quinta-feira, 26 de maio de 2011

O SEGUNDO DIA: OS QUATRO ANIMAIS E UM TRIBUNAL (Daniel 7)

Encontramo-nos numa fase crucial na vida do profeta. Satanás utilizou todos os meios à sua disposição para silenciar o profeta de Deus, pois esta voz era muito incómoda para os seus planos e era preciso silenciá-la para todo o sempre. Os seus intuitos foram, um por um, anulados por Deus para que o profeta, ao ser preservado ao longo das provas anteriores – cap. 1 ao 6 – agora, estivesse pronto para inaugurar o ciclo de visões proféticas visando a trajectória do povo de Deus, ao longo dos séculos, até à gloriosa vinda do Senhor Jesus.
À medida que avançarmos, retomar e reforçar, aqui e ali, o que já aflorámos no decorrer deste trabalho para que, à medida que formos avançando se torne cada vez mais clara a nossa compreensão de quem é quem, neste caso específico – o chifre pequeno – sem qualquer receio de errar nas propostas a apresentar, as quais conduzirão o leitor a uma clara convicção acerca da origem, natureza e propósito deste poder contrário às Escrituras.
Ao longo do estudo deste capítulo iremos ver a continuidade do quanto pudemos ver no capítulo anterior – a estátua – para que possamos saber, à medida que avançamos este Poder contrário a Deus que actuará, sob diversas formas até à gloriosa vinda de Cristo. Assim, o que iremos fazer, desde já, é procurar algumas evidências, à luz das quais possamos concluir com segurança que esta personagem é, inquestionavelmente, a entidade que queremos mostrar. Consequentemente iremos mergulhar nas Sagradas Escrituras para que possamos sublinhar estas mesmas evidências que caracterizam este Poder que se manifesta de diferentes maneiras. Finalmente, a soma de todas as evidências encontradas nos mostrarão, claramente, a identidade que, tal como já vimos, apresenta-se, sub-repticiamente, como um modesto – barro de oleiro.
Façamos, desde já, ao iniciarmos este capítulo, um breve resumo do capítulo anterior, da estátua que era a figura principal do sonho do rei Caldeu:
Como podemos ver, na parte final da estátua (os pés), nestes encontramos ainda o elemento ferro, o que significa que Roma ainda está presente. A seguir, vimos que estes pés têm 10 dedos, ou seja, as correspondentes divisões do Império romano devido às incursões bárbaras – continuando a ser Roma. A seguir a esta fase – Roma dividida - irá juntar-se um outro elemento estranho – barro de oleiro – que representa a Igreja. Nesta última fase de Roma a Igreja unir-se-á a o Poder civil (Estado) apesar destes elementos serem totalmente incompatíveis (Ferro/Barro). De seguida, eis que surge, “no tempo destes reis” uma estranha “pedra” a qual representa o juízo e a 2ª vinda de Cristo; devido ao impacto desta aparecerá uma grande montanha que, representa, por sua vez, a implantação do reino eterno de Jesus Cristo, reino que será estabelecido após o período dos 1000 anos – cf. Apoc. 20. Na sucessão de todos estes elementos podemos ter um vislumbre do que acontecerá desde o rei Nabucodonosor até ao estabelecimento deste reino eterno de Cristo.
A visão
O texto bíblico e refere que foi mostrado ao profeta, em visão, que “os quatro ventos do céu combatiam no mar grande” – v. 2. Comecemos, desde já, por considerar estes dois elementos importantes - ventos e mar - que servem de base para todo o cenário que se segue.
a)- quatro ventos: - a referência aqui feita a estes quatro ventos é uma alusão subentendida dos quatro pontos cardiais (Norte, Sul, Este e Oeste). Estes ventos que agitam o mar, na profecia simbólica, são usados para representar: contendas, guerra, movimentações políticas, diplomáticas e militares – cf. Jeremias 49.36; Zacarias 6.1-5; – necessárias para a mudança de um Império para o outro.
b)- águas: - na Bíblia, quando a profecia se refere a águas, está a referir-se a “povos, multidões, nações, línguas” – cf. Jeremias 46.7,8; Isaías 8.7; 17.12,13; Apocalipse 17.15.
Estes elementos dados pelo profeta, indicam que haverá guerra entre as nações. Estas lutas são necessárias e, ao mesmo tempo, inevitáveis, pois nenhuma potência quer perder a supremacia adquirida. Desde já, estes primeiros elementos deixam antever uma clara sucessão de Impérios, tal como tinha sido anunciado no sonho de Nabucodonosor - a estátua – do capítulo 2. Os acontecimentos a que Daniel se refere, decorreriam na zona de maior aglomeração de população da época – a bacia do mar Mediterrâneo. Passemos agora à apreciação dos diferentes símbolos correspondentes aos sucessivos Impérios.
A- Os diferentes animais
O texto continua a fornecer alguns elementos que visam uma maior e melhor compreensão do que se seguirá, referindo que: - “quatro animais grandes, diferentes uns dos outros, subiam do mar” – v. 3. Mas, qual o significado destes “animais”, o que é que eles representam? O profeta revela-nos que “são quatro reis que se levantarão da terra” – v. 17. Portanto, estes animais são “diferentes uns dos outros”, isto quer dizer que cada um tem um corpo próprio que o distingue dos demais. Na realidade histórica, cada monarquia universal tem o seu próprio território.
1) O leão
O primeiro animal do texto bíblico é caracterizado da seguinte maneira – “um leão que tinha asas de águia (…) que lhe foram arrancadas (…); foi levantado da terra e posto em pé como um homem e foi-lhe dado um coração de homem” – v. 4. A imagem do leão é símbolo de força, pois é o rei dos animais – Provérbios 30.30. A representação de Babilónia por este animal era familiar ao profeta Jeremias: - 49.19; 50.43,44. Este animal tinha asas de águia, a rainha das aves, a qual ilustra a rapidez das conquistas dos babilónios sob Nabucodonosor – Habacuque 1.6-8.
Depois, as asas foram arrancadas, denunciando que tanto a audácia como o espírito de conquista desapareceriam. Na realidade, a sucessão rápida dos soberanos em Babilónia muito contribuiu para o enfraquecimento e desaparecimento de tal esplendor.68 Um outro pormenor é acrescentado “foi levantado da terra e posto em pé como um homem e foi-lhe dado um
coração de homem”. Estes elementos trazem à recordação os acontecimentos descritos no capítulo 4.16,34-36. A posição vertical aqui anunciada ilustra a disponibilidade para receber a mensagem vinda de Deus – a dimensão religiosa do monarca. Todos estes elementos identificavam plenamente este primeiro animal como sendo Babilónia.
2) O urso
“o qual se levantou de um lado, tendo na sua boca três costelas entre os dentes” – v. 5. Este animal simboliza o Império Medo-Persa. O crescimento do reino dos Medos foi interrompido pelas tribos Persas. Mais tarde, sob a chefia de Ciro, o Persa, a Média é absorvida, fazendo parte do Império dos Persas. O facto deste animal ter-se levantado de um lado, revela a preponderância da influência Persa sobre a Média, apesar de estarem ligados entre si. Este animal, escolhido para simbolizar esta coligação, é forte e brutal, representando a crueldade conhecida dos Persas. A alusão a estas costelas é uma referência às potências esmagadas por este poder que, simbolicamente, o animal representa, a saber: Babilónia, Lídia e Egipto.
