDO se passou quando em conformidade com as Escrituras! Claro, prezado leitor, se mesmo o próprio Deus Todo Poderoso, Ele mesmo, se sentiu “obrigado”, diremos nós, para ser coerente Consigo mesmo – observar a santidade do tempo de Sábado! De igual modo o Seu Amado Filho o faz, no túmulo - durante as horas sagradas de Sábado!
Como sabemos? Sempre pela mesma regra áurea - os textos bíblicos! Vejamos:
• Testemunho do próprio S. Pedro:
 “Mas Deus ressuscitou-O, libertando-O dos grilhões da morte, pois não era possível que ficasse sob o seu domínio.” – Actos 2:24
• Testemunho de S. Paulo
 “(…) assim como Cristo ressuscitou dos mortos, mediante a glória do Pai (…)” – Romanos 6:4.
Não é isto claro? Cristo foi ressuscitado pelo Pai; portanto, após as horas sagradas do 7º dia – em conformidade com o que Deus, Ele próprio, sempre estabelecera! Estaremos, por ventura a forçar os textos? Com toda a honestidade e humildade, pensamos que não! E quanto ao prezado leitor, qual é a sua opinião?

c- Como temos vindo a dizer até aqui, nas Escrituras, o 4º Mandamento da Lei de Deus é o Sábado. Mas como é que o Catecismo apresenta esta Lei na globalidade e, em particular o 4º Mandamento desta mesma Lei? Vejamos um pormenor:

Como compreender esta mudança? Qual o seu objectivo? O Catecismo o revela, quando diz: “O mandamento da Igreja determina e precisa a lei do Senhor” (sublinhado nosso). Depois, sempre revestido da “autoridade” que a si chama, ainda esclarece: “O sabbat, que representava o acabamento da primeira Criação, é substituído pelo Domingo, que lembra a Criação nova, inaugurada na Ressurreição de Cristo”! Portanto, apesar das nossas muitas limitações, perante o exposto, perguntamos: 1- Quem outorgou a esta confissão religiosa o poder de “determinar” e “precisar” a Lei do Senhor? 2- Se, desde já, como resposta à 1ª pergunta soubermos quem autorizou, será muito perguntar: Quando é que o Sábado foi substituído pelo Domingo? 3- O que é que a dita “primeira Criação” representada pelo “sabbat”, tem que ver com a “Criação nova” representada, dizem, pelo Domingo? Em que é que uma figura de linguagem - “Criação nova” - substitui uma realidade a - “primeira Criação” – se se tratam de coisas diferentes, isto é, uma real e outra irreal?
Como já vimos, o Sábado foi objecto de uma criação VAZIA! Isto é, ele foi criado, não para comemorar o final da Criação, como o Catecismo quer fazer crer, mas para que NELE, toda a criatura ADORE o DEUS CRIADOR – dimensão que nunca teve o 1º dia da semana – o Domingo!
E mais, a ressurreição não está ligada à Criação, mas unicamente, devido àquela, temos o garante, caso queiramos, da nossa salvação! Portanto, não vemos qual a relação que uma coisa tenha a ver com a outra!
Sendo assim, e sintetizando o que vimos até aqui e, contrariamente ao que o autor afirmou, desde o início, a saber: “Não foi, pois a Igreja de Roma que impôs o Domingo contra a Bíblia, mas a ressurreição do Senhor em dia de domingo”, então perguntamos: Se não foi a Igreja de Roma que fez a mudança, então quem foi? E o que é mais curioso e paradoxal, é que o protestantismo em geral, saído da Igreja de Roma, continua a seguir - sem pestanejar - esta mudança tão grave e significativa, efectuada sem qualquer base bíblica por Roma! Pasme-se o céu!
