quinta-feira, 11 de setembro de 2014

A MENSAGEM DO PRIMEIRO ANJO - APOCALIPSE 14:6, 7

É significativo o lugar onde está colocado a última mensagem de admoestação de Apocalipse 14:6-12. Encontra-se entre as ameaças do anticristo no capítulo 13 e a cena do juízo do capítulo 14:14-20. A tríplice mensagem transmite o ultimato de Deus a um mundo unido em rebelião contra ele.

"Vi outro anjo voando pelo meio do céu, tendo um evangelho eterno para pregar aos que se assentam sobre a terra, e a cada nação, e tribo, e língua, e povo, dizendo, em grande voz: Temei a Deus e dai-lhe glória, pois é chegada a hora do seu juízo; e adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas" (Apoc. 14:6, 7).

A expressão "outro anjo" (v. 6) conecta este mensageiro com o anjo anterior que aparece no Apocalipse, o "anjo forte" do capítulo 10. A tríplice mensagem de Apocalipse 14 ao que parece funciona como a expansão da missão do "anjo forte" durante a sexta trombeta (Apoc. 10:5-7). Em ambos os capítulos, o 10 e o 14, a advertência do tempo do fim do céu tem o propósito de alcançar toda a terra. O anjo "voando pelo meio do céu" (o zénite do céu) em Apocalipse 14 simboliza o alcance universal de sua mensagem, assim como o anjo forte tinha posto seu pé tanto sobre o mar como sobre a terra. Esta esfera de ação universal se recalca pela ênfase: "Tendo o evangelho eterno para pregar aos moradores [literalmente, 'se sentam'] da terra, a toda nação, tribo, língua e povo" (v. 6). Esta proclamação do "evangelho eterno" de Deus é a verdadeira mensagem de reavivamento para o fim. Desenvolve a promessa anterior de Cristo:
"E este evangelho do reino será pregado em todo mundo, para testemunho a todas as nações; e então virá o fim" (Mat. 24:14).

O adjetivo "eterno " [em gr., aiónion] aplicado ao "evangelho" em Apocalipse 14:6 leva consigo um significado especial. Afirma que o evangelho do tempo do fim é o evangelho inalterado dos apóstolos de Jesus. O evangelho do tempo do fim não é um evangelho diferente, mas sim o evangelho como foi exposto por Paulo nas suas cartas aos romanos e a outras igrejas. A estrutura delicada do evangelho da soberana graça de Deus (ver Ef. 2:4-10) não pode ser alterado nunca, nem sequer por um anjo ou por um apóstolo. Uma inovação tal cairia sob a maldição de Deus (ver Gál. 1:6-9).

O evangelho eterno chega a ser cada vez mais relevante quando é contemplado em seu marco de Apocalipse 13, onde o anticristo demanda a lealdade à sua falsificação ou "evangelho diferente" (cf. 2 Cor. 11:4). Referindo-se aos decretos do concílio do Trento (1545-1563), o bispo Chr. Wordsworth comentou:

"Porém, apesar desse anátema apostólico repetido duas vezes [no Gál. 1:6-9], os que aderem à besta pronunciaram seu anátema sobre todos os que não recebem as novas doutrinas que acrescentaram ao evangelho de Deus".

Alguns comentadores modernos tomaram a posição de que a frase "evangelho eterno" de Apocalipse 14:6 não quer dizer o evangelho apostólico mas sim as novas de que o juízo final é iminente (v. 7). Outros assinalaram que o juízo foi uma parte essencial do evangelho desde a sua iniciação (veja-se Mat. 7:22, 23; 16:27; 25:41; Rom. 2:15, 16). A vinda do justo juízo de Deus significa sempre boas novas de resgate e vindicação para seu povo do pacto (ver Sal. 96) e um dia de ajuste de contas para seus perseguidores (Jer. 50, 51).

Jesus predisse que o evangelho do reino seria pregado como testemunho (legal) a todos os que moram na terra até o próprio fim (Mat. 24:14; Mar. 13:10). Portanto, podemos aceitar Apocalipse 10 e 14:6-12 como a aplicação para o tempo do fim da predição de Jesus em Mateus 24.