3) O leopardo
“e tinha quatro asas de ave nas suas costas; tinha também quatro cabeças e foi-lhe dado domínio” – v. 6. A figura deste animal é utilizada para indicar rapidez – cf. Habacuque 1.8. Babilónia, para demonstrar rapidez de conquista, o animal que a representava tinha, como vimos, duas asas de águia – v. 4. Neste símbolo, quatro asas, servem para mostrar ao leitor a excepcional celeridade das conquistas efectuadas pelo símbolo que este animal representa – a Grécia – na pessoa de do grande comandante macedónio Alexandre Magno. Devido a esta particularidade, alguns historiadores apelidam Alexandre, o Grande, de “o raio de guerra”. Este grande conquistador irá morrer prematuramente. Para ilustrar esta curta e episódica existência desta excepcional máquina de guerra, deste grande estratega, é-nos dito que “a sua curta vida passara-se totalmente em campanhas”.
Como já vimos, anteriormente, no profeta Daniel, trata-se do mesmo poder, pois “o terceiro reino terá domínio sobre toda a terra” – Daniel 2.32,39. Na realidade, o domínio é completo, universal, pois não se limitou, como os outros, ao aspecto meramente político-geográfico, mas também cultural; na realidade a Grécia marcou o panorama cultural da sua época, como influenciou as civilizações vindouras como se poderá apreciar nesta declaração: - “(…) as influências – na religião, na filosofia, no teatro e na historiografia – tornaram-se tão fortes que foram protestadas com veemência. A conquista gradual do mundo helenístico inundou Roma. (…) Em muitas áreas é impossível discutir as ideias romanas separadas dos seus modelos ou inspiração gregos”. A alusão às “quatro cabeças” do animal indica a partilha do Império grego entre os quatro generais de Alexandre, visto que, devido à morte prematura deste, não deixou sucessor. À falta de sucessor directo, assim ficou repartido o vasto Império de Alexandre: 1- Cassandro, ficou com a Macedónia; 2- Ptolomeu, apoderou-se do Egipto; 3- Lisímaco, ficou com a Trácia; 4- Seleuco, com a Síria.
4) O estranho animal
“(…) terrível, espantoso e muito forte, o qual tinha dentes grandes de ferro; ele devorava e fazia em pedaços e pisava aos pés o que sobejava; era diferente de todos os animais que apareceram antes dele e tinha dez pontas (chifres)” – v. 7. O profeta Daniel mostra um particular interesse em saber: 1- “a verdade a respeito do quarto animal”; 2- acerca “das dez pontas (chifres) que tinha na cabeça”; 3- finalmente, “da outra (ponta, chifre) que subia, de diante da qual caíram três, e que tinha olhos e uma boca que falava grandiosamente (v. 8)” – v. 19,20…) – cujo significado e amplitude veremos mais abaixo. Vejamos as vertentes que intrigam o profeta:
a) – Paralelamente ao que vimos descrito no sonho de Nabucodonosor – Daniel 2 -, que caracterizava o 4º Império – o ferro/Roma – aqui encontramos referenciada a presença do mesmo metal, o que indicia que estamos na presença da mesma realidade anterior simbolizada pelo ferro - Roma. Aqui, esta mesma entidade – ferro/Império Romano - é apresentada com mais detalhe, e à medida que avançamos, mais elementos são acrescentados para uma melhor compreensão dos anteriores. Este animal apresenta algumas características que o tornam, segundo o texto, “diferente de todos os animais que apareceram antes dele”. Este animal apresenta, efectivamente, duas fases distintas, as quais o tornam diferente dos demais: 1- os diferentes animais que o precederam eram monarquias, mas a forma de governo de Roma era uma república. Estas diferenças eram realçadas pela sua Constituição, leis, vida económica e política; 2- de tal forma assim é, que não foi possível ao profeta encontrar, em toda a fauna conhecida, um animal que a pudesse, simbolicamente, representar visto este animal estar a representar duas fases distintas de um mesmo poder! Este pormenor sugere, efectivamente, algo de inesperado e incompreensível, mesmo para a mente humana mais brilhante. Esta não correspondência animal, manifesta, por si só, o quanto a sua existência é misteriosa, incompreensível e estranha. Por outras palavras diremos que: - além de ser um reino político – ferro/Roma Imperial - tem uma outra vertente que o torna diferente dos demais que o antecederam resultante da amálgama ferro/barro – a religiosa (Roma Papal).
b) - Este animal tem “dez chifres”. Qual será o seu significado? O relato bíblico revela que estas pontas (chifres) representam: - “reis” – v. 24a. Assim, estes dez chifres (reis) ganham expressão no seio do Império Romano, devido às invasões dos povos bárbaros que conquistaram parte do território pertencente ao Império Romano, desmembrando-o. Estes povos irão, não só, destruir as fronteiras existentes como também destabilizar a parte ocidental do Império, em número de dez, já representados anteriormente, pelos dedos dos pés da estátua: Visigodos, Ostrogodos, Vândalos, Suevos, Alamanos, Burgúndios, Francos, Anglo-saxões, Hérulos, Lombardos. Mais abaixo voltaremos a abordar estes reinos (chifres).
c) – Este animal, na mesma linha do cap. 2, representa, Roma sob três aspectos importantes: 1ª fase - Roma Imperial; 2ª fase - Roma Imperial invadida pelas tribos bárbaras (dez dedos/chifres); 3ª fase - A passagem da Roma Imperial (ferro) à Roma papal (ferro/barro).
Estas 3 etapas estão claramente definidas no texto bíblico: a) Roma Imperial - “(…) daquele mesmo reino”; b) Roma invadida e dividida – “se levantarão dez reis”; c) Roma papal – “e depois deles se levantará outro” – esta ponta (chifre) pequena que se levantaria, com poder, após as dez pontas (chifres) já existentes – cf. v. 8,23,24.
5) O chifre pequeno
Esta, indiscutivelmente, apresenta algumas características que a torna única em relação às demais:
a)- A sua natureza: - é declarado que seria: a) uma potência temporal – porque era uma ponta (chifre), tal como as demais; b) uma potência espiritual – porque era diferente das primeiras, visto ter “olhos e uma boca que falava grandiosamente” – v. 8.
b)- A sua situação geográfica – este chifre, como vimos, não representa um poder vindo do exterior ao grupo constituído pelos dez reinos resultantes do desmembramento do Império Romano do Ocidente e ao qual se tenha unido. Mas ele é parte integrante visto que todos saem da cabeça do mesmo animal – Roma.
c)- O seu humilde começo – o texto bíblico refere que este surge, na sua fase inicial, de entre os dez chifres (v. 8), mas com poder “depois deles” – v. 24. Socorramo-nos da História para percebermos o que se passou:
- No seu início, o chifre pequeno foi alvo da autoridade Imperial e, ao longo da sua história, podemos ver algumas das suas fases:
- do ano 90 a 140 – período dos Pais Apostólicos. Perseguições sob o Imperador Trajano (98-117).
- do ano 140 a 180 – período dos primeiros Apologetas (Justino e os Judeus gnósticos). Perseguição sob o Imperador Marco Aurélio (161-180).
- do ano 180 a 220 – período dos contra o gnosticismo. Reacção herética: Montanismo, Tertuliano. Reacção ortodoxa: Ireneu. Escola catequética. Clemente de Alexandria. Perseguições sob o Imperador Septímio Severo (193-211).
- do ano 220 a 270 – período de reforço da autoridade clerical. Hipólito, Orígenes, Cipriano. Controvérsia antitrinitária. Perseguições sob o Imperador Décio (249-251).
- do ano 270 a 300 – período de paz
- do ano 300 a 313 – perseguição sob Diocleciano (284-305).
A passagem do I século foi de capital importância para a história cristã. Todos os apóstolos tinham desaparecido. Aqui e ali começava a surgir uma organização flexível e progressiva. No início do II século, a Igreja primitiva parecia dividir-se em pequenos núcleos instáveis (ditas seitas) que, muitas vezes em luta uns contra os outros, estavam condenados a desaparecer. O desenvolvimento do episcopado foi, de certa forma, uma resposta a esta ameaça. No entanto, na passagem “da organização colegial à responsabilidade episcopal, houve um tempo de flutuação, com hesitações e resistências. Certas comunidades como Jerusalém ou Alexandria possuem, desde o começo do cristianismo, o seu bispo”; por outro lado “em Roma, a fusão entre os sucessores de Pedro e o conselho dos presbíteros da cidade, não parece que se tenha efectuado sem atritos. No tempo de Clemente, a Igreja romana é dirigida ainda por um conselho presbiterial, com um presidente no topo”.