Para que não tiremos conclusões parciais a este respeito, não será demais transcrever um excelente excerto do livro do Cardeal Gibbons (Arcebispo de Baltimore) que, só por si, é tremendamente elucidativo. Ora veja, prezado leitor: “(…). Ora as Escrituras, só em si, não contêm todas as verdades que um cristão é obrigado a crer; nem prescrevem explicitamente todos os deveres, que ele tem de cumprir. Para não citar outros exemplos, não é todo o cristão obrigado a santificar o Domingo e a abster-se, nesse dia, de trabalhos servis? A observância desta lei não ocupa, porventura, o lugar mais proeminente, na ordem dos nossos deveres sagrados? Mas vós podeis ler a Bíblia, do Génesis ao Apocalipse e não encontrareis uma única linha que autorize a santificação do Domingo. As Escrituras ordenam a rigorosa observância do Sábado, dia que nós nunca santificamos. (…). Devemos, portanto, concluir que as Escrituras, só em si, não podem constituir um guia suficiente nem uma regra de fé; (…)”.
d) Acima falámos na Graça; por isso, perguntamos: Quem a dá? Quem a recebe? Quem a dá, sabemos que é Jesus. Quem a recebe? A quem se referirá? É aqui que tudo se complica, caso se mantenha a ideia de que – a Lei foi abolida! Cremos firmemente que não sabemos quem são os que dela usufruirão?! Sabe porquê? Por causa das simples palavras de S. Paulo!
O que é que ele disse? Somente isto: “(…) o pecado, porém, não se leva em conta se não houver lei.” – Romanos 5:13! Que drama! Dizem-nos que não há Lei, pois foi abolida em Cristo! Então, se entendemos bem a afirmação, temos: 1- Se esta não existe, segundo S. Paulo, logo não somos pecadores, não é verdade? Pois é esta e só esta que revela, que nos mostra que somos transgressores, pecadores; 2- Se não somos pecadores, visto não existir Lei, então para que é que precisamos – do Plano da Redenção (Calvário e a Graça)? Mas que complexidade?!
Outros ainda dizem - citando sempre S. Paulo - que: 1- “Julgamos pois que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei” – Romanos 3:28 (sublinhado nosso); 2- Ou ainda: “Porque pela graça sois salvos (…)” – Efésios 2:8 (sublinhado nosso)! 3- Ou ainda citando um dos evangelhos: “Porque, se a lei foi dada por meio de Moisés, a graça e a verdade vieram por meio de Jesus” - S. João 1:17 (sublinhado nosso).
Como vê, prezado amigo leitor, para quê estar preso a leis ou a este ou aquele mandamento integrante dessa mesma lei? Só seremos salvos pela Fé e pela Graça! Portanto, quem é que ainda ousa, dizem, ensinar ou viver, debaixo da lei? Tal como acabámos de ver, se uma confissão religiosa assim proceder, no mínimo, nos nossos dias, está desfasada da realidade teológica!
Aparentemente, prezado leitor, é a conclusão que se impõe! Aliás, curiosamente, quase todas as confissões religiosas, nossas contemporâneas assim concluem! Mas, reiteramos o que acima dissemos: Se eu não sei se sou prevaricador, transgressor, como precisarei eu: 1- Da Verdade; 2- Da Fé; 3- Da Graça? E lá continuamos a andar às voltas! Nem para a frente, nem para trás!
Não iremos para teologias profundas, pois tal não é o nosso propósito aqui, mas apenas lançar uma ou outra pista para reflexão! O prezado amigo leitor pense num pequenino pormenor que, no fundo se relaciona com o que estamos a tratar. Uns dizem: 1- A Lei de Deus já não está em vigor! 2- Outros, mais comedidos afirmam que só o mandamento do Sábado (o 4º desta mesma Lei) é que foi abolido!