Como Jesus fez em Mateus 24, o Apocalipse faz da proclamação mundial do evangelho o sinal preeminente dos tempos. G. C. Berkouwer assinalou um engano popular quanto a isto:
"Com muita frequência, a reflexão sobre os sinais foi separar-se do reino, que é seu ponto de concentração. Os resultados sempre são desconcertantes. Mas o assunto fundamental é a propagação universal do evangelho de Jesus Cristo (Mar. 13:10)... Geralmente os que catalogaram os sinais dos tempos incluíram isto, mas com freqüência se viu simplesmente como outro elemento no 'relatório da narração'... Nos últimos dias a pregação do evangelho é o ponto focal de todos os sinais. Nela podem e devem ser entendidos todos os sinais".

Deve respeitar-se o significado fundamental do evangelho eterno. Não é um exagero deduzir que uma compreensão nova do evangelho apostólico no marco do tempo do fim de Apocalipse 10 e 14, cria um novo povo remanescente! Estão comissionados como mensageiros a pregar o evangelho em seu marco apocalíptico de Apocalipse 13 e 14. Devido a este convite final à humanidade antes do juízo, todo mundo estará amadurecido para esse juízo. Isso não quer dizer que se possa calcular a data do fim que se aproxima. O reavivamento do evangelho sem adulteração é básico para o plano determinado de Deus (Mar. 13:10). É uma "parte do atuar de Deus no tempo do fim". Proclamar a tríplice mensagem de Apocalipse 14 é a missão final da igreja! O cumprimento desta missão é o maior sinal de todos os que indicam que começou o tempo do fim!

A Escritura não estabelece que a segunda vinda de Cristo está condicionada ao êxito da pregação do evangelho, mas sim está condicionada à realidade da pregação mundial. A tríplice mensagem de Apocalipse 14 intensifica o apelo anterior de Jesus: "Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus" (Mat. 4:17).

O Conteúdo do Evangelho Eterno
Jesus mesmo andou "pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus" (Luc. 8:1), o que indicava a chegada do Messias prometido. Incluía seu nascimento (Luc. 2:10, 11, "novas de grande gozo"), sua vida (Mat. 11:5), sua morte expiatória (Mar. 10:45; Ef. 2:14-17; At. 10:36), e sua ressurreição e entronização no céu (At. 2:30-33). "Sua aparição, não simplesmente sua pregação, toda sua obra está indicada por 'pregando as boas novas [euanguelízesthai]' ". Portanto o evangelho apostólico se centralizava nas boas novas de que Jesus de Nazaré era o Messias da profecia (At. 5:42; 8:35; 17:3, 18). Por conseguinte, o evangelho também inclui as profecias messiânicas do Antigo Testamento (ver 1 Ped. 1:10, 11; Rom. 1:2; 16:25, 26).

Como rei de Israel, Cristo personifica o reino de Deus. Pregar o evangelho de Cristo significa uma proclamação eficaz no poder e a autoridade do Espírito Santo (ver Heb. 2:4). Tal pregação transmite salvação e cria paz e gozo (At. 8:8, 39). Paulo recebeu o evangelho por meio de uma revelação direta de Jesus Cristo (Gál. 1:12). Explicou o conteúdo do evangelho de uma maneira sistemática em Romanos 1 ao 8. Centra-se na verdade de que Jesus é o Cristo (Rom. 1:1-4) e que a salvação é nossa por meio da justificação por graça, só por meio da fé em Cristo (Rom. 3:28; 4:25; 5:1; 8:1, 33, 34).