Recordemos que Clemente (88-97), segundo o cômputo da Igreja romana, foi o 3º sucessor de Pedro na Sé de Roma. Este, no decorrer do seu pontificado, escreveu uma carta à comunidade cristã de Corinto, agitada por grave dissensão interna; e, acerca deste acto é dito que “ao fazê-lo, atesta a consciência do seu primado universal como sucessor de Pedro”. Mas, teria sido assim? Ao escrevê-la, em que termos, em nome de quem a escreveu? Ora, vejamo-la: - “A Igreja de Deus que peregrina em Roma, à Igreja de Deus que peregrina em Corinto (…)”.Clemente escreveu a esta Igreja, não em seu nome pessoal mas em nome da Igreja de Roma. Não existe aqui qualquer vislumbre da ideia de uma qualquer autoridade papal. A discórdia entre o bispo de Roma e os cristãos da Ásia, radicados em Roma, acentua-se porque estes, fiéis à tradição da sua Igreja original, continuam a celebrar a festa da Páscoa no dia 14 de Nisan, isto é, na noite de Sexta-feira para Sábado e não “na noite de Sábado para o Domingo, como os outros fiéis da cidade”.87 Este diferendo doutrinário aconteceu no tempo do Papa Victor I (189-199), o qual contribuirá para romper “com todas as Igrejas da Ásia menor, porque recusaram submeter-se à sua decisão quanto à contenda sobre a festa da Páscoa”. Tudo apontava para que a Igreja, situada no coração do Império, gradualmente reivindicasse a primazia, em detrimento das restantes, sob a estranha nomenclatura – sucessor de Pedro! O bispo de Roma já não se sentia um com os demais colegas, um – par inter pares (par entre pares) - mas sim como um – primus inter pares (o primeiro entre pares).
A Igreja será atacada, pelo exterior, pela perseguição; pelo interior, por polémicas internas; no entanto, pelos seus mártires e apologetas ela sairá vencedora. É atacada, sacudida pelas heresias motivadas por este ou aquele ponto doutrinário. Mas, tal como nas perseguições, ela também sai vencedora de todos os ventos de doutrina contrários. A Igreja de Roma era a primeira e a mais populosa do Império, sendo os cristãos de Roma “cerca de cinquenta mil”. A partir do Imperador Constantino tudo irá ser diferente, visto este constituir um verdadeiro marco de viragem na história da Igreja de Roma. Segundo a tradição, Constantino teria sido iluminado por uma visão na véspera da batalha da Ponte Mílvio, da qual resultou a sua repentina conversão ao cristianismo. Sucede-se um período de tolerância para os cristãos, culminado pelo famoso Édito de Milão, em 313. Este Édito foi secundado pela promoção do cristianismo a religião do Estado! Qual o resultado de tal amálgama? Aquilo que a História da Igreja, tristemente, o demonstraria, a implementação da “(…) ditadura do cristianismo e a teocracia papal”.
Que nos seja permitida esta reflexão: - passaria pela cabeça de alguém imaginar que, um dia na História, a Igreja – o barro -, lentamente, mas sempre, transformar-se-ia num reino, num Estado, no seio do próprio Estado - Roma!? Quando equacionamos a relação do binómio Roma/Cristianismo, uma pergunta, de imediato, se formula na nossa mente: - na verdade, que relação Roma terá com o Cristianismo e vice-versa? Parece-nos que a resposta é simples e demasiado óbvia: - Nenhuma! Roma está, como sempre esteve, directamente ligada a: - orgias - circo – feras – gladiadores – enfim, numa palavra – morte, com requintes de malvadez, e muito sangue! E, o que é que os historiadores pensam a este respeito? Vejamos um breve comentário: - “mercê de uma reviravolta imprevista, Roma cessa de ser o bastião do paganismo para se tornar no quartel-general do cristianismo (…)”.
Que veria o apóstolo Pedro se ressuscitasse e visitasse Roma? Veria, os seus ditos sucessores, num trono existente num reino… ainda que pequeno (quarenta e quatro hectares), cujo nome é - Vaticano. Certamente que teria um choque emocional, pela simples razão de ter deixado tal legado episcopal, sem nunca se ter apercebido de tal facto! Na verdade, o que está em causa é, numa palavra – a consolidação do poder – da Igreja neste mundo! Sim, “O bispo de Roma, tomado de um impulso irresistível, aumenta dia a dia de importância e ei-lo que, no Ocidente, toma o lugar do Imperador quando o trono vem a ficar vazio”. Espantoso! Em termos humanos, quem ousaria supor tal transformação? “(…) os bárbaros que haviam desdenhado uma seita humilde e proscrita, aprenderam rapidamente a estimar uma religião que fora recentemente adoptada pelo maior monarca e pela nação mais civilizada do globo”.
A gratidão da Igreja exaltou as virtudes e desculpou as fraquezas daquele que irá instalar o cristianismo no trono do mundo romano; a partir de agora “a salvação da gente comum era comprada por baixo preço; num só ano, doze mil homens receberam o baptismo em Roma, para além de um número correspondente de mulheres e crianças; uma veste branca, mais vinte moedas de ouro tinham sido prometidas pelo Imperador a todos os convertidos”. O cristianismo, na grande cidade, estava a ganhar cada vez mais terreno Era mais do que tempo para se transitar da catacumba, da opressão e vexame públicos, para uma fase mais confortável e, de preferência, em consonância com o Poder instituído.
E os Bárbaros, o que fazer com eles? Seria necessário um programa de evangelização em larga escala ou, para que tal fosse possível, bastaria invocar o nome do Imperador, um dos nossos, para que os resultados estivessem assegurados. Vejamos como a História retrata o que acabamos de referir: - “a guerra e o comércio tinham propagado o conhecimento do evangelho para lá das fronteiras das províncias romanas; e os bárbaros que tinham desdenhado uma seita humilde e proscrita, aprenderam rapidamente a estimar uma religião que fora tão recentemente adoptada pelo maior monarca e pela nação mais civilizada do globo”. O milagre aconteceu! A Igreja rudimentar, tida por seita, é promovida a religião oficial! O que é que guardou da pureza do seu passado, isto é, tudo o quanto estava de harmonia e de acordo com o imutável evangelho? Na união da Igreja com o Estado devido ao famoso Édito de Milão, resultaram ganhos e perdas para a Igreja:
a) Ganhos:
1- De minoria perseguida, a Igreja cristã tornou-se, subitamente, toda-poderosa.
2- O culto era mais político do que religioso.
3- Para assegurar a supremacia era necessário chamar a si as forças omnipotentes de que só o Imperador era detentor – braço secular – ou seja, o uso da força para se fazer obedecer.
b) Perdas:
1- Apoiada pelo Estado, a Igreja tornar-se-á, com extrema rapidez, intolerante e fanática, iniciando, ela própria, uma série de perseguições.
2- O exílio já não bastava. Contra os dissidentes, mesmo cristãos, passar-se-á a usar a tortura e os suplícios. Sob o reinado de Honório (395-423), tanto a heresia como os casos de cisma eram assimilados ao crime.
3- A adesão ao Estado terá de ser paga pela Igreja. O preço a pagar será a sua total submissão a este.
4- A Igreja irá servir-se do – braço secular – para obter conversões.
5- A fim de aumentar o número dos seus adeptos, o cristianismo irá, a partir de agora, ganhar a confiança dos reis bárbaros e da sua corte; uma vez conseguida a adesão do chefe… o resto virá.