Ora, então, se é que entendemos bem, cada um procede como acha que deve fazer, visto não haver uma lei do foro religioso, não é verdade? Então, tal como dizíamos, já pensou se, em termos sociais ou cívicos, num país, esta também não existisse? Já assim, sabe Deus, imagine-se sem lei! Mas o que é que aconteceria de imediato nesse hipotético país? Nem mais nem menos do que aquilo que está a pensar! O CAOS! E este aconteceria a todos os níveis, como abaixo iremos ver no quadro comparativo.
Mas, talvez dirá: alto lá, as coisas não são bem assim! Afinal, estamos a falar de um preceito que deixou de existir, sendo substituído por outro - o Sábado pelo Domingo! Mas, perguntamos: onde está a autorização bíblica para o efeito? Onde é que os deputados, (os escritores inspirados) que nos seja permitido expressar assim, da Assembleia da República Espiritual (as ESCRITURAS), se reuniram para deliberar tal abolição ou substituição do quanto escreveram sob inspiração divina?
Note, prezado leitor, convém que nos entendamos e falemos claro; não estamos a falar de concílios papais ou outra coisa humana parecida! Como acima já o analisámos, ninguém tem autoridade, delegada por Deus, para anular ou substituir o que ficou escrito! Passemos então ao quadro comparativo:
- Reflexos da não existência de Lei –

Já pensou no que este quadro apresenta diante dos seus olhos? Se para um País, nunca tal poderia acontecer, então, por que é que terá que ser possível para as Escrituras? Se não temos conhecimento do pecado, visto não existir Lei, como nos ensina S. Paulo, portanto, não somos transgressores! Sendo assim, repetimos, para que nos servirá: 1- O Plano da Redenção 2- Cristo?; 3- O Calvário? Este Plano foi concebido, segundo as Escrituras, UNICAMENTE para transgressores, pecadores!
E no País? Não havendo lei, em nome de quem ou de quê justificariam: 1- A existência de Órgãos de Segurança? 2- Multas, coimas! Em nome de quem este (polícia) cumprirá o seu dever, se não existe uma base legal para actuar e, até, para justificar a sua existência (de polícia)? 3- Se não existe o agente revelador, isto é, aquele que aponta a “falta”, de igual modo como é que eu, desconhecendo totalmente a sua existência, sou transgressor? De quê?
As Escrituras não nos deixam ficar no impasse! Estas, de uma só vez, respondem a dois tipos de objecção: 1- Para aqueles que dizem: afinal, não foi abolida toda a Lei, mas somente um mandamento! 2- Aqueles que, aparentemente, ao se apoiarem nas Escrituras, por exemplo: - S. Mateus 22:37-40 - dizem que só temos, após o Calvário, dois mandamentos, não dez!
Sabe o que as Escrituras nos revelam a este respeito? Nem mais nem menos, o mesmo que acontece na lei dos homens! Ora veja: “Aquele que guardar toda a lei e faltar num só ponto, torna-se culpado de todos os outros” – Tiago 2:10.
Mas, dizíamos, para estes, o texto contém uma resposta: Repare que Tiago diz que quem: “(…) faltar num só ponto, torna-se culpado de todos os outros”! A ser verdade o raciocínio daqueles que dizem que só existem, após o Calvário, dois mandamentos, então o texto, para estar correctamente escrito, seria: “(…) faltar num só ponto, torna-se culpado do outro”! E porquê? Porque no primeiro texto fala de “todos os outros”! Claro! Porque são vários! Na segunda versão, para estar de acordo com aqueles que advogam a existência de dois mandamentos, deveria constar: “torna-se culpado do outro”, isto porque, só existem dois! Assim, ao transgredirmos um, estaremos a transgredir “o outro”, não é verdade?!
Mas não é assim, que encontramos no texto original, pois não? Desde quando, por exemplo, um resumo de 20 páginas, anula o livro original que foi resumido, o qual contém 300?! Nunca tal se viu nem se verá, não é verdade?
Graças a Deus que não é assim! Ele não pode mentir, ou dizer hoje uma coisa e amanhã, sobre o mesmo assunto, dizer outra diferente – cf. Malaquias 3:6; Tito 1:17; Hebreus 13:8!