Paulo resumiu a sua compreensão do evangelho em 1 Coríntios 15:3-5, onde menciona a morte expiatória de Cristo, sua sepultura, ressurreição e as aparições do Cristo ressuscitado. Em síntese, a essência do evangelho de Paulo pode compendiar-se na confissão: Jesus é o Cristo (Messias), o Senhor ressuscitado (ver Rom. 10:9, 10). Paulo também reconheceu o dia do juízo como parte do evangelho (ver Rom. 2:16; At. 17:30, 31). Este é seu amplo panorama do evangelho. A proclamação do juízo e das boas novas estão inextricavelmente unidas, como o arrependimento e o novo nascimento (Mar. 1:15; Isa. 57:15). O juízo de Deus é essencialmente boas novas para o crente, porque Cristo é tanto Juiz como Salvador (João 5:22). Gerhard Friedrich reconheceu que o evangelho e o juízo estão conectados indissoluvelmente:

"Desde que o evangelho é a chamada de Deus... aos homens, demanda decisão e impõe obediência (Rom. 10:16; 2 Cor. 9:13). A atitude para com o evangelho será a base da decisão no juízo final (2 Tes. 1:8; cf. 1 Ped. 4:17)".
A proclamação do evangelho oferece o gozo da salvação presente aos que o aceitam por fé (Ef. 1:13; 1 Cor. 15:2; Rom. 1:16; 8:15-17). Diz Ivan T. Blazen:
"Em termos da informação real da Escritura, é uma ficção acreditar que a justificação não nos relaciona com a soberania de Cristo como Senhor ou que o juízo não nos relaciona com a obra de Cristo como Salvador... Quando chegar o fim, o juízo avalia e atesta da realidade da justificação evidenciada pelas testemunhas fiéis do povo de Deus. Neste fluxo, a justificação e o juízo não estão na relação de tensão ou contradição mas sim na de inauguração e consumação".

A Mensagem do Primeiro Anjo
"Dizendo, em grande voz: Temei a Deus e dai-lhe glória, pois é chegada a hora do seu juízo; e adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas" (Apoc. 14:7).

Este mensageiro celestial fala com "grande voz", o que indica que todos os moradores da terra devem
ouvir sua mensagem. As palavras nas quais está expressa a mensagem estão tomadas do Antigo Testamento, e repetem a demanda do pacto de Deus sobre Israel para adorar somente a ele como Criador do céu e da terra. De fato, pode ouvir-se um eco específico do quarto mandamento da lei do pacto de Israel na motivação para adorar a Deus como Criador:

APOCALIPSE 14:7   
"Adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas".   
ÊXODO 20:11
"Porque, em seis dias, fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o Senhor abençoou o dia de sábado e o santificou".

A resposta à pergunta: "Como devem as pessoas adorar a Deus como Criador?", é indicada na continuidade do pacto de Deus entre Israel e a igreja: honrando o sétimo dia sábado como o "bendito" monumento comemorativo da obra criadora e redentora do Deus do pacto de Israel (ver Êxo. 20:8-11 e Deut. 5:12-15).

A celebração do sábado do Criador-Redentor identifica o único Deus verdadeiro. O sábado não foi feito só para a raça hebreia, mas sim para a humanidade do começo até o fim do tempo. Corrigindo um engano legalista fariseu, Cristo declarou: " O sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado; de sorte que o Filho do Homem é senhor também do sábado" (Mar. 2:27, 28). A importância universal do sábado foi expressa por Isaías, o profeta evangélico:
"Aos estrangeiros que se chegam ao Senhor, para o servirem e para amarem o nome do Senhor, sendo deste modo servos seus, sim, todos os que guardam o sábado, não o profanando, e abraçam a minha aliança, também os levarei ao meu santo monte e os alegrarei na minha Casa de Oração; os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão aceitos no meu altar, porque a minha casa será chamada Casa de Oração para todos os povos" (Isa. 56:6, 7).

Isaías previu como Deus convidaria os gentios para adorar em seu templo no monte Sião nos sábados. Isaías estendeu esta perspectiva aos novos céus e a nova terra:

"Porque, como os novos céus e a nova terra, que hei-de fazer, estarão diante de mim, diz o Senhor, assim há-de estar a vossa posteridade e o vosso nome. E será que, de uma Festa da Lua Nova à outra e de um sábado a outro, virá toda a carne a adorar perante mim, diz o Senhor" (Isa. 66:22, 23).