Assim, se o Estado Romano fez um negócio algo duvidoso, também a Igreja! Ainda que arrecadando grandes lucros materiais, veio a sofrer terríveis perdas espirituais.
6- O seu crescimento gradual – Se os cristãos tinham conhecido um período favorável de 313 a 323, agora, o Imperador Constantino devia ao deus das vitórias uma prova inequívoca do seu reconhecimento. Este irá demonstrá-lo através de um acto histórico surpreendente. Este irá criar uma segunda Roma, isto é: a cidade de Constantinopla, no Oriente!
Será que queria formar uma nova cidade totalmente cristã, enquanto que a de Roma sofria de um incurável paganismo? Porquê uma segunda Roma? Para o historiador, “a fundação de Constantinopla é um mistério político”. E, mercê desta reviravolta inesperada dos acontecimentos, Roma cessa de ser o bastião do paganismo, na pessoa do Imperador, para se tornar no quartel-general do cristianismo! Devido a esta conjuntura, o bispo de Roma vê aumentar, dia após dia, a sua importância e ei-lo que, no Ocidente, toma o lugar do Imperador quando o trono vem a ficar vazio. A “Igreja de romana veio a apoderar-se insidiosamente do lugar antes ocupado pelo Império Romano. Na realidade, este perpetuou-se nela. O papa – pontifex maximus (sumo pontífice) – veio a suceder ao César. O papa passa a ser Imperador”.
Na realidade, na ausência do Imperador, o bispo de Roma apodera-se do título pagão do Imperador – sumo pontífice (fazedor de pontes) – estabelecendo, ligando, o céu à Terra. Se o bispo de Roma passa a ocupar o lugar do Imperador, então o que acontecerá ao bispo de Constantinopla, a nova cidade e residência Imperial? Se a Igreja irmã, a de Roma, cresceu à sombra da influência deste soberano, não irá acontecer a mesma coisa à Igreja e ao bispo de Constantinopla? Provavelmente que sim. Poderá, porventura, o bispo desta manter a mesma posição do passado recente, em relação a Roma, isto é, de subalternidade em relação a Roma? A resposta não se fez esperar! Assim, “o segundo concílio ecuménico de Constantinopla, em 381, decreta que o bispo desta cidade detém o primeiro lugar depois do de Roma, , Cânone 3”.
A polémica instala-se… pois quem gosta de perder posições adquiridas? Ninguém… nem tão pouco a Igreja! O bispo de Roma irá fazer tudo para chamar a si a primazia de Pedro. A rivalidade entre Roma e Bizâncio, entre a velha e a nova Roma, fará com que “a partir do concílio de 381, em Constantinopla, o antagonismo resulta na elaboração de sucessivos cânones. O cânone 3º declara que Constantinopla, na qualidade de segunda Roma terá direito às honras devidas à sua posição e que o bispo de Bizâncio terá autoridade sobre Antioquia e Jerusalém, imediatamente a seguir ao bispo de Roma”. Estas decisões aprovadas foram relativamente fáceis de tomar, visto que a este Concílio, “o bispo de Roma - Dâmaso I (366-384) - não fora convidado”.
Leão I
O objectivo era claro, o de dar a Constantinopla uma posição inatacável, no Oriente. Mas nada ficaria por aqui, era necessário mais; sim, dar um passo em frente e a oportunidade para o fazer, finalmente, chegou. Assim, no Concílio Ecuménico de Calcedónia, em 451, na sua 15ª sessão “por diligência do Imperador, foi promulgado o Cânone 28 que concedia a Constantinopla, como uma nova Roma, todas as prerrogativas da antiga”. Como é que o bispo de Roma iria reagir? Ele iria aceitar tal decisão? Nesta altura, o bispo de Roma, era o papa Leão I, o Grande (440-461). Convém aqui recordar que este Papa foi o primeiro: 1- a tomar o velho título pagão de pontifex maximus, que os Imperadores tinham abandonado; 2- a formular a ideia de o Papa ser representante de S. Pedro. É sob o seu pontificado, na tentativa de contornar tal revés, a favor do bispo de Constantinopla, que se irá falsificar “o 6º cânone de Niceia, ao adicionar as palavras: ”.
É acerca deste Papa que são ditas as palavras que servem de mote para o que iremos abordar a seguir: - “É a ele, mais do que a qualquer outro, que se deve a concepção hierárquica segundo a qual . Deu ao papado o máximo de expansão teórica, mas este continuava a fazer parte da Igreja de Estado do Império, e faltava resolver a questão das relações ambíguas do bispo de Roma com o Império Romano”.
7- a sua consolidação – acabámos de sublinhar, em traços gerais, o contexto do início do crescimento do “chifre pequeno” – Roma papal/Igreja. No entanto, tal como ficou assinalado, ainda permanecem alguns obstáculos à expansão e consolidação deste Poder: a) os três chifres; b) o Imperador – v. 8,20,24:
a- Arranca “três das pontas primeiras” - para consolidação da sua posição e poder. Como veremos mais abaixo com mais detalhe, estas pontas, - Ostrogodos, Vândalos, Hérulos – foram arrancadas de raiz porque a religião professada por estes era a ariana, o que causava um contínuo conflito com a religião do bispo de Roma, assim como uma séria ameaça ao seu poder em consolidação.
Recorde-se que o Imperador Justiniano (527-565), num dos seus éditos, declarou que o bispo de Roma era a “cabeça de todas as outras Igrejas”. Não bastava que o bispo de Roma desfrutasse de direito desta autoridade; tornava-se necessário que a desfrutasse de facto. Mas, para que tal acontecesse era preciso ocorrer algo de importante, ou seja, - anular três obstáculos descritos na palavra profética – v. 24b. O primeiro destes chifres – os Hérulos –, foi vencido pelos Ostrogodos em 493. O segundo obstáculo – os Vândalos – foi vencido em 534 por Belisário, general ao serviço do Imperador Justiniano. E este mesmo general, em Fevereiro do ano 538, derrota o último destes três chifres – os Ostrogodos. Finalmente, o bispo de Roma fica completamente liberto do último bastião da religião ariana - os Ostrogodos.
8- As suas dimensões territoriais – seja na qualidade de potência temporal, como rei (chifre) ou príncipe coroado, este deveria de ser bastante mais pequeno que os outros. Enquanto potência política e temporal, efectivamente, é o mais pequeno dos soberanos.
Mas, para tal como um soberano, ter poder temporal e exercer a sua influência, era preciso, tal como qualquer outro soberano, ter Poder, possuir um domínio sobre terras, bens e pessoas. Mas, a ocasião não se fará esperar muito. O século VIII é significativo para a sede apostólica. Neste período, na primeira parte deste século, o perigo vinha do rei Astolfo, rei dos Lombardos, ao pôr termo ao domínio Bizantino na Itália central, ao subjugar e tomar o Exarcado de Ravena, em 751.
O pontífice romano Zacarias (741-752), apercebe-se da impotente ajuda do Imperador e, para fazer face a esta ameaça, apela a uma potência estrangeira em quem depositasse confiança. Assim, recorre ao filho de Carlos Martel, Pepino, o Breve, que se tornara o único prefeito do palácio. Como este procurava legitimidade para se apoderar do trono, enviou, em 750, uma embaixada a Zacarias.
