quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A Quinta Trombeta Aplicada à História

"O quinto anjo tocou a trombeta, e vi uma estrela caída do céu na terra. E foi-lhe dada a chave do poço do abismo. Ela abriu o poço do abismo, e subiu fumaça do poço como fumaça de grande fornalha, e, com a fumaceira saída do poço, escureceu-se o sol e o ar. Também da fumaça saíram gafanhotos para a terra; e foi-lhes dado poder como o que têm os escorpiões da terra, e foi-lhes dito que não causassem dano à erva da terra, nem a qualquer coisa verde, nem a árvore alguma e tão-somente aos homens que não têm o selo de Deus sobre a fronte" (Apoc. 9:1-4).

A visão de João descreve uma estrela que caiu do céu à terra. Isto conecta a quinta trombeta com a terceira, em que João tinha visto "uma grande estrela" chamada "absinto" que caía do céu e que tinha envenenado uma terceira parte dos rios e das fontes das águas (Apoc. 8:10, 11). A esta estrela agora "foi-lhe dada" a chave do poço do abismo, que representa a região de Satanás e seus anjos (Luc. 8:31; Jud. 6; Apoc. 20:1, 3). Esta estrela caída é como um símbolo de Satanás, "o anjo do abismo", cujo nome representa sua obra e caráter: "Abadón" (em hebreu) ou "Apolión" (em grego), que quer dizer o Destruidor (Apoc. 9:11).
Esta chega a ser agora a sua missão atribuída ("foi-lhe dada") e autoridade ("rei", Apoc. 9:9, 11), da parte de que tem "as chaves da morte e do Hades" (1:18). Dessa maneira Cristo permanece como o governante soberano sobre todos os demónios. Contra o Criador aparece o destruidor ou anti criador, o próprio inimigo de Cristo. A primeira tarefa que o destruidor leva a cabo é abrir o abismo, de modo que o sol e todo o céu escureçam por meio de uma fumaça gigantesca que sai do abismo. Este obscurecimento do céu pela fumaça que sai do reino dos demónios está no coração do ai desta trombeta.
Enquanto as trombetas anteriores anunciavam a perversão e o escurecimento parcial da luz do evangelho, a quinta trombeta mostra um grande eclipse do evangelho por meio da propagação triunfante de enganos e heresias satânicos. Agora se oculta publicamente a luz de Cristo. A mentira triunfa sobre a verdade.

João vê como "da fumaça saíram gafanhotos para a terra; e foi-lhes dado poder como o que têm os escorpiões da terra" (Apoc. 9:3). Descreve-os como "cavalos preparados para a guerra" que serão vitoriosos ("coroas de ouro"), e entretanto as suas caras eram como caras humanas, com cabelo de mulher, dentes de leões, e caudas e aguilhões como de escorpiões (vs. 7-10).
A descrição gráfica que João faz destes gafanhotos extravagantes está tirada da descrição poética que Joel faz de uma praga de gafanhotos (Joel 1, 2), como se reconhece geralmente. Joel usou uma praga literal de gafanhotos, que tinha devastado a terra de Judá ao comer toda a vegetação (1:4), como um símbolo do vindouro exército babilónico e sua cavalaria vitoriosa (2:1-9).
Aquele vindouro dia do juízo seria "dia de trevas e de escuridão, dia de nuvem e de sombra". Devia advertir-se a Jerusalém tocando a trombeta em Sião (Joel 2:1, 2). Portanto, os gafanhotos de Joel "a sua aparência é como a de cavalos; e, como cavaleiros, assim correm. Estrondeando como carros, vêm, saltando ... como um povo poderoso posto em ordem de combate" (vs. 4, 5; cf. Apoc. 9:7, 9). Também têm "dentes de leão" (Joel 1:6; cf. Apoc. 9:8).