Utilizemos mais uma pequena ilustração: Imagine alguém quase a afogar-se, na praia. De repente, alertado pelo grito de socorro, chega o nadador-salvador; este, no entanto, atira a bóia salva-vidas, não para o que dela precisa, pois está em perigo de vida, mas para todos aqueles que se encontram na segurança da praia! Que absurdo! Quem precisará, na areia, de bóia? É de elementar justiça, se dissermos: NINGUÉM!
Entretanto, o que é que se estará a passar com aquele que se encontra a debater, entre a vida e a morte, dentro de água! Se não for acudido, morrerá na água! Porquê? Por várias razões: 1- Ou porque comeu e foi tomar banho; 2- Ou porque desrespeitou, de igual modo, a bandeira de perigo ali existente; 3- Ou ainda, porque não sabia nadar!
Como se passarão as coisas no campo espiritual? Ora vejamos: Se o perigo não existe (o pecado), ou seja: 1- Não cometemos nenhuma falta; 2- Não desrespeitámos a Lei, visto esta, dizem, não existir; 3- Então: O saber ou não nadar, não tem importância, até porque o mar (personificando o mal) não existe! Logo, isto quer dizer que para nada nos servirá a tal bóia representada pela Graça!
Mas se tivermos conhecimento do estado em que nos encontramos, através do agente regulador que é a – LEI – então conheceremos qual a necessidade do poder salvador da Graça. Mas atenção, a Lei não tem qualquer poder operante, mas ela unicamente nos indica o caminho para esse poder branqueador (detergente = a Graça), pois só ele pode lavar – a acção do precioso sangue de Jesus ( cf. I Pedro 1:18,19).
Agora, e só agora, a tal bóia é bem-vinda! Fomos, no dizer de S. Paulo: “lavados, santificados, justificados pelo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo e pelo espírito do nosso Deus” – I Coríntios 6:11. Se fomos, tal como o texto revela: 1- Lavados; 2- Santificados; 3- Justificados, isto quer dizer que existiram três realidades intervenientes:
1- O agente acusador da falta, transgressão (a Lei)
2- O agente branqueador, detergente (Cristo).
3- O transgressor, prevaricador (o ser humano)

Já reparou que a tal Lei limitou-se a indicar, nada mais! Agora, que já sabemos a nossa (doença), nos deveremos dirigir a quem de direito, para que nos lave ou cure. Este não é, nunca foi, nunca será o papel da Lei! Por estranho que possa parecer, aquele que é, incessantemente, citado como o que nos alerta de que a Lei foi abolida, ele mesmo, tem estas palavras paradoxais: “ Anulamos a lei com a fé? De modo algum! Antes a confirmamos” – Romanos 3:31
De que Lei o apóstolo estará a falar? Não da mosaica, dizem, mas da do Amor! Se tal é, então como dizemos amar: 1- Deus acima de todas as coisas; 2- E ao próximo como a nós mesmos (cf. S. Mateus 22:37-40), se desrespeitamos os Seus mandamentos que apontam para este amor exercido em dupla vertente?
E já agora, prezado leitor! Sabia que as Escrituras têm um nome para todos aqueles que, apesar de se dizerem cristãos, não observam toda a Lei de Deus! Eis como ela se expressa: “E sabemos que O conhecemos por isto: Se guardarmos os Seus mandamentos. Aquele que diz conhecê-Lo, e não guarda os Seus mandamentos é mentiroso, e a verdade não está nele” – I S. João 2:3,4 (sublinhado nosso). E quantos serão? Nove ou dez mandamentos?
Como tudo é tão simples e claro! Em que lado é que irá ficar? Com o claro ensino das Escrituras ou com o desta ou daquela confissão religiosa?