Em 751, os Francos levam Pepino, o Breve, ao poder. No mesmo ano, Bonifácio, o missionário da Germânia, consagrou o novo monarca. Estêvão II (752-757), sucessor de Zacarias, deslocou-se à Gália, a Saint-Denis, para renovar, em 754, a consagração de Pepino, o Breve. Este gesto nacional foi acompanhado de manobras diplomáticas e militares. Estabeleceu-se que o recém-eleito do Papa deveria vir em seu auxílio e restituir-lhe os territórios conquistados pelos Lombardos. O monarca interveio e em 756 forçou os invasores a levantar o cerco de Roma. No mesmo ano obrigou os vencidos a ceder à Igreja as terras conquistadas. No essencial, o ducado de Roma e o antigo Exarcado de Ravena onde se incluía os territórios de Ravena, Bolonha e Ferrara, assim como o ducado de Espoleta que vieram engrossar os territórios entregues ao pontífice. Agora a sua situação era diferente devido a Pepino, pois esta dádiva que fizera ao pontífice romano serviria “para remissão dos seus pecados e salvação da sua alma. A magnífica doação fora outorgada em plena e absoluta soberania e, aos olhos do mundo surgiu pela primeira vez um bispo cristão investido das prerrogativas de um príncipe temporal – a nomeação dos magistrados, o exercício da justiça, a cobrança de impostos e a riqueza do palácio de Ravena.”.
Perguntar-nos-emos o porquê desta generosidade do monarca Franco. Ela foi, uma espécie de “devolução” dos territórios ocupados pelos Lombardos ao seu anterior e legítimo proprietário – o bispo de Roma. Mas, o que é que a História nos diz acerca da veracidade deste título de propriedade do bispo de Roma? Ora vejamos:
- Existe um documento chamado e conhecido por “Doação de Constantino” – documento supostamente elaborado e entregue pelo Imperador Constantino ao pontífice Silvestre I (314-335). Este documento foi levado pelo Papa Estêvão II ao soberano Franco para que este conhecesse o quanto tinha sido usurpado ao pontífice e que era necessário reaver. O documento tem o seguinte teor: - “(…). E para que a dignidade pontifícia não seja inferior, mas que tenha uma dignidade e glória maiores que as do Império terreno, como possessões de direito da Santa Igreja Romana (…), a cidade de Roma e todas as províncias, distritos e cidades de Itália e do Ocidente”. Foi graças a este documento que o bispo de Roma pôde alcançar o seu propósito – competir e, se possível, superar qualquer monarca.
A data deste documento apócrifo não é conhecida mas, “investigações recentes sugerem ter sido elaborado, trecho a trecho, em diferentes passos, a partir de 754”. Portanto estamos em presença de um documento do século VIII e não do IV! Esta fraude foi descoberta graças ao desenvolvimento da disciplina da Diplomática, por “Lorenzo Valla (1407-1457), pai da famosa Declamatio, na qual ficou demonstrado que o Imperador Constantino não é o autor do documento no qual se faz a doação ao papa de uma parte do seu Império”. Não deixa de ser interessante o comentário feito por um sacerdote. Este, ao comentar alguns aspectos do pontificado de Estêvão II, assim como as doações do monarca Franco ao pontífice romano, acrescenta: - “não era ainda o poder temporal, mas os alicerces estavam lançados”. Na realidade “em 756 era criado um Estado pontifical sob a protecção de Pepino. (…), nascia uma nova potência: a Roma pontifical”.
9- A sua linguagem – O chifre pequeno tinha “uma boca que falava grandiosamente” – v. 8,19,20. Que tipo de palavras proferidas por este Poder estarão englobadas nestas “palavras”?
Uma vez mais, o livro do Apocalipse complementa o do profeta Daniel ao dar-nos a conhecer o alcance das palavras ditas pelo chifre pequeno relatadas por Daniel. O texto do Apocalipse refere que a este Poder “foi-lhe dada uma boca para proferir grandes coisas e blasfémias (…)” – Apoc. 13.5. Assim, à luz deste texto, que “grandes coisas “ são estas que o chifre pequeno falava? Tal como o texto refere, são blasfémias. O que e uma blasfémia? O dicionário refere que é “toda a palavra injuriosa contra Deus; atribuição de defeitos a Deus ou a negação de qualquer dos seus atributos; dito insultuoso a pessoa muito respeitável; impropério”. No contexto bíblico, blasfémia não é negar a existência de Deus ou qualquer uma destas definições acabadas de ver. Blasfémia, biblicamente falando, tem outro peso, outro significado muito mais profundo e solene. Reiteramos, uma vez mais que não estamos aqui a apresentar a nossa opinião, apontando arbitrariamente para esta ou aquela pessoa ou sistema. Vejamos então o que a Palavra de Deus entende e considera uma blasfémia:
1- Marcos 2.1-7 - “(…). E vieram ter com ele conduzindo um paralítico, trazido por quatro. (…). E Jesus, vendo a fé deles, disse ao paralítico: Filho, perdoados estão os teus pecados. E estavam ali assentados alguns dos escribas que arrazoavam em seus corações, dizendo: Por que diz este assim blasfémias? Quem pode perdoar pecados, senão Deus?”
Trouxeram este enfermo aos pés de Jesus e, ao ver todo aquele esforço para que o doente pudesse chegar mais perto d’Ele, diz somente: - “(…) Filho, perdoados estão os teus pecados”. Na verdade, teria Jesus poder e autoridade para proferir tais palavras? A resposta é, evidentemente, afirmativa. Pela única e simples razão que Jesus Cristo era Deus com Deus. Mas, aqueles que O rodeavam e que escutaram aquelas palavras nunca acreditaram, nunca conseguiram ver o mínimo sinal da divindade expressa em Cristo Jesus; por esta razão se expressaram daquela maneira.
2- João 8.56-58 - “Abraão, vosso pai, exultou por ver o meu dia, e viu-o e alegrou-se. Disseram-lhe pois os judeus: Ainda não tens cinquenta anos e viste Abraão? Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse eu sou. Então pegaram em pedras para lhe atirarem; mas Jesus ocultou-se e saiu do templo (…)”.
Aqui Jesus mostra a estes Seus contemporâneos a Sua pré-existência, ao recordar a cena vivida pelo patriarca Abraão relatada em Génesis 22. 1-18. Eles compreenderam perfeitamente bem o alcance desta pretensão e prepararam-se, de seguida, para O apedrejarem. O crime? Simplesmente porque, para eles, Jesus estava a ser blasfêmo.
3- João 10.30-33 - “Eu e o Pai somos um. Os judeus pegaram então outra vez em pedras para o apedrejar. Respondeu-lhes Jesus: Tenho-vos mostrado muitas obras boas procedentes de meu Pai; por qual destas obras me apedrejais? Os judeus responderam, dizendo-lhe Não te apedrejamos por alguma obra boa, mas pela blasfémia, porque, sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo”. À luz deste contexto bíblico, este chifre pequeno, tal como vimos, também chamará a si mesmo o poder de perdoar pecados, ao chamar-lhe – sacramento; dizendo que (…) os bispos e os presbíteros é que têm, em virtude do sacramento da Ordem, o poder de perdoar todos os pecados, (João 5.24)”. b- Com as Sagradas Escrituras – a)- a citação da Palavra de Deus – João 5.24 – está totalmente desvirtuada, pois a acção que Bíblia refere não tem o sentido que o Catecismo deixa transparecer, ou seja, não que o penitente não esteja “sujeito ao julgamento”, mas que, quando for submetido a este, “não será condenado” por ter aceite a Palavra de Cristo; b) Se assim não fosse, isto é, que toda a criatura terá que passar em juízo, a Palavra de Deus não era digna de fé, pois ela atesta o contrário: - II Coríntios 4.10: Hebreus 9.27.
Como vimos anteriormente, este Poder ao professar ser Deus na Terra chama a si o poder para perdoar pecados e assim sendo, o penitente quando procura o perdão dos seus pecados, em lugar de ir directamente a Deus, tal como as Sagradas Escrituras o ordenam – I João 1.8,9 – dirige-se, em conformidade com o que aprendeu de doutrinas humanas, ao sacerdote, mero mortal, para o efeito. Assim, tudo isto, em face do claro ensino da Palavra de Deus, não passa de doutrinas blasfemas – ou seja, o humano ao ensiná-las e a praticá-las, não faz mais que usurpar um poder exclusivo do divino!