Enquanto Joel descreveu o exército inimigo de Babilónia, João representa as forças hostis de Satanás que invadirão o mundo com filosofias que destroem a alma e que fazem com que as pessoas percam toda a esperança e significado da vida. João sobretudo assinala à natureza psicológica da praga de gafanhotos apocalípticos, declarando que "foi-lhes também dado, não que os matassem, e sim que os atormentassem durante cinco meses" (Apoc. 9:5).

A tortura é causada pelo aguilhão venenoso das caudas como de escorpiões dos gafanhotos. J. Ellul sugere que o característico dominante destes gafanhotos é a mistura de diferentes espécies de natureza: "O mal que causam, causam-no por trás, como o escorpião. O que significa que atuam pelo poder da mentira".1 As principais ferramentas de operação de Satanás são na verdade as mentiras, o engano e a perseguição (Mat. 24; 2 Tes. 2).

Jesus usou serpentes e escorpiões como metáforas para os demónios, mas assegurou a seus discípulos: "Eis aí vos dei autoridade para pisardes serpentes e escorpiões e sobre todo o poder do inimigo, e nada, absolutamente, vos causará dano. Não obstante, alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem, e sim porque o vosso nome está arrolado nos céus" (Luc. 10:19, 20).
De igual maneira, a quinta trombeta assegura ao povo de Cristo que os gafanhotos demoníacos receberam autoridade só para fazer mal aos que não têm o selo protetor de Deus (Apoc. 9:4). Sobre isto, comenta Metzger:

"Assim como os israelitas ficaram isentos das pragas do Egito, assim agora os cristãos que têm o selo de Deus sobre suas frontes não serão absolutamente danificados por estas horríveis criaturas de juízo divino".2

Os que estejam sem Cristo receberão o aguilhão venenoso das mentiras mortíferas, causando-lhes um agonia mental insuportável e uma angústia suicida (Apoc. 9:5, 6). O período de tortura dado de "cinco meses" (vs. 5, 10), talvez o explicou melhor Ch. Wordsworth: "Como os gafanhotos naturais têm seu tempo de cinco meses prescrito e limitado por Deus, assim também estes gafanhotos espirituais não poderão exercer seu poder para machucar os homens mais além do período que Deus lhes determinou".3

De novo a mensagem aqui é que Cristo é o governante soberano que só permite um tempo para esta maldição do destruidor. Nesta severa prova, os impenitentes são declarados culpados de quebrantar o pacto, enquanto os que estão selados são vindicados.
A que tempo e a que filosofias destrutivas assinala esta trombeta? Enquanto qualquer aplicação deve permanecer como tentativa, pode-se fazer uma aplicação pertinente ao tempo quando as filosofias ateias do Renascimento ou do Iluminismo varreram a civilização ocidental e causaram a agonia da vacuidade desta vida e da desesperança para o futuro. A teologia tradicional centrada em Deus foi substituída pela filosofia centrada no homem, na qual o homem é responsável só ante si mesmo.
Nas diversas formas de humanismo contemporâneo, somos testemunhas de uma religião sem Deus, na qual o homem mesmo é a medida de todas as coisas. Seu arrogante slogan é: "Nenhuma deidade nos salvará; devemos nos salvar a nós mesmos".4 Nesta mentira fundamental estão arraigadas todas as agonias mentais e os desejos suicidas. Joel perguntou: "Quem pode suportá-lo?" (2:11), mas também apresenta o caminho de liberação de Deus: "Convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, com choro e com pranto... convertei-vos ao Senhor, vosso Deus, porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal" (vs. 12, 13).
Referências:
1 Ch. Wordsworth, The New Testament in the Original Greek, t. II, p. 207).
2 Ellul, Apocalypse, The Book of Revelation, p. 75.
3 Metzger, Breaking the Code. Understanding the Book of Revelation, p. 65.
4 "Humanist Manifesto II", Humanist Manifestos I & II [Manifesto humanista II, em Manifestos Humanistas I e II]. P. Kurtz, ed. (Buffalo: Prometheus, 1973, P. 183). ver também N. L. Geisler.

Compilação pr. José Carlos Costa
ver 6ª trombeta

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