O Apocalipse compara a chamada do céu para reavivar a adoração verdadeira com a adoração da besta imposta pelo falso profeta (Apoc. 13:12, 15). A chamada para a adoração verdadeira em Apocalipse 14 chega a ser uma prova de lealdade ao Fazedor do céu e da terra: "Temei a Deus e dai-lhe glória..." (Apoc. 14:7). Esta exortação está tomada do apelo feito por Moisés a Israel exatamente antes de entrarem na terra prometida: "O Senhor, teu Deus, temerás, a ele servirás... Não seguirás outros deuses,  Diligentemente, guardarás os mandamentos do Senhor, teu Deus" (Deut. 6:13, 14, 17; ver também 10:12, 20; 13:4).
Muitos entre as nações responderiam a este convite final proclamado pelos instrumentos de Deus, como ouvimos no cântico de Moisés e do Cordeiro:
"Quem não temerá e não glorificará o teu nome, ó Senhor? Pois só tu és santo; por isso, todas as nações virão e adorarão diante de ti, porque os teus atos de justiça se fizeram manifestos " (Apoc. 15:4).

Durante a crise religiosa nos dias do Acabe e Elias, os verdadeiros seguidores do Jeová se descreveram a si mesmos como "temerosos de Jeová" (1 Reis 18:3, 12; 2 Reis 4:1), em contraste com os que seguiam aos baalins.

Esta raiz principal do Antigo Testamento de uma confrontação futura mostra que o "temor de Deus" pressupõe a obediência à vontade de Deus. Em todo o Antigo Testamento há indicações de que o "temor de Deus" está unido inseparavelmente à obediência voluntária aos mandamentos de Deus (ver Gén. 22:1, 12; Êxo. 20:20; Deut. 6:13-17; 10:12; Sal. 112:1; 119:63; 128:1). Esta correspondência é expressa no livro do Eclesiastes:

"De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque este é o dever de todo homem" (Ecl. 12:13).

A religião do homem se coloca sob a lupa do juízo de Deus (Ecl. 12:14). Os eruditos contemporâneos do Antigo Testamento admitem que avançaram para uma compreensão diferente da lei ou a "torah", e que já não consideram a verdadeira devoção à torah como um legalismo que procura méritos.

Chegou a ser claro que o livro de Deuteronómio foi a resposta agradecida de Israel à liberação do êxodo. A prioridade da graça redentora de Deus estava escrita no preâmbulo do decálogo: "Eu sou Jeová teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão" (Êxo. 20:1). A graça redentora é o núcleo da Torah. O Decálogo está engastado na graça de Deus e é um dom de Deus. O evangelho apostólico também conhece que o temor do Senhor é a evidência de gratidão por uma salvação tão grande (ver At. 9:31; Fil. 2:12).

A mensagem do primeiro anjo trata de restaurar a essência da adoração verdadeira como foi experimentada pelos profetas e apóstolos. Pode-se escutar o som do apelo de Elias para voltar para Deus com o coração e a alma: "Se Jeová é Deus, segui-o, e se Baal, segui-o" (1 Reis 18:21)! Josephine M. Ford captou esta continuidade da religião verdadeira. Disse ela:
"O anjo porta-voz em 14:6 e 7 anuncia a reafirmação do Decálogo e da adoração de um só Deus, em oposição à adoração da imagem (13:15) que viola os mandamentos. A referência a Deus como Criador é compreensível à luz da referência ao céu, à terra e às águas debaixo da terra em Êxodo 20:4. Além disso, a referência à hora do juízo de Deus (v. 7) tem afinidade com Êxodo 20:5, a declaração de zelo e vingança de Deus sobre todos os que o aborrecem".