Vejamos ainda, de uma forma simples, além das demais vistas anteriormente, a maneira como este Poder proferiria “palavras contra o Altíssimo” ao tomar o lugar da divindade: O Pai, o Filho e o Espírito Santo
a)- O Pai - Mateus 23.9 - “A ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus” - Jesus também advertiu para uma outra face da mesma moeda. Pois este Poder apelidar-se-á de “Santo Padre ou Pai”. Ora, acerca desta forma de tratamento, por ser blasfema, Jesus admoesta-nos a que não usemos, pois ensina-nos que: - “a ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus” – Mateus 23.9.
b)- O Filho – Este Poder chama a si mesmo o título de Sumo Pontífice oriundo directamente dos Imperadores pagãos romanos – Pontifex Maximus. Este título significa: soberano construtor de pontes. A razão era porque se acreditava que o sacerdote era a ponte entre Deus e os homens. Ao ser chamado assim está a substituir a função do Senhor Jesus Cristo como Sumo-sacerdote no santuário celeste, como nosso intercessor – cf. Hebreus 4.14,15; 8.1,2.
c- O Espírito Santo - Ao chamar a si o título de Vigário de Cristo, cujo significado é o representante, substituto de Cristo (como veremos mais abaixo), substitui, desta forma, o papel, ministério, desta terceira pessoa divina. Porquê? Porque o único substituto de Jesus nesta Terra instituído pelo próprio Jesus não é o homem mas, repetimos, o Espírito Santo – cf. João 14.16,26; 15.26
Se este Poder é religioso, isto significa que tem uma Igreja e, como veremos abaixo, uma doutrina própria e, consequentemente, crentes. Assim, uma grande parte do povo de Deus, ainda na ignorância, continua a militar no seu seio. E tanto assim é que na Palavra de Deus encontramos um convite de Deus a todo este povo ainda ali, ao apelar desta maneira pungente: - “(…). Sai dela (Babilónia), povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados e para que não incorras nas suas pragas” – Apoc. 18.4. E quando este convite for endereçado, no tempo próprio, ou seja, quando a Igreja estiver preparada para o fazer, este será ouvido pelos sinceros que ali militam e o abandonarão para engrossarem o verdadeiro povo de Deus, tal como o fizeram alguns no passado, como por exemplo: Nicodemos (João 3.1; 7.50; 19.39); José de Arimateia (Mat. 27.57; Lucas 23.51; João 19.38); Saulo de Tarso – que caiu do cavalo das suas certezas (Actos 7.57,58; 9.4-6).
Vejamos alguns testemunhos históricos desta linguagem e intolerância:
a) – Inocêncio III (1198-1216) – recordaremos aqui, a título de ilustração, da conduta e modo de actuação arrogante do sistema papal, isto é, a maneira como este lidou com a chamada: - heresia Cátara ou Albigense.
Abramos aqui um parêntesis para nos situarmos quando aplicamos certos termos, tais como, “heresia”. Mas sabemos nós a sua razão de ser, qual a sua verdadeira significação? Na verdade, o conjunto destas, leva ao que vulgarmente se conhece pelo nome pejorativo de seitas! Por vezes, este cuidado nos escapa, isto é, de utilizarmos as palavras sema devida atenção acerca das suas raízes e, por vezes, somos levados a tirar conclusões precipitadas.
Então, o que será uma heresia? Esta deriva de uma palavra grega – hairesis – que significa: opinião, escolha. Assim, quando o mundo se tingiu de cristianismo e o poder pontifício se tornou absoluto, esta palavra será utilizada pelas autoridades religiosas a fim de estigmatizar as correntes de pensamento que, de certa forma, constituíam uma ameaçam a doutrina oficial da Igreja. Assim, a heresia foi perseguida como um crime, sendo os heréticos condenados à fogueira.
E uma seita? Esta define-se como “caminho, seguir, ir atrás de; doutrina ou sistema que se afasta da crença geral; reunião de pessoas que professam uma religião diversa da geralmente seguida”. Ou ainda como sendo “uma perversão, uma distorção do cristianismo bíblico e/ou a rejeição dos ensinos históricos da Igreja cristã”. Curiosamente, Jesus, no seu tempo, foi apelidado de ser mentor de uma seita os Nazarenos, a qual Saulo de Tarso (mais tarde S. Paulo), perseguiu com fervor – cf. Actos 9.2; 19.9,23; 22.4. depois converte-se à mesma e, de perseguidor passa a perseguido: - Actos 24.5; 28.22.
Inacreditável! O Filho de Deus, Aquele que disse ser “o Caminho, a Verdade e a Vida” – João 14.6, fora tido como o mentor de uma seita! Mas, quem apelidou tal doutrina – o ensinamento do próprio Deus – de: seita? O Sinédrio – o centro da verdade religiosa da época! Mas, sob qual base? A verdade das Escrituras? Não! Unicamente pela pela força da verdade que era - o grande Sinédrio -, o centro da religião oficial! Portanto, já desde esta altura, o critério, a norma, é uma qualquer confissão religiosa, não porque tenha ou siga a VERDADE mas, unicamente, porque a MAIORIA a segue! Não foi assim, com estes mesmos argumentos que consideraram Jesus como um impostor? A Palavra de Deus mostra-nos isto muito claramente - “(…) também vós fostes enganados? Creu nele, (Jesus), porventura, algum dos principais ou dos fariseus? – João 7.46-48. Fechando o parêntesis. Portanto: - em termos de critérios, nos nossos dias, o que é que mudou? Absolutamente nada, visto que estes continuam a ser os mesmos, ou seja: - a doutrina oficial da Igreja tradicional e maioritária, não as Sagradas Escrituras!
Retomando a heresia Cátara ou Albigense. Na verdade, quem era o papa Inocêncio III? A História conhece-o e caracteriza-o como “o papa mais importante da Idade Média. (…) um indivíduo sedento de glória, astuto, autoritário, inflexível”. Esta dita heresia estava radicada no sul de França. O Sumo Pontífice para silenciar estas vozes discordantes fará apelo à Cruzada, a qual terá início em 1209. Esta não visava a libertação da Terra Santa, mas os inimigos da cadeira de S. Pedro. As forças arregimentaram-se e seguiram para erradicar as vozes discordantes. Quais os motivos destes para responderem afirmativamente ao apelo papal? Somos informados de que “os nobres do norte de França reuniram-se em grande número; eram atraídos, sobretudo, por um rico espólio de guerra”. Foi um verdadeiro massacre! O que nos relata a História acerca do que se passou? Vejamos um pouco: - um tal Simão, de Montfort l’Amaury tomou a direcção da expedição contra os Albigenses e, como resultado: - roubou-se, queimou-se, massacrou-se com entusiasmo.
No frenesim do combate, uma voz de comando foi ouvida: - “Matai-os a todos” gritava o legado do papa, pois “Deus saberá reconhecer os seus”! Finalmente, qual foi o resultado desta Cruzada? Um verdadeira e “(…) autêntica carnificina”. A História dá-nos a conhecer que “só em Béziers, calcula-se que os cruzados exterminaram cerca de 30.000 pessoas”. Em termos económicos - todas as possessões do visconde de Béziers e de Carcassone voltaram às mãos do ambicioso Simão de Montfort. A questão Albigense resolveu-se politicamente pelo Tratado de Paris, em 1229. Na realidade, no Concílio de Latrão, em 1215, foram lançadas as bases da triste e vergonhosamente célebre – Inquisição – a qual será organizada, em 1231, pelo papa Gregório IX.