Para sintetizarmos o quanto já dissemos, transcreveremos os seguintes pontos para reflexão. Não existe, tanto quanto pensamos conhecer - acerca do Domingo - uma só passagem do Novo Testamento que estabeleça:
1- Que o dia de repouso tenha sido transferido do 7º para o 1º dia da semana.
2- Que o 1º dia semana seja um dia santo e que seja necessário observá-lo como tal.
3- Que Jesus nele tenha cultuado ou que o tenha instituído para que fosse guardado, observado e respeitado pelos apóstolos e a Igreja em honra da Sua ressurreição.
4- Que os apóstolos o tenham guardado ou recomendado a sua observação, guarda ou respeito.
5- Que era um hábito a Igreja reunir-se nesse dia.
6- Que outro nome lhe tenha sido dado além do de “1º dia da semana”; ou considerado de outra forma senão como um simples dia semanal.
7- Que o 7º dia seja chamado de outra maneira a não ser de “Sábado” ou “dia de Sábado”.
8- Que o Sábado tenha sido abolido e que estejamos dispensados de o guardar, observar e respeitar como memorial da Criação.

Reiteramos a afirmação que transcrevemos no início - “fundamentar a mudança do Sábado para o Domingo à luz da própria Bíblia e, também à luz da tradição mais primitiva, já expressa na própria Bíblia”.
Para justificar tal afirmação e propósito, o autor apresentou, como vimos: Isaías 1:13; S. Mateus 12:1-13; S. Marcos 2:27; S. João 5:1-18; 9:14; Actos 20:7; I Coríntios 16:2, tentando assim provar a “mudança do Sábado para o Domingo”! Mas pela nossa análise e comentário dos referidos textos, o leitor sentiu, em algum momento que fosse, que estes apontavam, inequivocamente, para a tal “mudança” segundo as Escrituras?
Em síntese do quanto dissemos até aqui: Não será que tudo é pensado já, à partida, sobre um tremendo equívoco?! Vendo bem, prezado leitor, o que é que o Sábado tem que ver com os judeus? Foram eles que o inventaram ou instituíram? Claro que não! Falemos claro: Os judeus, como povo, aparecem séculos depois! O Sábado, tanto quanto sabemos, biblicamente, lhes é anterior!
Já o livro do Eclesiastes proclama a “universalidade” da observância dos mandamentos de Deus! Eis o texto: “O resumo do discurso, de tudo o que se ouviu, é este: Teme a Deus e observa os seus preceitos, porque este é o dever de todo o homem” – Eclesiastes 12:13 (sublinhado nosso). O termo “homem”, é a tradução da palavra - ’adam (espécie humana, humanidade). Saiba que para designar a realidade – homem –, na língua hebraica existem três palavras, a saber:
1- ’adam – noção de espécie humana;
2- ’isch - designa o homem dotado de poder;
3- ’enosh - caracteriza o homem como um ser fraco infeliz.

Filologicamente falando, não deixa de ser bastante significativo! E porquê, perguntará?! Com três termos à sua disposição, embora o contexto possa definir a opção a tomar, eis que o escriba - das três - utiliza a 1ª! Ou seja, a que põe em destaque - a espécie humana - a Universalidade!
Apresentamos ainda uma outra tradução deste mesmo texto, para que sintamos quão real é esta precisão do texto. Tomamos a liberdade de a transcrever para que não possamos, porventura, passar ao lado de um ou outro pormenor!
Eis a tradução proposta: “El resumen del discurso, después de oírlo todo, es éste: Teme a Dios y guarda sus mandamientos, porque eso es el hombre todo.” – Eclesiastes 12:13. (sublinhado nosso). O autor destaca a última parte do versículo - “porque eso es el hombre todo” - para a comentar citando, por sua vez, um outro comentário: “En efecto «para esto ha nacido y ha sido hecho el hombre, para que tema a Dios y guarde sus mandamientos, de modo que nada le puede excusar de ello, ni la edad, ni el sexo, ni la falta de salud o cualidad otra alguna»”.