O Criador, Também o Juiz de Todos os Homens
O primeiro anjo adiciona como uma motivação especial deste convite para adorar a Deus o anúncio: "Porque vida é a hora do seu juízo" (Apoc. 14:7). A associação da adoração e juízo não é nova. Com frequência se ensina no Antigo Testamento que o Criador é também o Juiz. É significativa a confissão de fé de Abraão: "Não fará justiça o Juiz de toda a terra?" (Gén. 18:25). O Decálogo contém a relação entre Deus como Criador e Juiz (Êxo. 20:4-6, 11). A libertação do êxodo se explica como o juízo de Deus sobre o Egito e Babilónia (Êxo. 7:4; 15:8-12; Deut. 4:32-34; Isa. 11:10-16). O juízo de Deus se manifesta como a redenção de seu povo do pacto através do perdão divino (Isa. 43:25; 51:9-16; Miq. 7:18; Sal. 89:9-14; 103; 136). Os juízos de Deus na história mostram duas motivações: a punitiva e a redentora (Êxo. 6:5, 6; Isa. 33:22). Os cantos de adoração de Israel expressam o pensamento de que Deus é o Juiz porque é o Criador de todas as coisas:
"Porque todos os deuses dos povos são coisas vãs; mas o Senhor fez os céus... Dizei entre as nações: O Senhor reina! O mundo também se firmará para que se não abale. Ele julgará os povos com retidão.... Ante a face do Senhor, porque vem, porque vem a julgar a terra; julgará o mundo com justiça e os povos, com a sua verdade" (Sal. 96:5, 10, 13).
"O que fez o ouvido, acaso, não ouvirá? E o que formou os olhos será que não enxerga? Porventura, quem repreende as nações não há-de punir?" (Sal. 94:9, 10).

Esta verdade da religião de Israel – que o Criador é o Juiz de todos os homens – também se aplica ao próprio povo do pacto. Tinham que confrontar o dia de acerto de contas durante o Dia da Expiação anual, o décimo dia do sétimo mês, que se anunciava por meio da festa das Trombetas dez dias antes (Lev. 23:23-32). Ao mesmo tempo que o supremo sacerdote purificava o santuário da culpa do Israel (Lev. 16), era um assunto de vida ou morte para cada israelita. "Nesse dia se proclamava que Jeová e o pecado não tinham nada em comum. Depois o pecado era transferido à sua fonte, quer dizer, a Azazel". É interessante saber que a Mishnah considera a festa das trombetas como um tempo de juízo:
"No dia de Ano Novo tudo o que vem ao mundo passa ante ele como se fossem legiões de soldados (ou rebanhos de ovelhas), porque está escrito: Ele formou o coração de todos eles; está atento a todas as suas obras".

A Jewish Encyclopedia [Enciclopédia Judaica] informa sobre o desenvolvimento de um juízo investigativo no céu:
"A sorte dos que são completamente ímpios e dos que são completamente pios se determina imediatamente [no dia de Ano Novo]; o destino da classe intermediária fica suspensa até o Dia da Expiação, quando se sela a sorte de cada homem".
Significativa é a declaração rabínica: "No Dia da Expiação criarei a ti uma nova criação". Como o Dia da Expiação do Israel conectava ao Criador com sua obra de juízo, Jacques Doukhan considera o Dia da Expiação como um "antecedente específico em contraste com o qual está esboçado a mensagem de Apocalipse 14".

Esta perspectiva é fascinante e abre um nível mais profundo de compreensão do chamado de Deus para adorá-lo "com temor e tremor" no tempo do fim. lhe dar glorifica como o Criador (Apoc. 14:6, 7) é um recordativo adequado da adoração do Israel em seu Dia da Expiação, e deve recordar à igreja a verdade de que a salvação não está apoiada em raça ou paróquia, a não ser em estar "em Cristo" por meio da fé pessoal (Rom. 5:1; 8:1). Os pecadores impenitentes no Israel ou no cristianismo não são reconhecidos pelo Deus do pacto (Amós 5:18-24; Ezeq. 9; Mat. 7:21-23). O escritor evangélico Leão Morris assinalou que:
"...é digno de notar que a gente que se surpreenderá naquele dia não são os forasteiros, a não ser os que se acreditam salvos na igreja".