10- A sua intolerância contra Deus - “E proferirá palavras contra o Altíssimo” – v.25.
a) - Gregório VII (1073-1085) - Na primeira metade do século XI a Igreja estava de certa forma corroída no seu interior. Esta precisava de um homem forte, de alguém que impusesse o que anteriormente se tinha perdido – a ordem. Onde estava esse homem? Dentro em breve iria sair do anonimato alguém “de pequena estatura, desajeitado de aparência, voz débil, mas zeloso defensor do absolutismo papal”. Em 1073 a sua eleição impõe-se com tal evidência que um movimento popular o eleva à dignidade pontifícia. Este homem, um monge de nome Hildebrando tomará o nome de Gregório VII (1073-1085). As suas primeiras acções revelam “o seu invencível desejo de unir os dois poderes – Espiritual e Temporal – para reformar a Igreja”. Gregório VII, para combater a imoralidade reinante no seio do clero, propõe algumas soluções: 1- imposição do celibato a todo o clero; 2- acabar com o escândalo da Simonia; 3- insurge-se contra o direito do Imperador de nomear dignitários para a Igreja.
Tudo isto para que não existissem quaisquer dúvidas acerca de quem mandava na Igreja. Não poderia existir, portanto, para o corpo que é a cristandade, duas cabeças: o papa e o Imperador! Para que as águas ficassem, de uma vez por todas, separadas com toda a clareza, Gregório VII irá elaborar um documento no qual se poderá ver a expressão do seu pensamento a este respeito. O documento em causa, composto por 27 decretos e composto em 1075, chama-se: Dictatus Papae (instruções ditadas pelo Papa). Eis alguns destes decretos:
Artº 02 – “Só o Pontífice romano merece ser chamado universal”
Artº 03 – “Só ele pode destituir ou absolver os bispos”
Artº 09 – “O papa é o único homem ao qual todos os príncipes beijam os pés”
Artº 12 – “É-lhe permitido destituir os Imperadores”
Artº 16 – “Nenhum sínodo pode ser chamado geral sem a sua autoridade”
Artº 20 – “Ninguém pode condenar uma decisão da Sede Apostólica”
Artº 22 – “A Igreja romana nunca errou e, como atesta a Escritura, nunca poderá errar”.
Para exemplificar a arrogância do sistema pontifical, recordaremos ainda um outro episódio. O Papa Gregório VII teve um diferendo com o Imperador Henrique IV (1056-1106), da Alemanha, do qual sai vencedor o Papa. E, para reparar o mal causado, o Imperador desloca-se ao encontro deste. Assim, no dia 27 de Janeiro de 1077, apresenta-se diante da ponte levadiça do castelo de Canossa, na Toscânia. Ali teve de esperar três dias, descalço e com vestes de penitente, até que Gregório VII consentisse levantar o castigo.
b) A exemplo do documento “Dictatus Papae” de Gregório VII, recordaremos também outra documentação mais recente que reforça e estabelece a suprema autoridade papal, a - Decisão II de 08 de Novembro de 1557. Eis algum do seu conteúdo:
Artº 1 – “O papa é quase Deus na Terra (…)”
Artº 4, 16 – “Ninguém ouse desprezar o poder do papa, porque ele liga, não como homem, mas como Deus
Artº 4, 24 – “Só ao Romano Pontífice é permitido modificar, declarar ou interpretar as leis divinas
Artº 5, 3 – “O papa é chamado Senhor de todo o mundo, e não é de admirar, porquanto ele desempenha na Terra as vezes de Deus
Artº 5, 6 – “O papa é Sumo-sacerdote e Rei
Artº 5, 10 – “O papa pode tudo o que Deus pode; e ele está acima de todos
Artº 5, 20 – “O papa é Vigário de Cristo, não só na medida em que Cristo está à frente da Igreja, mas também na medida em que Ele é o Senhor de toda a Terra
Artº 5, 23 – “O poder do Sumo Pontífice não só se exerce sobre as coisas celestes, terrestres e infernais, mas também sobre os anjos, em relação aos quais ele é superior. Se fosse possível os anjos errarem na fé, o papa poderia puni-los e excomungá-los
Artº 5, 31 – “Tudo o que o papa faz é considerado como procedendo da boca de Deus
Artº 18, 20 – “O papa ocupa o lugar e desempenha as vezes de Deus (…)”
Artº 30, 1 – “O papa tem jurisdição sobre os hereges, dado que como Vigário de Cristo tem jurisdição sobre todos
Artº 43, 9 – “Os reis têm como superior Deus e, consequentemente, a Igreja e o Romano Pontífice que está no lugar de Deus na Terra, para alívio dos oprimidos
Artº 49 – “Todos os reis cristãos devem estar sujeitos ao papa como ao próprio Jesus Cristo nosso Senhor
Artº 61 – “Vemos o Pontífice Romano triunfalmente coroado com uma tríplice coroa, como rei do Céu, da Terra e do mundo inferior
Artº 61, 1 – “O Romano Pontífice está acima de todo o Principado e Potestade e, diante dele se curvam todos os joelhos no Céu e na Terra e debaixo da Terra”.
Na verdade, o que este Artº 61.1 está a fazer é algo de extraordinário a acrescentar ao tom blasfematório dos restantes articulados. De onde se inspira este fraseado “diante dele se curvam todos os joelhos no Céu e na Terra e debaixo da Terra”? A Palavra de Deus nos informa. Em primeiro lugar o encontramos totalmente associado a Deus, no Antigo Testamento – “Por mim tenho jurado (…): que diante de mim se dobrará todo o joelho (…)” – Isaías 45.23. Em segundo lugar, no Novo Testamento, o apóstolo S. Paulo a aplica totalmente a Jesus – “Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, na terra, e debaixo da terra” – Filpenses 2.10. A adoração é absolutamente universal. A palavra grega que aqui encontramos traduzida por “debaixo da terra” é – katachthonios. Esta é uma clara alusão aos mortos que, um dia, ressuscitarão para reconhecerem o poder senhorial de Jesus, assim como os “do céu”, anjos que seguiram Satanás na sua revolta, e “da terra”. A vitória de Jesus é total. Assim, “é importante notar que a elevação de Cristo, neste texto, é revelada por um dos textos mais monoteístas do Antigo Testamento. Jesus Cristo é elevado à dignidade do Deus do Antigo Testamento, mas não a rouba, usurpa”. Reforçando esta noção de unidade na divindade é dito que “porque Jesus nada tem de um usurpador. Foi o próprio Deus que o entronizou, para a Sua glória”. Aplicado a Cristo é normal, pois é Deus com Deus; o mesmo aplicado a uma criatura pecadora e mortal é, simplesmente, uma blasfémia.
Mais recentemente, o papa João Paulo II publicou a Carta Apostólica Ad Tuendam Fidem (Para Defender a Fé), com o objectivo de acrescentar algumas normas ao Código de Direito Canónico e ao Código dos Cânones das Igrejas Orientais. Deste último vejamos a formulação final de dois parágrafos do Cânone 1436:
- Parágrafo 1 – “Aquele que nega uma verdade que por fé divina ou católica deve acreditar ou põe em dúvida, ou então repudia totalmente a fé cristã e, legitimamente avisado, não se retractar, seja punido como herege146 ou como apóstata com excomunhão maior (…).”
- Parágrafo 2 – “Fora destes casos, quem advoga uma doutrina definitivamente proposta ou condenada por errónea pelo Romano Pontífice ou pelo Colégio dos Bispos no exercício do magistério autêntico e, legitimamente admoestado, não se retractar, seja punido com uma pena adequada”.
Assim, em resumo: - o documento Dictatus Papae data de 1075; a Decisão II de 08 de Novembro de 1557; e, por fim, a Carta Apostólica Ad Tuendam Fidem data de 1998. Portanto, desde o pontificado de Gregório VII até ao actual, até este último documento de João Paulo II, decorreram vários séculos. Perguntamos: - qual foi a mudança que se operou no sistema papal? Nenhuma… visto que esta confissão religiosa continua como sempre foi… igual a si mesma!
b) – “(…) e cuidará em mudar os tempos e a lei” – 7.25. Este Poder, segundo o texto, não diz que está no seu propósito eliminar a lei, mas unicamente mudá-la como vimos anteriormente. Igualmente, também refere que, a exemplo da lei pensará mudar os “tempos”. Qual será o significado desta última vertente? Parece-nos que tem uma certa ligação com o calendário profético de Deus.