Assim, acreditamos que não estamos sós a pensar desta maneira, a ter esta particular interpretação! Claramente se vê, prezado leitor, que a observância dos preceitos de Deus não tem que ver com o povo judeu, tal como o texto o anuncia claramente! Mas que este é o dever de toda a humanidade, isto é, de todos os povos, sejam eles: judeus, portugueses, espanhóis, franceses, ingleses ou qualquer outro!
Portanto, o Sábado, ou a Lei de Deus, não é, contrariamente ao que se pensa e diz, apanágio do povo judaico, mas, como vimos, é inerente, em termos de obrigação, a toda a criatura existente à face da terra! Por isso se disse que “O Sábado não é o dia de repouso dos Judeus; é o dia comemorativo da criação do mundo e da humanidade”. O Sábado, como já vimos, foi um dia vazio de criação, pois o seu inteiro propósito é, como vimos, comemorar o acto criador de Deus, como também recordar que “o mandamento do dia do repouso dá louvor a Yahweh como Senhor que fez dom de todos os outros dias”.
Que nos seja permitida mais uma breve reflexão, desta vez sobre o nosso interlocutor: Como é possível que um sacerdote negue partes das Escrituras? Em que se baseará e apoiará este o seu sacerdócio e, consequentemente, a sua fé? Se fosse um historiador… ainda poderíamos admitir certas posições mas, na qualidade de prelado e teólogo, creia-nos, prezado leitor, que temos muita dificuldade em compreender o sacerdote e o seu ministério!
Entre mitos e afins, em que acreditar então? Será que está correcto o materialismo dialéctico de Marx, quando supõe que o homem é:
1- Fruto da matéria e que a ideia de Deus serve apenas para garantir uma certa ordem social;
2- Para que, os explorados, tenham esperança em alguma coisa extra terrena;
3- Para que estes se abstenham de qualquer reivindicação na terra;
4- Escravo desta religião, a qual não é mais do que “o ópio do povo” ou ainda “O coração de um mundo sem coração’

Como resultado, humildemente apelamos ao bom senso. Pelo facto da Bíblia, não se ajustar à dinâmica da sociedade actual, isto não quer dizer, de modo algum, que o seu ensino esteja desactualizado e desajustado ao homem do século XXI!
Podemos, em termos humanos e por variadas razões, não gostar nem concordar com o povo judeu, ao associar a este o Sábado! Mas também, até informação em contrário, não temos o direito de afirmar e ensinar e tentar anular que tal ensino, ou verdade está obsoleto, só por que, pessoalmente, achamos que assim é!

Bibliografia:Joaquim Carreira das Neves, OFM, op. cit, p. 128
Idem, pp. 128,129
Idem, p. 129
Abodah Zarah 28 b – Talmude Babilónico
Shabbat 14 d – Talmude de Jerusalém – citado por Mário Veloso, Comentário do Evangelho de João, S. Paulo, 1984, pp. 219,223
Jean Flori, op. cit., p. 176
Hans Walter Wolff, op. cit., p. 120
J. Bonifácio Ribeiro e José da Silva, Compêndio de Filosofia, Lisboa, Publicações e Artes Gráficas, 1972, p. 689
Raiz de onde vem o termo Adão, que não é um nome próprio.
Gerard Von Rad, La Genèse, p. 54
Edmond Jacob, op. cit., p.127
Maximiliano G. Cordero, O. P. e Gabriel P. Rodriguez (direcção de), Biblia Comentada - Sapientales, 2ª ed., Madrid, Biblioteca de Autores Cristianos, Profesores de Salamanca, 1967, Vol. IV, p. 929
Jean Flori, op. cit., p. 176
Hans Walter Wolff, op. cit., p. 120
J. Bonifácio Ribeiro e José da Silva, Compêndio de Filosofia, Lisboa, Publicações e Artes Gráficas, 1972, p. 689

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