"Pois É Chegada a Hora do Seu Juízo" (Apoc. 14:6, 7)
O anúncio do primeiro anjo, de que chegou "a hora" do juízo de Deus, serve de resposta do céu à perseguição da besta. No plano de Deus chegou o tempo do dia do acerto de contas, e este juízo pode entender-se de duas formas que se complementam.
A frase "é chegada a hora do seu juízo" pode aplicar-se ao juízo executivo de Deus, tal como se descreve em Apocalipse 14:14-20. O tempo gramatical perfeito "chegou" exerce então a função de um "perfeito profético" (um tempo passado para descrever um evento futuro, usado com freqüência pelos profetas de Israel) para enfatizar a certeza absoluta de seu cumprimento (ver, por ex., Jud. 14, RA, BJ; CI; JS).

João também usou o perfeito profético ("adoraram o dragão") duas vezes em Apocalipse 13:4. Desta perspectiva, o primeiro anjo anuncia o juízo vindouro na segunda vinda de Cristo que descreve na visão seguinte (14:14-20), perspectiva que interpreta "a hora do juízo de Deus" como a execução do juízo da segunda vinda de Cristo. Ellen White reconheceu esta aplicação quando conectou a "colheita da terra" com a mensagem do primeiro anjo: "A mensagem do primeiro anjo de Apocalipse 14 [em Apoc. 14:6, 7], anunciando a hora do juízo...".

A segunda forma considera primeiro a conexão com Daniel 7. Joyce G. Baldwin nos recorda que "o marco de Daniel 7 é juízo". Daniel tinha contemplado a sessão do tribunal na sala do trono celestial (Dan. 7:9, 10), depois que o "chifre pequeno" completou sua perseguição dos santos (vs. 25, 26). Só quando terminou este juízo celestial, "um como um filho de homem" veio "com as nuvens do céu" para receber o domínio sobre este mundo (vs. 13, 14). Até a frase "sentado sobre a nuvem, um semelhante ao Filho do Homem" em Apocalipse 14:14 está adotada diretamente do Daniel 7:13 e não dos Evangelhos, o que indica que João tinha a Daniel 7 especificamente em mente quando escreveu as visões de juízo de Apocalipse 14.

Uma comparação estreita indica que a proclamação do anjo, "é chegada a hora de seu juízo ", é paralela à cena do juízo no céu da visão de Daniel, quando "assentou-se o juízo, e abriram-se os livros" (Dan. 7:9, 10). Ambas as visões de juízo formam a cena preliminar antes que venha o Filho do Homem. Por conseguinte, coincidimos com a observação de Doukhan com respeito a este ponto:
"A visão do Daniel 7 e as mensagens dos três anjos de Apocalipse 14 estão situados ao mesmo nível na linha profética. Coincidem o juízo no céu predito em Daniel 7 e a proclamação dos três mensageiros de Apocalipse 14".

A forma como se desloca o foco central de atividade em Daniel 7:8-14 (da terra ao céu, outra vez à terra, e de volta ao céu) indica que a sessão de juízo no céu "começa enquanto o chifre pequeno está ainda ativo e, portanto, precede o fim". Em resumo, Daniel prediz um juízo denominado pré-advento (anterior ao advento) em um tribunal celestial de justiça onde se colocam os tronos e se abrem os livros. O propósito deste tribunal celestial também é claro pelo contexto daniélico. Pronuncia-se o veredicto "não só com respeito à força perseguidora mas também com respeito aos santos". Os santos, caluniados e condenados pelo iníquo chifre pequeno, entram no juízo para obter vindicação: "Até que veio o Ancião de Dias e fez justiça aos santos do Altíssimo; e veio o tempo em que os santos possuíram o reino" (Dan. 7:22). Que tranquilizador é para os santos que sofrem a perspectiva deste juízo de vindicação!

