domingo, 18 de dezembro de 2011

PRINCÍPIO DO DIA PROFÉTICO

Vários teólogos judeus e cristãos através dos tempos aplicaram o princípio do dia profético às setenta semanas descrita em Daniel capítulo 9. Dentre eles, tem-se o hebreu Rashi (1040-1105 d.C.), que traduziu Daniel 8:14 da seguinte maneira: "E ele disse-me: Até 2300 anos". Esse princípio tem sido reconhecido e aceite em todo o mundo durante séculos.

E qual é a base bíblica para dizer que 2300 dias são na verdade 2300 anos? Os versos de Números 14:34 e Ezequiel 4:4-7, que dizem respectivamente: "(...) quarenta dias, cada dia representando um ano." "(...) Quarenta dias te dei, cada dia por um ano."

O Antigo Testamento demonstra outras relações entre as palavras dia e ano; em alguns casos, embora as traduções usem a palavra "ano", no original hebraico encontra-se a palavra "dia". Por exemplo, em Êxodo 13:10 é utilizado a expressão "de ano em ano", enquanto no texto original consta "de dias em dias": "Portanto, guardarás esta ordenança no determinado tempo, de ano em ano [de dias em dias]" (Êxodo 13:10). O mesmo ocorre em I Samuel 27:7: "E todo o tempo que David permaneceu na terra dos filisteus foi um ano [dias] e quatro meses." (cf I Samuel 1:21).

Em hebraico a palavra geralmente usada para especificar o período de um "ano" é "shanah" (pl. shaneh), porém, nestes versos a palavra "dias" (yowm) foi utilizada, demonstrando uma ligação direta e representativa de "ano". E por que esse princípio deve ser aplicado nas profecias do livro de Daniel, especialmente nos capítulo 8 e 9?

Daniel capítulo 9 declara que "desde a saída da ordem para restaurar e edificar Jerusalém até ao Ungido", se passaria sessenta e nove semanas. A ordem para essa edificação se deu em 457 a.C.; isso significa que a partir dela até ao Ungido (batismo de Jesus Cristo, 27 d.C) haveria 483 anos, e profeticamente, isso corresponde exatamente a 69 semanas.(a)

Considerar 69 semanas literalmente como 483 dias, o que equivale a "1 ano, 4 meses e 3 dias", obrigatoriamente deveria-se aceitar que esse seria o intervalo de tempo entre a restauração de Jerusalém e o batismo de Jesus. Este procedimento de contagem literal não é adequado, tornanaria a profecia sem fundamento histórico e bíblico. O princípio do dia profético precisa ser aplicado a esta profecia, ou a mesma torna-se sem sentido.

O princípio do dia profético enquadra-se perfeitamente numa parte da profecia (70 semanas), não seria lógico que fosse usado com sucesso na outra parte também? Aplicando o princípio do dia profético às 70 semanas, temos 490 anos, ou seja, 176.400 dias. Como poderíamos separar ou subtrair 176.400 dias de 2.300 dias? Impossível! A única maneira das 70 semanas serem separadas, cortadas ou subtraída é aplicando o princípio do dia profético também aos 2.300 dias. De outra forma, seria como tentar medir dois metros em três centímetros.

Outra prova a favor da aplicação do dia profético aos 2.300 dias é a análise contextual de Daniel 8:13 que diz: "(...) Até quando durará a visão do sacrifício diário e da transgressão assoladora, visão na qual é entregue o santuário e o exército, a fim de serem pisados?"

Daniel 8:13 da ênfase com relação ao término dos eventos que ocorrem no período profético das "2300 tardes e manhãs". A palavra visão "chazown" refere-se nesse contexto a revelação (visão profética) e abrange os acontecimentos preditos na sua totalidade, dentre eles: A entrega do santuário e o seu sacrifício diário, a transgressão assoladora, perseguição aos filhos do Altíssimo e a mudança na Lei de Deus (cf Daniel 7:25). A pergunta feita em Daniel 8:13 ("até quando?") refere-se ao término de tudo que foi descrito na visão (chazown). E a resposta foi: "Até 2300 tardes e manhãs"; que correspondem a 2300 dias, e estes por sua vez equivalem, profeticamente, a 2300 anos.

Essa profecia abrange o período dos impérios Babilónico, Medo-Persa, Grego e Romano. Se fossemos basear-nos que 2300 dias não correspondem a 2300 anos, isso significaria que 2300 dias equivalem literalmente a 6 anos, 3 meses e 20 dias. Como poderia esta contagem de tempo, literal, incluir esses impérios descritos na profecia? Impossível. Só o império Medo-Persa durou 208 anos, muito tempo para se encaixar em apenas 6 anos. Portanto, é lógico e discernido o uso do princípio profético que envolve mais de dois milénios, tempo suficiente para abranger todos os impérios e eventos relatados por Daniel.