Vejamos no livro de Actos uma curiosa pergunta feita pelos discípulos a Jesus: - “(…) Senhor, restaurarás tu, neste tempo, o reino a Israel?” – Actos 1.6. O Mestre responde-lhes desta forma: - “(…) não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder” – v. 7. Ora, estes “tempos” não são outra coisa a não ser os eventos proféticos. Por outro lado, no livro do profeta Daniel, a este propósito, encontramos o seguinte em relação a Deus: - “e ele muda os tempos (…)” – Daniel 2.21. Assim, este Poder irá mudar o calendário profético elaborado por Deus, para que as pessoas sejam induzidas a procurar um significado e um cumprimento diferente das profecias, num outro lugar, num outro tempo. Assim, quando se falar em qualquer acontecimento que pareça apontar para um cumprimento profético, quase instintivamente o mundo cristão olhará unicamente na direcção, por excelência, do cumprimento de todos os eventos que apontem para cumprimento das profecias escatológicas. Falsas profecias, falsos sistema de interpretação profética que induzirá multidões a um irresistível engano conduzido por este Poder que chama a si, mais um atributo divino - a infalibilidade (Tiago 1.17).
Retomando o documento - “Decisão II de 08 de Novembro de 1557” -, visto acima, recorde-se uma das anotações nele existente:
Artº 4, 24 – “Só ao Romano Pontífice é permitido modificar, declarar ou interpretar as leis divinas”.
Na realidade assim aconteceu. Vejamos alguns pormenores desta “modificação” da Lei de Deus – os 10 mandamentos (Êxodo 20.8-11). Esta fez-se sentir: 1- na eliminação do 2º; 2- na substituição do teor do 4º mandamento; 3- na divisão do 10º mandamento em dois, para que se mantivesse o mesmo número de mandamentos – 10!
- O 2º mandamento Êxodo 20.4-6.
Se verificarmos no Catecismo, na transcrição dos 10 mandamentos bíblicos, o teor do 2º mandamento da Lei de Deus que é – “Não farás para ti imagem de escultura (…). Não te encurvarás a elas nem as servirás (…)” - pura e simplesmente é omitido, desaparece! Razões? Basta, não só entrar numa qualquer Igreja para percebermos, de imediato, a razão de ser de tal omissão, como também, como veremos mais abaixo, no caso da Virgem Maria! Como resultado desta operação, os 10 mandamentos bíblicos perdem um mandamento!
Ao desaparecer o 2º mandamento e sendo o 4º modificado, então a Lei de Deus passaria a ter 9 mandamentos! Mas, para repor o mesmo número de mandamentos – 10- far-se-á uma operação de cosmética; assim, o 10 mandamento irá sofrer uma ligeira alteração sendo dividido em dois, ficando o 9º com o seguinte articulado: - “Guardar castidade nos pensamentos e desejos”. Assim, de novo, a lei de Deus passa a ter 10 mandamentos! Esta operação não é mais do que a aplicação do teor do Artº 4, 24 da Decisão II de 08 de Novembro de 1557 na qual está atestado com força de lei que: - “Só ao Romano Pontífice é permitido modificar, declarar ou interpretar as leis divinas”. Mais directo e claro não se poderia ser!
- O 4º mandamentoÊxodo 20.8-11O profeta Daniel referiu que este poder na sua litigância religiosa “(…) e cuidará em mudar os tempos e a lei”. Muito cedo na história do cristianismo, a solenidade do Sábado foi, gradualmente, transferida para o 1º dia da semana, chamado de Domingo, como veremos.
Note-se que, dos 10 mandamentos da lei de Deus, o único mandamento que comporta a noção de “tempo” é precisamente o 4º mandamento, o qual se refere ao – 7º dia da semana – o Sábado. Mas vejamos como é que o Catecismo apresenta, na transcrição que faz, o teor do 4º mandamento bíblico? Vejamos, por comparação, a transcrição de ambas as fontes:

Como compreender esta mudança? Qual o seu objectivo? O próprio Catecismo não nos deixa ficar na ignorância. E, acerca do dia do Domingo, a Igreja esclarece que: - “O mandamento da Igreja determina e precisa a lei do Senhor”.154 (sublinhado nosso). Depois, a Igreja revestida desta dita autoridade que a si mesma chama, esclarece: - “O sabbat, que representava o acabamento da primeira Criação é substituído pelo Domingo, que lembra a Criação nova, inaugurada na Ressurreição de Cristo”. Dentro deste contexto, sublinhamos aqui uma curiosa razão apontada por um sacerdote para a pseudo justificação para a mudança do Sábado para o Domingo, a saber: - “Sem a ressurreição de Jesus também seria um enigma a celebração do domingo desde a aurora do cristianismo. Recorde-se que os primeiros membros da Igreja são todos judeus. Estes celebravam o sábado como dia santo, conforme o estabelecido pela Lei mosaica. Se se prescinde do acontecimento da ressurreição de Jesus não existe nenhum motivo para que este grupo de judeus mudasse a celebração do dia santo e, em vez do sábado, preferissem o dia seguinte, denominado em honra do seu Senhor”.
Desde já, como se poderia responder a estas palavras deste sacerdote? Iremos fazê-lo, com palavras não nossas e estas rezam assim: - “O Deus da Bíblia não disse: - vão à missa aos Domingos, mas sim, descansa ao Sábado”. Este autor, depois de mais algumas considerações continua: - “Se a Igreja Católica está de boa-fé, ao afirmar o que afirma, como se compreende que tenha eliminado o descanso semanal do sábado e o tenha transferido, sem outra forma de processo, para o domingo? Com que autoridade viola o mandamento de guardar o sábado - - e peca contra a santidade desse dia quando Jesus, que diz, seguir, nunca o fez? Durante os seus primeiros séculos, o cristianismo santificou sempre, e apenas, o descanso semanal do sábado, conforme havia ordenado o Deus do Velho Testamento; a simples perspectiva de celebrar esse descanso ao domingo teria sido automaticamente encarada como um sacrilégio, uma violação gravíssima da Lei divina”. Depois, a este propósito, recorda as palavras de Justino, século II, que são: - “Reunimo-nos todos os dias do sol (domingo) porque é o primeiro dia (depois do sábado judaico, mas também o primeiro dia) em que Deus, tirando a matéria das trevas, criou o mundo; neste mesmo dia, Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou de entre os mortos - (I Apologia, 67)”. Acrescenta o autor: - “Essas primeiras reuniões dominicais, numa Igreja que começava a afastar-se da mensagem e dos costumes judaicos de Jesus e dos seus apóstolos, darão lugar, dois séculos mais tarde, à imposição oficial do descanso dominical”.
Desde já tudo parece que está claro, pois a matéria em causa, a nosso ver, é simples de compreender. No entanto, parece, que não é assim tão fácil! No entanto Iremos responder, de uma forma geral às questões até aqui levantadas. Na verdade: 1- Quem outorgou a esta confissão religiosa humana, o poder de “determinar” e de “precisar” uma Lei divina – os 10 mandamentos? Não será ela suficientemente clara? 2- Desde quando o Sábado, biblicamente falando, terá sido substituído pelo Domingo? É um parecer humano, ou atestado pela Palavra de Deus? 3- Qual a relação haverá entre a anunciada “Criação nova, inaugurada na Ressurreição de Cristo” e o “Sábado” para que o Sábado seja substituído pelo Domingo? Tentaremos responder a estas questões sob duas vertentes: Ordem Histórica/Humana e Ordem Bíblica. Ora vejamos:
Dr. Ilídio de Carvalho

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