Quando a mensagem do tempo do fim de Apocalipse 14:6-12 ficou ativada na história da igreja, começou a época final do tempo, "a hora de seu juízo veio [em gr., élthen]". Se se tomar o juízo para referir-se ao tribunal celestial do Daniel 7:9 e 10, então o tempo passado, "chegou", encaixa bem em seu sentido literal. Anuncia que Deus começou a fase final da história da salvação, que começou a sessão do tribunal no céu. O significado literal da frase "vinda é a hora do juízo", em Apocalipse 14:7, anuncia a iniciação do juízo de Deus anterior ao advento na sala do trono celestial.

Este acontecimento novo no céu deve ser proclamado na terra, o que encontra uma analogia com o dia de Pentecostes em Atos 2. Desde esse dia os apóstolos anunciaram com valentia que Jesus de Nazaré tinha sido entronizado nas cortes celestiais como Rei e Sacerdote (At. 2:33, 36). Como evidência convincente desta entronização celestial de Cristo, apontaram a evidência inegável do derramamento do Espírito de Deus sobre os israelitas crentes em Cristo (v. 33, "isto que vedes e ouvis").

Essa manifestação dramática sobre a terra era a evidência da obra de Cristo no céu. Iniciou a missão apostólica com poder sobrenatural. Este modelo de causa celestial e efeito terrestre no começo da era da igreja, repetir-se-á em uma proporção mundial no tempo do fim (Apoc. 10; 14; 18:1-8).

As visões de Apocalipse 12 a 14 mudam seu foco em forma regular entre o céu e a terra, como é o caso em Daniel 7. Doukhan observou quatro passos ou movimentos alternados entre o céu e a terra em Apocalipse 12 a 14,21 o que significa que a história da terra está associada com movimentos correspondentes no céu. A tríplice mensagem de Apocalipse 14 coincide com a sessão do tribunal celestial de Daniel 7, que conclui com a vinda de "um como um filho de homem... com as nuvens" para receber o domínio eterno sobre a terra (Dan. 7:13, 14). À terminação da missão da mensagem dos três anjos aparece o daniélico "um semelhante a filho de homem", sentado sobre "uma nuvem branca", para segar a terra e executar a sentença do juízo de Deus (Apoc, 14:14-20).
Este paralelismo surpreendente entre Daniel 7 e Apocalipse 14 não foi levado a sério em muitos estudos apocalípticos modernos. Entretanto, esta correlação é a chave para descobrir a mensagem e o mandato do tempo do fim. O anúncio do primeiro anjo que diz que "vinda é a hora" do juízo de Deus, deve relacionar-se com a sessão do tribunal de Daniel 7. Este é o ponto decisivo para entender a urgência da tríplice mensagem.

A proclamação final do evangelho eterno está irrevogavelmente conectada com o começo do juízo de Deus anterior ao advento tal como se descreve em Daniel 7. Estas são más notícias só para os perseguidores dos santos. Entretanto, como o explica W. G. Johnsson, "para o crente, o conhecimento de que estamos no tempo do juízo comunica esperança e a perspectiva de nosso lar eterno. Apocalipse 14:6 e 7 são boas novas para nós, porque mostra a Deus atuando como o árbitro moral do universo".
A verdade presente não é por mais tempo simplesmente a perspectiva do dia vindouro do juízo, como pregou Paulo (ver At. 24:24, 25;17:31). O primeiro anjo anuncia que a "hora" da reunião celestial precede a hora da ceifa do mundo (Apoc. 14:15). Ambas as "horas" em Apocalipse 14:7 e 15 designam diferentes e sucessivos períodos de tempo no juízo de Deus; primeiro vem a fase preliminar do juízo no céu (Apoc. 14:7; Dan. 7:9, 10), seguido pelo juízo executivo na vinda do Filho do Homem (Apoc. 14:15; Dan. 7:13, 14). Assim que a transladação dos justos vivos à glória e a ressurreição dos que morreram em Cristo segue ao veredicto do juízo que acaba de preceder. Esta ordem consecutiva volta a ser apresentada por Daniel em sua conclusão:
" E, naquele tempo, se levantará Miguel, o grande príncipe, que se levanta pelos filhos do teu povo, e haverá um tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até àquele tempo; mas, naquele tempo, livrar-se-á o teu povo, todo aquele que se achar escrito no livro. E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna e outros para vergonha e desprezo eterno" (Dan. 12:1, 2).