Outro facto a ser considerado: Embora a profecia inicie com nações que existiram há milhares de anos, foi dito a Daniel que a visão se estenderia até ao "tempo do fim"(b). Como poderia um período de "6 anos" cobrir todos os eventos até ao "tempo do fim"? Sem o dia profético, a profecia não poderia estender-se tanto. Novamente a proporção de "1 dia para cada 1 ano" revela-se válido, preciso e coerente.
UM TEMPO, DOIS TEMPOS E METADE DE TEMPO
"Proferirá palavras contra o Altíssimo, magoará os santos do Altíssimo e cuidará em mudar os tempos e a lei; e os santos lhe serão entregues nas mãos, por um tempo, dois tempos e metade de um tempo." (Daniel 7:25)
Em Daniel capítulo 7 é citado um poder que é representado por um "chifre pequeno" e este reinou de forma soberana entre as nações. Ele é o mais detalhado, e o motivo para isso é apontado no versículo 25. Após o fim do Império Romano Ocidental, em 476 d.C, a sua instituição religiosa (Igreja Romana) permaneceu actuante. E, em 538 d.C., entra em vigor o decreto do imperador romano Justiniano declarando que o bispo de Roma deveria ser reconhecido como o líder da "Santa Igreja", e assim, a Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) além de elevar o seu poder religioso recebeu poderes políticos.

Daniel descreve que esta igreja, representada pelo "chifre pequeno", teria domínio por "um tempo, dois tempos e metade de um tempo." (Daniel 7:25). "Um tempo" ('iddan) equivale a "360 dias" e a somatória de "um tempo, dois tempos e metade de um tempo" resulta em "1260 dias", que, pelo princípio do dia profético correspondem a "1260 anos". Portanto segundo a profecia de Daniel 7:25 o período de supremacia religiosa e política da Igreja de Roma seria de 1260 anos. Período em que ela dominou reinos e reis, e impôs os seus ensinos doutrinários de forma ferrenha.
Contando 1260 anos a partir de 538 d.C., chega-se a 1798 d.C. E os registos históricos descrevem que em fevereiro de 1798, sob o argumento de insulto ao embaixador francês na Itália, Louis Alexandre Berthier, general das Forças Revolucionárias Francesas e chefe do Estado maior de Napoleão invadiu Roma; e em 20 de fevereiro o Papa Pio VI foi preso. O anel que indicava a sua autoridade foi-lhe retirado, as sua propriedades foram confiscadas e vendidas; o "Estado Papal" foi abolido e Roma foi declarada república. O Papa foi levado para a França, onde morreu preso em Valença no dia 29 de agosto de 1799. Esse episódio pôs fim ao longo período de supremacia do bispo de Roma.

E se o princípio do dia profético não fosse aplicado? Nesse caso os "1260 dias" seriam calculados de forma literal e resultariam em "3 anos e 6 meses". Deste modo seria impossível para o poder da Igreja de Roma (representado pelo "chifre pequeno") desenvolver todos os eventos descritos nas profecias num período ínfimo de tempo. Enfatizando que a supremacia desse poder religioso se estenderia até ao "tempo do fim"(c), quando Deus Se assentou para julgar e definir o Seu reino(d). O capítulo 13 de Apocalipse descreve, também, esse tempo de hegemonia política e religiosa:
"Foi-lhe dada uma boca que proferia arrogâncias e blasfémias e autoridade para agir quarenta e dois meses; e abriu a boca em blasfémias contra Deus, para lhe difamar o nome e difamar o tabernáculo, a saber, os que habitam no céu." (Apocalipse 13:5-6)
À semelhança de Daniel, João utiliza a linguagem profética para descrever o tempo de domínio imposto pela Igreja Romana ao mencionar 42 meses. Levando em consideração que cada mês possui "30 dias" temos: 42 meses x 30 dias = 1260 dias. E, pelo princípio do dia profético, "um dia" correspondendo a "um ano", tem-se os 42 meses equivalentes a 1260 anos. O mesmo período descrito em Daniel 7:25. Será que a Igreja Romana (ICAR) teve domínio político e religioso, literalmente, por 42 meses (3 anos e 6 meses)? De modo algum. "3 anos e 6 meses" não são suficientes para estender-se da fase inicial de "Roma Papal" (538 d.C.) até o seu término, o "tempo do fim" (1798 d.C.).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O capítulo 7 do livro de Daniel está cheio de símbolos: um leão, um urso, um leopardo com asas, chifres que falam, todos simbolizam coisas diferentes. E em meio a tantos símbolos, por que razão só as descrições de tempo seriam literais? Especialmente por ser descrito de maneira tão estranha? Daniel capítulo 8 também é uma visão com imagens simbólicas, e ambos os capítulos, não apresentam profecias sobre animais, mas eventos proféticos que descrevem a história da humanidade. Não seria de esperar que o factor tempo apresentado neles também fosse simbólico, em vez de literal? Além do mais, "tardes e manhãs" (arab e boqer) não é maneira comum de descrever dias. A palavra típica para dias na Bíblia é "yowm".

Não seria mais simples ter dito: "Até seis anos, três meses e vinte dias, e o santuário será purificado", em vez de "2300 tardes e manhãs"? O verso de Daniel 8:14 não traz a forma típica de indicar o tempo. Em II Samuel 5:5, por exemplo, é dito que o rei "reinou sobre Judá sete anos e seis meses", e não 2700 "tardes e manhãs". Até mesmo as "setenta semanas" de Daniel não são uma forma comum de expressar tempo. Diante desses factos nota-se claramente a validade do dia profético nos capítulos 7, 8 e 9 do livro de Daniel; eles simplesmente perdem o sentido sem o uso desse princípio.

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Texto proveniente e adaptado do artigo: "O Princípio do Dia Profético", Revista Adventista, (Março, 1999), p. 32-33.

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