A perspectiva de Daniel se estende além da sessão de juízo como o dia de acerto de contas: leva-o à grande restauração do Reino por meio da ressurreição dos mortos. Disse Gerhard F. Hasel:
"Por conseguinte, a grande culminação do livro de Daniel não é o juízo, tão importante como é para os propósitos redentores do povo de Deus. Antes, tudo leva à ressurreição e à nova era com o reino eterno já em existência. No plano de Deus, o juízo anterior à vinda da nova era está designado para levar salvação aos que são verdadeiramente seus".
Dessa forma, Daniel 12:1-3 procede em descrever o juízo final (os mesmos livros de registro em Dan. 12:1 e em 7:9, 10) até a vindicação final dos santos, sua ressurreição à vida eterna e o gozo no reino dos céus.

A Confirmação do Novo Testamento de um Juízo Pré-Advento
A ordem consecutiva: avaliação e execução no juízo de Deus, está também contida na promessa de Jesus a respeito da ressurreição dos mortos:

"E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal, para a ressurreição da condenação" (João 5:29).

Por este meio Jesus indicou que as pessoas serão ressuscitadas não para ser julgadas mas sim como resultado do veredicto do juízo de Deus. A ressurreição à vida e a ressurreição à condenação são claramente duas ressurreições diferentes, representando os que foram separados previamente pelo juízo avaliador de Deus. Jesus apontou a esta sequência quando explicou que os que participem da ressurreição dos mortos, primeiro foram "tidos por dignos" (Luc. 20:35). A ressurreição à vida ou à morte é a execução da consideração judicial anterior de Deus. Quando Cristo retorne na glória divina, vem "para recompensar a cada um segundo as suas obras" (Apoc. 22:12; ver Mat. 16:27), "para fazer juízo contra todos" (Jud. 15).

As descrições paulinas dos acontecimentos durante a segunda vinda de Cristo em 1 Tessalonicenses 4:16 e 17 e 2 Tessalonicenses 1:7-10 não sugerem nenhum processo judicial. Samuele Bacchiocchi fez esta inferência que é válida:
"A vinda de Cristo é seguida imediatamente, não por um processo de juízo mas sim pelo ato executivo de Cristo de ressuscitar e transformar os crentes e de destruir os incrédulos. Qualquer processo de avaliação e determinação de cada destino humano já tomou lugar".

O motivo principal para um juízo pré-advento se encontra no fato que os mortos foram julgados "pelas coisas que estavam escritas nos livros" (Apoc. 20:12). Os mortos não precisam estar presentes em pessoa para ser julgados no tribunal do céu.

Na compreensão adventista, o juízo pré-advento ou juízo investigativo de Daniel 7:9-11, 13 e 14 está identificado com a profetizada "purificação" ou justificação do santuário celestial durante o tempo do fim (Dan. 8:14, 17, 19). Esta conexão provê o registro temporário do juízo pré-advento, de maneira que a última geração que será julgada durante sua vida possa estar advertida de antemão!

O que é de importância fundamental para a igreja hoje não é possuir um conhecimento abstrato do juízo final de Deus ou de seu momento exato na história da salvação, mas sim a convicção de que uma fé salvífica em Cristo será ratificada no juízo final. Paulo expressou este discernimento evangélico do juízo final quando disse: "Agora pois, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus... Quem acusará aos escolhidos de Deus? Deus é o que justifica" (Rom. 8:1, 33). Só os que estão sem Cristo serão condenados. O pensamento deste juízo divino é o pensamento mais solene da mente humana. Felizmente, o anjo de Apocalipse 14 centra primeiro nossa atenção no evangelho eterno porque só isto garante a justificação do homem no tribunal celestial.

Hans K. LaRondelle
Nota: postaremos no seguimento a 2ª mensagem angélica. Se gostou fique atento/a. Breve postarei.
A 3ª mensagem já foi postada VEJA

José Carlos Costa, pastor

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